Capítulo 69

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Ajeitando o meu bebê no colo, avancei às cegas pela calçada; eu tinha fogo na face e um tumulto enorme no coração.

Dentro da bolsa de Benjamim, peguei o papel que Dominic me dera com o endereço de sua casa.

De um ônibus ao outro, eu consegui chegar; não sei nem como eu não me perdi, foi tão penoso... um suplício; antes tivesse eu aceitado o seu dinheiro para o táxi, afinal, a culpa era toda dele.

Logo que cheguei, procurei por Dominic em toda a casa, mas ele ainda não tinha chegado.

"Não havia nada mais a fazer a não ser esperar."

Adentrei no quarto de Benjamim, buscando ali tudo que era necessário para os seus cuidados. Uma hora depois, ou um pouco mais, o bebê já havia tomado banho, sido amamentado e, naquele momento, dormia no berço.

Eu estava sem apetite, mas começava a sentir-me fraca. Depois de tomar um banho rápido e vestir um dos meus pobres vestidos, dirigi-me à cozinha.

Com algumas tentativas e erros, abrindo as portas dos armários, puxando gavetas ao acaso e resmungando para um tanto de coisas que eu nunca havia visto antes, finalmente consegui preparar alguma coisa.

Na mesa alta com tampo de mármore escolhi uma cadeira, sentando-me nela. Eu enrolava o espaguete no garfo com os pensamentos impregnados de uma multidão de hipóteses.

Do dia para noite Dominic conseguiu tornar-me uma mãe sem casa para chamar de lar e, quase ao mesmo tempo, retirou de mim o meu estudo e o meu trabalho.

Movida ainda pelo senso de justiça, subitamente, pensei que talvez não tivesse sido ele o responsável pela minha demissão... mas não houve necessidade de prolongar por muito tempo estes pensamentos, a sua aptidão natural de sempre me prejudicar, que gerou em mim a desconfiança inicial, posteriormente, deu-me a certeza. Foi ele!

Ao pensar nisso, a cólera emergiu em mim com força outra vez.

Levantei-me rapidamente, lavei tudo que eu tinha usado e, em seguida, devolvi os objetos para os seus lugares.

Fervilhando de raiva, fiquei dando voltas e mais voltas naquela imensa casa, esperando Dominic chegar, olhando a todo momento para o relógio de pêndulo na sala de estar.

O sol já se ocultava lentamente no horizonte quando Benjamim acordou. Enquanto o segurava em meu colo, mantendo minhas pernas em movimento, um pensamento me veio à mente: Alícia!

Naquele instante, com coração pesado e com a ira por Dominic me subindo cada vez mais na cabeça, tive vontade de ouvir uma voz amiga e, de alguma forma, achava, também, que devia a Alícia alguma satisfação. Naturalmente, lhe diria, de forma vaga, que não voltaria mais à universidade, passando por cima de qualquer explicação. Entretanto, ao contrário de D. Rose, que por sua gentil forma de ser não era indiscreta e não cometeria a indelicadeza de me perguntar o que eu não quisesse lhe dizer, Alícia era intrometida; e bastava eu mencionar qualquer coisa a meu respeito, que despertava nela uma curiosidade quase investigativa.

Sentada no sofá da sala, com Benjamim nos meus joelhos e o telefone na mão, a ligação foi imediata, mas não consegui falar com ela. Insisti ainda por mais algum tempo, mas Alícia não me atendia. Deixei o telefone de lado pousando-o em cima da mesa de centro com a intenção de que mais tarde lhe telefonaria novamente.

Deitei Benjamim no carrinho que eu havia trazido para a sala de estar e voltei a consultar o relógio. Irritada e impaciente comecei outra vez a andar de um lado ao outro. As horas se arrastavam e Dominic não aparecia.

Pois bem, perto das onze horas da noite o barulho do portão se abrindo e das rodas do carro de Dominic passando por ele alcançaram os meus ouvidos. Instantes depois escutei o motor do seu automóvel silenciando e, logo em seguida, o ruído dos seus passos subindo tranquilamente os degraus de pedra e se aproximando da entrada principal da casa. Antes mesmo dele abrir a porta, eu abri primeiro e, ao ver o meu rosto sério, o dele também ficou.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora