Capítulo 1

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Dominic


No estacionamento do pátio, o ronco do motor silencia com o desvirar da chave que o ligava; olhei para frente observando os acadêmicos seguindo seus caminhos de um lado para o outro no vasto campus da universidade; os óculos escuros voltaram a face escondendo o fogo azul dos meus olhos; sentia uma revolta violenta.

Naquela manhã, meu pai me recordou do peso que carrego nos ombros; nem mesmo um bom dia foi capaz de me oferecer; entrou na cobertura, que não era a sua casa, rumando os passos ao meu quarto, alvoraçado e tempestuoso, abrindo a porta como se fosse ele o dono daquele espaço.

— Acorde Dominic! Se ponha de pé rápido! Tenho os minutos contados.

A ordem vinha ao longe enquanto, sonolento, arrumava os pensamentos. Os olhos, ainda pequenos, buscavam o dourado do dia sem encontrar; entretanto, achou a zanga no relógio de cabeceira; marcava ali cinco e vinte e três da manhã.

Ocorreu-me de que pudesse ter acontecido algo grave, isso explicaria tamanha urgência; levantei abruptamente, ainda cambaleando pelo sono inacabado.

— Devo me preocupar?

Perguntei receoso, temendo a resposta.

— Não da maneira que pensas; lhe espero lá embaixo. Não demore!

Mais que depressa me arrumei apresentável e, em cinco minutos, já me encontrava diante do homem elegante; estava ele com seu terno engomado e sapatos lustrados, sentado impaciente no confortável sofá da sala de estar.

— Sou todo ouvido.

Disse eu, deixando-me cair no sofá oposto àquele em que ele estava.

— Um importante negócio deu-se início ontem, os Metherral uniram os negócios com a família Richarte.

Levantou-se, deu alguns passos na sala e dirigiu-se à bancada, se servindo de um whisky caro. Torci o rosto, imaginado o quanto uma bebida forte como esta, faria um estrago em seu estômago.

"Cedo demais para o álcool."

— Dou-lhe uma notícia que certamente já espera, a filha mais velha dos Richarte... Você vai se casar com ela. Considere a sorte, a menina não é de se jogar fora.

Movi a cabeça concordando. No entanto, o comportamento afirmativo escondia o desespero pela catástrofe iminente. Este era o meu fardo e eu estava fadado a ele. Nada poderia fazer para mudar o legado de gerações dos Metherral; os casamentos por conveniência com o único fim de aumentar as riquezas.

" O medo da miséria."

— És o herdeiro. Não foste o primeiro, tão pouco será o último.

Lembrou-me e sentou-se outra vez.

"Isto é ridículo de tantas maneiras, ultrapassado. Ninguém, nos tempos de hoje, é forçado a casar- se por obrigação."

Não foi o que eu disse.

— Sim, eu sei. É para quando?

— Parece que a garota pediu o tempo de três ou quatro anos; não menos que isso. Quer garantir os estudos e o pai lhe concedeu o desejo. Quanto a você, aproveite para concluir a segunda graduação e se dedicar à filial em Londres. É tempo suficiente antes da amolação do matrimônio.

Riu

— A respeito da filial da empresa, no tempo que estive em Londres adquiri o prédio principal. É bem localizado e atende aos anseios. Dei início às reformas necessárias; acredito que em poucos meses já deva estar em pleno funcionamento.

Informei.

— Fez bem.

Levantou-se, deixou o copo em cima do aparador, passou pela porta e, como chegou, se foi.

Trago os pensamentos de volta para onde eu estava; sentado, sentindo a maciez do estofado de luxo do banco do carro; a cabeça buscando conforto levemente inclinada para trás, observando a movimentação dos estudantes pelo campus através do vidro dianteiro do meu automóvel.

De repente, meus olhos avidamente confiados, como um ímã, foram atraídos por uma extraordinária beleza.

Ela andava depressa, quase corria; sua pele alva contrastava com seus longos cabelos castanhos; os lábios rubros, ousados e convidativos, encaixados perfeitamente no seu rosto angelical, inspirando facilmente o fascínio. O que lhe faltava em altura, sobrava em formosura. Não deixei de notar o modesto vestido que lhe envolvia castamente o corpo volumoso e bem construído.

Com efeito, bem a vi e, uma agitação sem explicação, comecei a sentir; o coração sobressaltava fortemente no peito; padecia-me de uma sensação estranha, nem boa nem ruim.

" Mais tarde ficou claro do que se tratava o fenômeno."

Ainda aturdido, os olhos a seguiram até vê-la desaparecer na multidão de acadêmicos. De alguns minutos precisei para recompor-me. Só, então, desci do carro lhe fechando a porta e rumei os meus pés ao último patamar do prédio; ali que tomava a lição da segunda graduação, o bacharelado em Direito; a primeira foi em Administração, o jus necessário para o império que me esperava.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora