Capítulo 43

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Era dezembro, eu começava a ficar mais alegre; procurava não pensar mais nos meus pais, uma vez que as minhas tentativas de reconciliação foram mal sucedidas; mamãe não atendeu a nenhum dos meus telefonemas e, ainda assim, decidi lhe escrever.

Foi uma carta cheia de lágrimas onde eu lhe suplicava o perdão. Não lhe expliquei o motivo pelo qual estive com um homem — meus pais eram pessoas de tradições rigorosas; ai de mim se papai soubesse que o preço da sua salvação fora a venda da minha honra.

Mas, na carta, relatei toda a minha infelicidade em não os ter mais comigo, sem perder de vista a minha alegria no bebê. Esperei por dias a resposta que nunca veio.

No fim das contas, não havia nada o que fazer. Foi depois dessa conclusão que parei de lamentar e já não pensava mais neles, nem em nada que me representasse uma grande e profunda tristeza. Concentrei toda minha atenção e força no meu filho, que chegaria a este mundo daqui a tão poucos dias.

— Elisa! Estava te procurando.

Disse-me a voz com imensa simpatia, enquanto eu chegava com pressa na lanchonete.

— Oh D. Rose, desculpe-me pelo atraso! Eu estava trocando de roupa. Custou um pouquinho vestir este uniforme.

Após ouvir as explicações que eu lhe dava, os olhos da mulher varreram o meu corpo e se prenderam na elevação do meu ventre, provavelmente achando o uniforme um pouco mais justo do que estava há dias atrás.

— Querida, como esta barriga cresce a galopes! Veja esses botões que estão a ponto de se arrebentarem!

Observou ela, referindo-se às duas partes do meu vestuário que estavam muito mal unidas.

— Depois do quinto mês ela resolveu se mostrar. Pareço estar grávida de nove meses em vez de sete.

— Deve ser um menino grande.

Ela comentou, deslizando a mão direita levemente sobre a minha volumosa barriga.

— Achas que é um menino?

— Não acho, Elisa, tenho certeza... vai tê-lo já e verás!

Eu sorri e ela sorriu também.

Mesmo com as constantes insistências de Alicia, que se mostrava tão curiosa que, por vezes, me aborrecia, decidi só saber o sexo do bebê no dia do seu nascimento. Para mim, o que verdadeiramente importava era que tivesse uma excelente saúde e um bondoso coração.

Não posso deixar de dizer que o segundo desejo muito me preocupava, mas, fosse como fosse, me esforçaria para contrariar os genes do pai e pôr o meu filho no melhor caminho, o do bem.

D. Rose deixou-se cair em uma cadeira que estava perto do balcão e me pediu para fazer o mesmo na outra à sua frente. Eu obedeci ao pedido dela.

— Ontem a minha sobrinha me confirmou que estará a caminho da capital para ficar no teu lugar. Ava chegará daqui a dois dias.

Disse-me ela, mudando bruscamente o rumo da conversa. Meus olhos se arregalaram e senti um aperto no peito; eu não tinha idéia do que estava acontecendo.

— Eu não entendo.

— Elisa, já não tens forças para desempenhar esta tarefa. Não posso permitir que fiques tanto tempo de pé. Vê como seus pés começam a ficar inchados pela gravidez que avança. Até o dia em que seu filho nascer, tu farás o trabalho administrativo da lanchonete e, após o puerpério, retornarás à sua função.

Explicava a sua intenção; no entanto, ela percebeu o meu olhar incomodado e apressou-se a dizer:

— Não precisas se inquietar, Lisa, minha sobrinha não vem para tomar o teu lugar. Eu lhe garanto, é apenas um favor que ela está me fazendo.

Suas palavras e seu sorriso bastaram para acalmar o meu coração.

Que senhora excepcional!

— É muita gentileza, D. Rose.

Eu lhe disse, declarando toda a minha gratidão.

Depois de refletir por um instante, ela se levantou energicamente, com um ar alarmado, como se tivesse lembrado de alguma coisa.

— Volto num minuto! Me espere aqui!

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora