Capítulo 59

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Aviso: conteúdo sensível, baixa autoestima, dependência emocional, insuficiência, ansiedade, bipolaridade, ciúmes e carência. Tudo de forma sutil, mas que pode, de alguma forma, ativar gatilhos. (Maior capítulo até agora, mais de 5 mil palavras.)

Ana Schmidt

Falar de sentimento é a coisa mais difícil do mundo, ainda mais para as pessoas que você gosta. Sei disso porque em tantos anos como psicóloga, antes de ingressar na psicanálise, eu atuei por um tempo no consultório. Lá eu tratei pessoas com todos os tipos de problemas, que iam desde a perca do animalzinho de estimação, até uma sobrevivente de violência doméstica.

Mesmo o paciente mais extrovertido, ainda tinha um pouco de dificuldade na hora de se abrir. Seguia até um certo padrão, nas primeiras consultas eles sempre ficavam travados, contidos, respondendo minhas perguntas quase que no automático.

Quando Loki ainda estava preso na SHIELD, lembro que ele fez exatamente a mesma coisa. Sempre reservado, é claro, bem mais teatral que a maioria dos meus outros pacientes, mas não fugiu desse padrão. As primeiras visitas foram complicadas, depois ele passou a tolerar minha presença, em seguida começamos a conversar e viramos amigos. Lógico que a diferença dos meus outros pacientes e Loki, é que eu não me apaixonei por nenhum deles.

Quando admiti para mim mesma que gostava dele, sabia que estava me metendo numa furada. Loki, o deus da trapaça, asgardiano, o cara que invadiu Nova Iorque, um ser narcisista, egoísta, hedonista e que tem sérios problemas com o pai? Essa não parece ser a pessoa adequada para engatar um relacionamento, ainda mais eu, que sempre fui criteriosa com as pessoas que deixo entrar na minha vida.

Mas Loki podia ser isso tudo e até mais, só que ele me apresentou um lado seu que nunca imaginei ver. Além de ser o amante perfeito, quando se esforçava, Loki poderia ser muito carinhoso e até um pouco romântico. Não do jeito que os caras costumeiramente são, não, Loki era diferente.

Diferente porque o carinho dele não vinha em forma de mãos dadas ou declarações nas redes sociais, sua forma de demonstrar afeto era perceptível em pequenos gestos. Grande exemplo disso é quando eu penso em um objeto, tipo meu óculos escuro, e ele magicamente brota na minha testa, ou quando Loki simplesmente deixa a cozinha impecável para que ninguém precise lavar a louça.

De verdade, esses atos me conquistavam mais a cada dia, tudo que ele fazia me conquistava.

Mas tem um grande problema.

Hoje antes do jantar, um medo avassalador me atingiu. Quando Loki ficou visivelmente chateado com o beijo entre Bucky e eu, meu coração apertou só com a possibilidade de perde-lo um dia. E isso foi assustador.

Assustador porque não é saudável.

Não culpo a ansiedade por me fazer imaginar e temer o que seria de mim caso Loki resolva ir embora. A culpa é exclusivamente minha por ter negligenciado tanto minha saúde mental, a ponto de me ver tão dependente de um homem, como estou de Loki.

E a culpa também é minha por ter me deixado desenvolver sentimentos por Bucky.

Apego, carinho, afeto e, principalmente, atração, são coisas que eu sempre senti pelo sargento, nunca tive medo de admitir isso. Só não queria deixar transparecer, para que ninguém interpretasse errado, não queria que Loki cogitasse que eu estava me apaixonando por ele, mesmo que isso lá no fundo fosse verdade. E também não queria que Bucky se sentisse correspondido, sei que ele tem sentimentos por mim e não queria que, de alguma forma, ele se iludisse.

Porque, principalmente, eu estou tão confusa com tudo, tão fragilizada emocionalmente, tão incerta sobre o que sinto e também sobre o que sou, brava comigo mesma por estar agindo pela primeira vez na vida como uma namorada ciumenta e apegada.

Two Passions, One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora