III. O de sempre

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As coisas pareciam estar indo bem. Desde que Azula havia retomado os estudos, Ty Lee se sentia mais tranquila quando precisava deixá-la sozinha. Embora normalmente Azula fosse se ocupar com o estúdio de tatuagem, era reconfortante vê-la recuperar a ambição, especialmente depois dela voltar empolgada da primeira aula por ter a oportunidade de se formar em seis meses.

— Eu sabia que você conseguiria! — disse Ty Lee ao praticamente pular nos braços da namorada.

— Tecnicamente, ainda não consegui — Azula respondeu —, mas você está certa: eu vou.

Era o tipo de arrogância (ou confiança, dependendo do ponto de vista) que lhe caía bem. Ty Lee gostava de vê-la assim, com o brilho da determinação no olhar. O fogo interior que ela geralmente só vislumbrava em seus momentos a sós, mas sabia que estava sempre adormecido em Azula, como um vulcão se preparando para uma erupção.

Ainda assim, haviam pendências que a preocupavam. Mesmo com tudo que elas haviam superado juntas, Azula não se abria muito sobre o próprio passado, exceto pelas memórias que a mostravam no seu melhor ângulo. Ty Lee sempre confiou que ela faria isso em seu próprio tempo e nunca quis pressionar, mas os meses passavam e Azula sequer tocava no nome da mãe. Além disso, ainda evitava os amigos de Zuko ao máximo, embora não causasse mais atritos quando esbarrava com eles por acaso. Ty Lee, por outro lado, havia se aproximado deles através de Suki e Mai. Mesmo em dias que Azula preferia não sair com ela, Ty Lee se encontrava com os novos amigos dentro e fora da casa de chá do Iroh. Parte dela sentia como se cometesse uma traição, embora esses encontros não fossem nenhum segredo.

— Ty Lee, eu não ligo. — Azula revirou os olhos e mudou a página da revista que folheava com desinteresse. — Você é livre pra fazer amizade com qualquer criatura que quiser, mesmo as que estão claramente abaixo do seu nível.

— Eles são bem legais — Ty Lee respondeu. — Você deveria dar uma chance pra eles.

— O que eu deveria é passar fio dental três vezes ao dia. Além disso, acho que você está trocando as bolas. Eu que sou a persona non grata da situação — ela disse, com um leve sorriso de satisfação e não o tom de auto depreciação esperado.

Não tinha jeito. O tópico era igualmente desconfortável com Zuko, Aang, Katara, Sokka e Toph. Eles dançavam ao redor do elefante no meio da sala com uma habilidade invejável, fazendo malabarismos para demonstrarem interesse na vida de Ty Lee sem gerar desconforto, o que quase nunca dava certo.

— Como vai a sua namorada? — Aang perguntou, com um sorriso um pouco grande demais.

— Ela anda focada nos estudos. Têm sido bom pra ela.

— E ela já mencionou se pretende fazer faculdade? — Zuko parecia um pouco menos tenso que o resto, mas ainda evitava o nome como um palavrão perto dos amigos.

— Ela demonstrou interesse, mas tem sido reservada sobre as opções.

— Faz sentido. Conhecendo minha irmã, ela não vai querer mostrar as cartas antes de estar aprovada no que ela quer.

— É, acho que nós já sabemos o quanto a Azula detesta fracasso — murmurou Katara.

— Maninha, sei que você é quem normalmente cozinha, mas deveria deixar as tortas de climão comigo — Sokka respondeu entre dentes.

— Relaxa, Sokka. A Ty Lee sabe da história inteira. Chega de pisar em ovos, certo? — Toph interveio com as mãos atrás da cabeça. Ninguém soube o que responder de imediato, então passaram vários segundos se entreolhando. — Ok, se vão ficar em silêncio ao menos me avisem se estão me encarando ou não. E ainda nesse tópico, Sokka precisa parar de mandar imagens sem descrição no grupo de conversa.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora