Noah é calmo, trabalhador e talentoso na cozinha - seu maior sonho é ter um restaurante próprio. Embora pareça transparente, guarda um lado oculto que evita revelar. Any, jovem professora determinada, é admirada por sua força e beleza, mas à noite...
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NOAH URREA
Trabalhar no Hel'as tinha seus encantos, confesso. Em apenas dois dias, já decorei o nome do senhor idoso que aparecia sorrateiro, fugindo da esposa para tomar uns goles: seu Alfredo, 78 anos, casado com dona Melinda há 53. Meio século ao lado de uma pessoa — dá pra imaginar? Provavelmente era um amor tão sólido, tão verdadeiro, que resistia ao tempo. Era o tipo de coisa que fazia o coração acelerar só de pensar, o quão lindo isso é e ainda existe. Ele mesmo me disse isso, com um brilho nos olhos, mas também abriu o coração sobre as tempestades que enfrentaram.
Contou que tiveram três filhos, um deles arrancado da vida ainda adolescente, num acidente de carro. Uma tragédia que poderia ter destruído tudo, mas, com eles, não foi assim. A vida seguiu, mesmo com cicatrizes.
Seu Alfredo parecia ser aquele cara que você julga à primeira vista, pensando que vai ser um pé no saco, mas aí ele puxa papo, e, de repente, você está completamente fisgado. A conversa dele era leve, despretensiosa, carregando uma sabedoria que te fazia parar e refletir. Em dois encontros, me fez rir com histórias absurdas e quase chorar com outras que me deixaram sem palavras. Gostei demais do velho. E o motivo dele aparecer toda noite? Dizia tomar uns drinks para "espairecer" e, de quebra, adorava provocar dona Melinda.
— Um verdadeiro implicante que eu sou, mas ela continua me amando. — ele disse, com um sorriso travesso.
Antes de ir embora, perguntei por que ele não frequentava um bar comum, desses só literalmente pra encher a cara. Ele riu e confessou que aqui tem "mulheres bonitas pra se ver". Velhinho safado, pensei na hora. Mas logo ele emendou, com um tom que misturava humor e devoção, que, apesar de olhar as mulheres, quando chegava em casa, "o pau dele ainda sobe somente por sua esposa, Melinda" — palavras literais dele.
Gargalhei alto e, com um aceno e uma gorjeta generosa, foi embora. Agradeci, claro, enquanto o seguia com os olhos até a porta, pensando que envelhecer deveria ser assim: com histórias, leveza e um amor que não desbota.
Acusava sempre a Any de ser uma romântica incurável, mas, talvez, no fundo, eu também seja um pouco.
O movimento no bar estava tranquilo, quase morno. Sem jogo, a vibe era meio apagada. Jonah e eu seguimos atendendo, enquanto Heyoon avisou que amanhã a boate não abriria. Logo Marais me chamou pra perguntar meus planos e possivelmente sairmos, acrescentando o convite de irmos à uma festa na casa do Daniel, amigo dele. Topei na hora. Agora já podia voltar à minha vida comum de rolês aqui e ali. Mandei mensagem pro meu primo e Lamar, mas o Morris não iria poder. Uma pena.
Ele era a alma das nossas saídas, misturado com meu primo, odiava as zoeiras quando se referiam a mim, mas as demais, eu gostava.
— Acha que das meninas irem conosco? Será que topariam ir? — indaguei, enquanto limpávamos o balcão.
— Cara, acredito que sim. Elas adoram uns rolês, sempre topam tudo, pelo que as conheço. Você deveria saber as conhece melhor que eu. — Jonah respondeu risinho.