Capítulo 71

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Ana Schmidt


Revigorante andar pelas ruas de Nova Iorque sem ter que me preocupar em ser presa a cada esquina que virava. O ar era frio, mas estava bem protegida por um casaco grosso, lenço, botas e só faltava uma touca para parecer um esquimó. Não era inverno ainda, mas sim finzinho de outono, o que é suficiente para todo mundo tirar seus agasalhos mais grossos do armário.

Comigo não foi diferente, ainda mais por ter ficado tanto tempo numa cidade que nunca chove, encontrar a brisa gelada de Manhattan foi um grande alívio. Essa foi a primeira vez que saí sozinha de casa, depois de duas semanas num isolamento imposto por Loki e Bucky, que decidiram, de repente, que meu repouso pela cirurgia devia se estender pelo tempo que eles determinaram.

Foi uma luta conseguir sair, mas eu precisava. Ora, eu os amo mais que tudo, mas o apartamento é pequeno, se eu ia para a sala, via Loki sentado no sofá, se ia para o quarto, Bucky estava vendo televisão. E eu estava ficando sufocada. Em partes porque precisava ficar sozinha, assim, literalmente sozinha com meus pensamentos, depois porque eu realmente estava precisando ir ao salão de beleza.

Mesmo ainda estando desempregada, me dei o luxo de marcar um dia completo com tudo que tem direito num dos melhores salões do bairro. Lógico, tento isso desde que cheguei, mesmo antes de ter conseguido desbloquear minhas contas, visto que, graças a Deus (ou Steve) que meu nome não estava sujo.

O que foi ótimo, pois assim seria mais fácil conseguir comprar uma casa no Maine, se decidirmos mesmo nos mudar.

E lá estava a ansiedade de novo, me fazendo imaginar coisas completamente avulsas.

Entrei no salão e fui recebida por um cheiro forte de produtos químicos, o que antes me incomodaria, mas agora, depois de tanto tempo sem pisar num lugar desse, só me fez sorrir.

— Bom dia, eu tenho alguns horários marcados. –Falei para a recepcionista. – Na verdade, eu tenho quase todos os horários marcados.

A moça baixinha e sorridente atrás do balcão digitou alguma coisa no notebook.

— Ana Schmidt? –Ela perguntou e concordei. – Você marcou quase todos os procedimentos. –Disse e deu uma risadinha.

Ela se levantou e me chamou para acompanha-la. Entramos mais afundo no ambiente, onde várias cadeiras de cabelereiro estavam enfileiradas em frente a espelhos, com moças e rapazes trabalhando por lá, com seus secadores a postos, os clientes teclavam nos celulares, fofocavam entre si, enquanto uma música baixinha tocava ao fundo.

Essa visão, de um local tão normal, onde estava tudo em paz, na medida do possível pois era um salão e nada está realmente em paz num salão, quase me fez lacrimejar. Porque depois de tanto tempo, voltar a essa vida de futilidades era tudo que eu nem sabia que queria.

— Bom dia, querida. –Um homem loiro veio ao nosso encontro. – Me chamo Danny, seu cabelo está nas minhas mãos hoje.

— Espero que tenha mãos boas. –Falei sorrindo.

— As melhores. –Foi a recepcionista que respondeu.

Ele me direcionou para uma cadeira de couro em frente ao espelho gigante na parede, antes de sentar, tirei meu casaco e o lenço, pendurando nos ganchinhos ali perto.

— Que tinta é essa? –Danny perguntou, pegando numa mecha do meu cabelo.

— De verdade? Eu não faço ideia. –Falei rindo.

— Quer manter o ruivo?

— Se der para voltar para a cor natural, eu ficaria muito feliz. –Indiquei. – E não corta muito, se possível, estou deixando crescer.

Two Passions, One LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora