a fotinha do meio é o visco
Ana Schmidt
O trabalho como psicopedagogo, que é o que sou no momento, acaba sendo até mais desgastante do que ser um psicanalista de prisioneiros de segurança máxima. Primeiro que lidar com psicopatas, após um tempo, você cria experiências e monta um padrão no atendimento, depois é só traçar o perfil e determinar quais as abordagens utilizar, que na grande maioria é a mesma, ser comunicativo, agradá-los, eles gostam de atenção, de estrelato, de serem bajulados e por muito tempo isso deu certo.
Agora adolescentes?
São imprevisíveis, surpreendentes, determinados, muitas vezes partem para os insultos, ou para a negação, mas nada que eu já não tivesse lidado antes, então acabava sendo tolerável –não aceitável- a maneira com que Maya tem reagido as consultas.
Mas eu já tinha entendido que com ela, conversas normais não dariam certo, por isso sempre optei por abordagens alternativas, em que muitas vezes eu falo mais que ela, porém, estava surtindo efeito.
No final das contas, ela acabava me ensinando mais do que eu a ela. Ora, minha adolescência não foi das melhores, mas eu tive o conforto de crescer num lar saudável, com pais que me amaram e me educaram, uma irmã que se dá bem comigo, mesmo que não sejamos próximas hoje em dia. Agora Maya vive num lugar bem diferente, o que me leva a crer o quanto sou privilegiada por ter crescido daquele jeito.
E, é claro, me leva a compreender os motivos dela ser assim. Dentro de casa mesmo, tenho um ótimo exemplo de como uma infância traumática pode influenciar na vida adulta.
Por sorte, Loki conseguiu mudar e aprender com seus erros do passado.
Pensava sobre isso quando subia no elevador de casa tremendo de frio, porque nevava e mesmo que eu estivesse usando algumas camadas de roupa, não era o suficiente para me aquecer.
Ao abrir a porta do apartamento, muitas coisas me surpreenderam. A primeira foi o calor do aquecedor, que me envolveu por completo, me dando um grande alívio, depois mais duas caixinhas de presente embaixo da mini árvore de natal, o papai Noel verde, o visco pendurado, mas, principalmente...
Loki e Bucky enrolados num mesmo edredom no sofá, com as pernas se tocando, tão tranquilos que me assustou.
Quero dizer, isso não devia me surpreender, não quando se tem um relacionamento como o nosso, mas não pude disfarçar minha cara de surpresa. Afinal, Loki não era lá alguém que ficava assim, e principalmente Bucky, que sempre fugia com as aproximações do príncipe.
Mas, antes que eles pudessem reparar meu choque, engoli em seco e resolvi tratar como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.
Porque era, para a gente era.
— Eu separei seu pijama. –Loki anunciou. – E meias, muitas meias.
Tirei meu casaco lentamente, pendurando ele no ganchinho junto com a bolsa e deixei a sacola com os livros no chão mesmo, próximo à entrada.
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Two Passions, One Love
FanfictionQuando Ana recebe a tarefa de ser a terapeuta particular do deus da mentira, pensa que essa seria a missão mais difícil da sua vida. Quando ela se vê completamente apaixonada por ele e disposta a abrir mão de sua carreira perfeita por quebrar todos...