Capítulo 5

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A senhora de meia idade, a quem devo a vida, abria o forno tirando dali os biscoitos.

— Mãezinha! A senhora Harriet veio nos visitar!

Subitamente, os olhos de mamãe voltaram-se para mim.

— Oh, que boa notícia! Não poderia ter chegado em melhor momento!

A travessa foi posta na mesinha da cozinha e, apressada, minha mãe correu na direção de sua amiga.

— Mariley Harriet! Seja muito bem-vinda a esta casa.

— Minha cara amiga! É sempre um gosto lhe ver.

A senhora se pôs de pé, recebendo, com todo afeto, o abraço de mamãe.

— Sente-se! Já é hora do chá.

Minha mãe retornou à cozinha e eu lhe acompanhei para ajudá-la nos preparativos. Não demorou e o chá com os biscoitos foram trazidos para sala.

A prosa foi ficando cada vez mais longa; duas horas se foram, e a professora pareceu não atentar ao olhar ansioso que eu lhe mandava.

— A senhora deseja contar a mamãe?

Por fim, não aguentei.

— Do que se trata? Conte-me tudo o que eu não escutei.

Indagou, mamãe, curiosa.

— Sim, sim, eu já ia lhe falar.

Disse a professora sorrindo.

— Thereza, trago comigo uma novidade: uma universidade importantíssima da capital abrirá algumas bolsas permanentes por mérito. Oh, como estou contentíssima! É tudo favorável para que Lisa curse licenciatura. Sabes tão bem quanto eu que nossa menina guarda consigo esta vocação. Que pouca sorte teremos se não for Elisa a me substituir na escola do condado, não acha? É certo que eu logo devo pedir a carta de descanso.

Minha mãe nada respondeu; a percebi atônita; como que levasse um choque.

—Thereza!?

A mulher à sua frente, diante de tão profundo silêncio, a chamou.

— Não conte comigo! Você sabe perfeitamente que Sebastian nunca permitirá.

Assim veio a resposta que tudo transtornou... Infelizmente, o rosto de mamãe continuava inexpressivo e pouco animador, deixando todos os meus pensamentos felizes irem embora.

— Mãe! Eu lhe imploro!

Exclamei, insistindo, tão desesperada.

— Tem certeza, minha querida amiga? Deves considerar as vantagens de um diploma para pessoas simples como nós somos.

A senhora Harriete, nada convencida, intercedia a meu favor. Fez uma pausa, na esperança de uma resposta; porém, minha mãe não estava disposta a lhe dar.

Então, mamãe se levantou abruptamente, andou de um lado para o outro na pequena sala e, de súbito, estagnou.

— Que idéia a tua Elisa!

Disse, aborrecida, com os olhos severos direcionados a mim.

— O que uma menina educada nos costumes do condado sabe sobre a capital?

Continuou.

Imediatamente, me retraí. Sempre o fazia quando sentia a repreensão em sua voz.

Em seguida, ela moderou a impetuosidade, sentando-se novamente. As mulheres se entreolharam e, minha mãe, após fitar a amiga durante alguns segundos, disse:

— Não sei o que seria dela... a capital... o mundo lá fora... céus... Elisa é excessivamente ingênua.

Mamãe mostrava-se insatisfeita com o rumo da conversa; no entanto, em seu íntimo, via também ali uma enorme oportunidade.

— Compreendo perfeitamente e lhe asseguro que Lisa teve a melhor educação dentro dos nossos costumes. Dei-lhe um voto de confiança; não é nenhuma desajuizada.

O gênio dócil da professora tentava trazer a calma necessária.

— Oh, Sebastian não permitirá.

Eu me ajoelhei em sua frente, em posição de juramento, com as mãos no peito.

— Mãezinha! Conto com sua ajuda para convencer meu pai.

— É coisa que não lhe garanto, desde já lhe aviso.

— Considere a sorte mamãe!

— Escute só... não fale como se fosse algo garantido e não a conquistar.

— É uma chance...

Naquele instante, ouvimos o barulho do trinco torcido abrindo a porta, para o crepúsculo e para o vento entrar.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora