Capítulo 73

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Aviso: conteúdo sensível, ansiedade, aborto, transtorno pós traumático e bipolaridade. Pode causar gatilhos. (Mais uma vez, nada muito explícito, mas sempre bom avisar)

Ana Schmidt


— Maya, por favor. -Pedi para a jovem sentada à minha frente. - Você não pode guardar tudo para si, sei que não nos conhecemos direito, mas pode confiar em mim.

A morena cruzou os braços e bufou, era sua terceira visita só essa semana.

— Pode me dar o comprovante de comparecimento? -Ela estendeu a mão.

Óbvio, ela só veio até aqui para matar aula, todos eles faziam isso. Adolescentes são mesmo impossíveis, essa era minha segunda semana na escola nova e eu já estava odiando, odiando demais.

Mas Maya, mesmo com sua marra toda, ainda parecia ser uma garota legal. Lembrava bastante minha irmã, no quesito personalidade. Falava firme, sem papas na língua. Só que eu já convivi bastante com pessoas assim -eu sou uma pessoa assim- para saber que é tudo uma máscara, algo a ser usado para disfarçar o que tem lá no fundo.

Por isso, resolvi tentar um tratamento alternativo com Maya.

Cruzei os braços, imitando sua posição.

— Não. -Falei simples.

— Não? -Perguntou frustrada. - Como assim não?

— Não vou te dar o comprovante enquanto você não me der uma resposta sincera. -Disse séria e comecei a encarar minhas cutículas.

Ela bufou de novo e bateu na mesa.

— Eu preciso do comprovante!

— E eu preciso de uma resposta sincera. -Repeti, sem olhar para ela.

A jovem se jogou de volta na cadeira e cruzou os braços, olhei para o relógio só para constatar que já tinha passado da hora de ir embora e soltei um suspiro. Minha vontade era de ficar aqui até conseguir algum avanço, primeiro porque ela realmente precisava, segundo porque eu queria ajudar. Só que não podia prender ela muito além do horário.

Acabei pegando na gaveta da mesa um comprovante e assinando. Ela sorriu convencida, mas antes que pudesse tomar da minha mão, eu o puxei de volta.

— Te vejo amanhã. -Avisei.

— O quê? -Perguntou frustrada. - Amanhã?

— Ah sim, amanhã. -Lhe entreguei o papel. - No mesmo horário.

Ela levantou com pressa e saiu disparada da sala.

Agora sozinha, me debrucei sobre a mesa e soltei um longo, longo suspiro. Estava exausta e não fazia nem quinze dias que comecei nessa escola. Olha, prefiro mil vezes lidar com prisioneiros do que com adolescentes.

Maya, em particular, estava me dando um tremendo trabalho. Segundo as anotações da antiga conselheira, ela era uma menina impulsiva, que acabava se metendo em muitas brigas, mas que por ter em casa uma família problemática, as pessoas acabavam passando a mão na cabeça. Bom, isso era o que a antiga psicóloga falava, mas eu acho que há algo mais.

Já tinha lidado com pessoas difíceis demais para saber que Maya era só... incompreendida, talvez?

Mas não vou desistir fácil, como a psicóloga anterior que, ao que parece, se conformou com respostas simples e no final só entregava o comprovante de comparecimento.

Só que eu lidei com o Soldado Invernal e com o próprio deus da mentira, então não há motivos para adolescentes me tirarem o sono.

Né?

Two Passions, One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora