Capítulo 74

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Aviso: conteúdo sensível, ansiedade e MUITA FOFURA.

Ana Schmidt

— Faremos algo diferente hoje, Maya. -Falei para a adolescente, que me encarava com cara de poucos amigos. - Vou te contar uma coisa sobre mim, você me diz se acha que é verdade ou não. Depois você me conta uma coisa sobre você e eu digo se é verdade ou não.

Vi a confusão estampar a face da garota, mas algo em seus olhos mudou. Acredito que nunca tinha participado de dinâmicas alternativas, mas eu estava mesmo disposta a ajudar ela.

— Como vou saber se você está mentindo ou não? -Perguntou em tom de desafio.

Sorri para ela, pois vi que estava entrando no jogo. Acabei relaxando no encosto da cadeira e descruzando os braços, isso daria a ela a sensação de liberdade.

— Bom, você não vai saber, terá que confiar em mim. -Aumentei o sorriso. - E eu também não vou saber se você está sendo sincera, então estamos quites.

Ela descruzou os braços, o que me fez ter certeza que estava mesmo entrando na brincadeira.

— Então comece. -Deu de ombros. - Duvido que sua vida seja tão interessante, não tem nada que possa me surpreender.

Quase gargalhei.

Ah, Maya, se você soubesse...

— Vou começar com algo simples. -Suspirei enquanto imaginava o que poderia dizer. - Por baixo dessa camisa social, eu tenho os braços fechados de tatuagem.

Ela arregalou os olhos.

— Isso é claramente mentira! -Acusou.

— Por que acha isso? -Perguntei curiosa, porque sua reação foi muito espontânea.

— Porque você não parece ser tão legal a ponto de se encher de tatuagens. -Deu de ombros. - Nunca vi nenhum psicólogo com tatuagens!

Aquilo, particularmente, me ofendeu. Mas optei por rir e aproveitei a brecha, para perguntar:

— Então você conhece muitos psicólogos?

Maya arregalou os olhos de novo, me fazendo sorrir convencida.

— Isso não é justo, você me manipulou.

Foi a minha vez de dar de ombros.

— Sua vez, mocinha.

Ela bufou irritada e cruzou os braços.

— Eu tenho quatro irmãos. -Maya disse, virando a cabeça para me encarar.

Essa era uma verdade que eu já sabia. E ela sabia que eu sabia, estava na sua ficha, então usou de propósito. Mas não me deixei abalar, fingi surpresa.

— Acho que é verdade.

— Sim, é sim. -Respondeu longe. - Sua vez.

— Eu tenho uma irmã. -Falei, vendo ela virar lentamente para me encarar. - Uma irmã mais nova. -Completei.

Maya me olhou de cima a baixo, de sobrancelhas franzidas, mas por fim, suspirou e disse:

— Acho que é verdade.

— Está correto, sua vez.

Parando de me encarar, Maya bufou. Ela sempre bufava, o que me lembra alguém. Esse pensamento me fez sorrir, mas logo escondi e abaixei a cabeça. Maya demorou mais que alguns poucos segundos antes de respirar fundo e dizer:

— Eu sou lésbica. -Falou sorrindo.

Não disfarcei o espanto, o que só aumentou seu sorriso. Mas ela não era lésbica, não. Confiei fielmente no meu gaydar para afirmar isso:

Two Passions, One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora