Elisa ergueu os olhos que estavam cabisbaixos e fitou-me pasmada. Não digo que eu também não me assustei com a declaração por mim feita, mas a verdade era esta, eu amava tudo nela, e ainda amo.
Em seguida, ainda muito afetada, afastou-se, sentando no sofá e, apoiando os cotovelos nos joelhos, abaixou a cabeça tapando o rosto com as mãos. Ficou assim durante alguns segundos; depois, de súbito, elevou os seus olhos para encontrar com os meus.
— Me amas então?
Perguntou.
Com o meu coração batendo desesperadamente, acenei que sim.
— Pois eu não te amo; tão pouco te estimo.
Desviei o olhar; suas palavras fulminantes me angustiaram, mas procurei manter o controle, voltando a olhar para ela.
— Terás muito tempo para me conhecer.
Sem nada dizer, Elisa se levantou com um movimento irritado e caminhou impaciente de um lado para o outro. Meus olhos, admirados e hipnotizados, acompanharam esses movimentos. Ela estava com roupas de dormir, em uma camisola que lhe acentuava muito bem seu delicioso corpo. A desejei fortemente e, dando-me conta disso, recuei um passo, encostando-me na porta.
Sem eu esperar, ela parou bruscamente e me olhou direto nos olhos.
— Escuta... achas mesmo que isto mudará alguma coisa?! Que manter-me junto a ti te trará algum resultado benéfico?!
— Verás que sim.
Balançando a cabeça em sinal de negação, disse-me:
— Pois discordo bastante. O pouco que eu te conheço, eu não gosto. Poupe o trabalho...
Quis o destino me fazer refém das palavras ríspidas com as quais ela me desafiava. A princípio, motivado pelo despeito, pensei em calar-lhe a boca com meus lábios, mas, inteiramente contrariado, não o fiz; entendi que a minha frieza premeditada e meus impulsos imaturos não eram meios de aproximação.
Sendo assim, achei melhor não lhe dar nenhuma resposta e, adiante, avisei-lhe que estivesse pronta às oito horas da manhã do dia seguinte, quando passaria em sua casa para levá-los. Ela não confirmou, nem negou, apenas chorou.
Pouco depois das onze horas da noite, estava eu subindo a passos largos as escadas da cobertura, indo direto para o meu quarto; a primeira coisa que fiz foi abrir uma gaveta de segredo, que estava no closet, para colocar ali a falsa certidão; mas, antes, detive-me por um momento a olhar para ela, observando-a com satisfação. Não conseguia conter o sentimento de triunfo, de uma alegria completa. Minhas intenções, apesar de tudo, eram as melhores.
Sem demorar na observação, enfiei o papel em uma pasta cinza (onde eu o pusera antes), escondendo-a embaixo de outros papéis. Passei acordado boa parte daquela noite, tal era o estado de ansiedade em que eu me encontrava. Levantei cedo, bem antes que o despertador tocasse; tomei banho, me vesti e desci as escadas da cobertura, dirigindo-me à mesa da sala, já posta para o desjejum.
— Vejo que estás bem-disposto, meu querido!
Constatou, sorridente, D. Charlote, enquanto, segurando o bule, derramava calmamente o chá em minha xícara.
Beijei-lhe o topo da cabeça, como sempre costumava fazer; em seguida, puxei a cadeira e me sentei perante a mesa.
— Sim, estou.
Sorri fraco, em um esforço tremendo para reprimir a minha alegria.
Terminado o desjejum, comuniquei a D. Charlote que não me esperasse naquele dia; e logo já estava no caminho para onde nunca mais eu pretendia ir: eu detestava ir naquele lugar, e detestava ainda mais saber que meu filho morava ali.
No endereço de Elisa, tomei um pouco mais de cuidado, pois era de dia e eu não contava com a escuridão da noite para me ocultar.
Olhei rapidamente nos arredores e não havia ninguém. Desci do carro; minhas mãos suavam frio e no meu pensamento passava o roteiro de toda a farsa. Desejava soar convincente e torcia para não vacilar na voz, ela não poderia nunca desconfiar.
Bati com os punhos fechados na porta e, ao contrário das outras vezes, Elisa me atendeu de pronto.
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Impossível Para Mim
RomanceDominic Metherral sabe que seu único destino é assumir o império de sua família e está preparado para isso, só não contava que seu futuro perfeito seria ameaçado ao colocar seus olhos em Elisa Collier, uma bolsista da faculdade em que estuda, e é o...