Embora ela tivesse dúzias de cartelas de adesivos (holográficos, 3D, com efeito metálico, edição limitada, purpurinados, entre outros) à sua disposição, Mai havia colado exatamente um deles no papel branco em sua frente. Era uma caveira. Bom, ao menos ela tinha olhos em formato de coração e detalhes fofos, o que era de se esperar numa coleção de adesivos da Ty Lee. Até as coisas assustadoras precisavam passar pelo seu filtro rosa até se tornarem palatáveis.
Ty Lee continuou focada em seu artesanato, recortando papéis coloridos e decorando espaços vazios com seus carimbos especiais. Ela sabia que aquele não era o tipo de hobby da sua melhor amiga, mas Mai costumava ao menos fingir tentar com suas colagens. Daquela vez, ela nem havia tocado nos adesivos de morcegos que Ty Lee havia comprado especialmente para a ocasião.
— Se você precisa de uma brecha pra falar o que tá segurando, melhor contar logo — disse Ty Lee, tentando manter um tom casual enquanto procurava pelo pote de purpurina azul.
Mai suspirou. Ela pegou a cartela de adesivos mais próxima, como se sua agitação fosse por não saber o que colar junto da caveira.
— Eu só queria saber o que você vê na Azula.
O comentário fez Ty Lee parar o que fazia completamente e cruzar as pernas de frente para a melhor amiga. Ela não estava com raiva, apenas cansada de ter aquele mesmo debate de sempre.
— Você disse que não tinha problema com o nosso namoro.
— Eu sei. Quando todo mundo disse que ela tinha mudado, eu quis muito acreditar. Muito mesmo. — Mai arrancou um dos adesivos e o colocou aleatoriamente no papel, mais pelo fato de precisar ocupar as mãos do que qualquer outra coisa. — Mas as poucas vezes que eu a vejo, eu fico cética quanto a isso.
— Como assim?
— Ela não trata as pessoas do passado muito melhor do que antes. Ela te trata melhor, mas isso não significa mudança. Se um dia a Azula se sentir traída por você... — Mai respirou fundo, largando a cartela para encarar Ty Lee. — Você sabe do que ela é capaz, não sabe?
Ty Lee torceu sua trança com as duas mãos, tentando conter a sensação de angústia. Ela sabia, não só por Mai, como por quase todo mundo, que Azula era vingativa. Iroh tentava ao máximo contar as memórias mais agradáveis que tinha da sobrinha, mas ele sempre terminava se lembrando de algum detalhe que transparecia a crueldade dela. Quebrar as coisas favoritas da mãe, fazer Zuko se machucar ou ser humilhado, destruir a reputação de alguma rival acadêmica; a lista era longa. Parte de Ty Lee temia sim o que poderia acontecer se ela despertasse a fúria de Azula, mas ela não queria que o namoro das duas fosse contaminado pelo medo. Se ela desse indícios de temer Azula tanto quanto os outros, sua namorada ficaria convencida de que é um monstro. Essa era a última coisa que Ty Lee queria.
— Enquanto vocês tratarem ela como uma vilã, isso é tudo que ela vai ser — Ty Lee respondeu, baixando os olhos. — Eu sei que ela não é perfeita. Pessoas não mudam do dia pra noite. Nós já conversamos sobre você não ser obrigada a perdoá-la. Se a Azula se tornar abusiva, eu te prometo que vou deixá-la, mas isso ainda não aconteceu.
Mai pôs uma mão no joelho de Ty Lee, forçando contato visual.
— Essa é a questão, Ty Lee. E se você não perceber o abuso? E se você tiver medo de ir embora? E se você insistir até o último minuto que pode salvá-la?
Ela estava certa. Ty Lee sabia disso e também duvidava da própria capacidade de abrir mão de Azula. Isso a assustava tanto que ela reprimia as preocupações a todo custo.
— Talvez eu não perceba — ela respondeu —, mas sei que você vai. Ou o Zuko, ou o Iroh, ou qualquer um de nossos amigos. Eu sei que eu sempre vou ter apoio, por isso eu confio na minha relação. Mai, eu amo a Azula. Você não pode me pedir para mudar isso por causa de algo que talvez nunca aconteça.
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A Serpente em meu Jardim
Romance[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...