Capítulo 51

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 Dominic


No dia quinze de Abril, perto das seis horas da tarde, a aeronave da família atingia a pista de pouso do aeroporto de Redar, trazendo-me de volta à minha frágil realidade. Os papéis em minha mala davam atestado de êxito e bom desempenho; tudo o que me fora proposto fazer em Londres estava feito, e com excelência. Já os meus pensamentos eram o avesso daqueles papéis: estavam turbulentos e ansiavam que eu me atirasse no carro e dirigisse o mais depressa possível até aquele lugar decadente onde Elisa morava.

Eu não estava nem um pouco contente comigo mesmo, sentindo-me ferido no meu amor próprio; desejando, como um louco, ir a um local detestável, sendo este o único meio para cessar a minha vontade. Por fim, com grande esforço, consegui domar estes impulsos, e o único lugar em que cheguei naquele dia foi em minha casa.

Entretanto, o inesperado veio na tarde do dia seguinte, quando tive de estar novamente no campus acadêmico. O ano já havia começado e, junto com ele, os últimos períodos da minha segunda graduação. Neste dia, quando dei por mim, eu estava tratando de tardar a minha saída do prédio acadêmico, prolongando até o horário em que imaginava que Elisa estaria em seu trabalho na lanchonete.

Bem... o que faria eu sabendo estar tão próximo dela?

Desta vez, sem conseguir reprimir o meu impulso, meus olhos ansiosos a procuraram para contemplá-la; e, antes fosse só os meus olhos, no entanto, meus pés desobedientes começaram a mover-se lentamente (aproveitando-me da ausência de uma fila na lanchonete) até pararem diante de uma Elisa que se mostrava totalmente espantada.

Não houve força em meu espírito e fiquei mesmo parado um bom tempo, olhando a mais bonita de todas. Eu não conseguia falar-lhe nada, embora desejasse muito.

Detrás do balcão, os olhos severos de Elisa estreitavam-se cada vez mais para minha direção; ela estava aborrecida por me ver, e me deixava saber disso.

Naquele momento, inesperadamente, um choro baixo (que mais me pareceu um resmungo) chamou minha atenção; ergui os meus olhos pela primeira vez e olhei além de Elisa, para os fundos da lanchonete, de onde o som viera.

Não esperava ver, absolutamente, o que vi; fiquei atônito; e o choque que senti deve ter me deixado pálido.

"Meus olhos viram ali o que a minha razão negava... meu filho."

O pequeno rosto sisudo encarava-me com seus miúdos olhos, que eram, em todo, o espelho dos meus; assim, também, como seus cabelos e todas as suas feições. Impressionado, nada consegui fazer a não ser olhá-lo.

"Tive um contentamento e uma satisfação que não consigo explicar."

— Em que posso lhe ajudar, senhor?

A minha fascinação foi interrompida pelo som de uma voz dura e nada amigável; era a voz de Elisa, que me trouxe de volta à realidade. No entanto, tudo o que consegui fazer como resposta à sua pergunta foi lhe apontar qualquer coisa posta na vitrine do balcão.

Estremecido, continuei olhando, ora para ela, ora para o bebê, enquanto ela, friamente, entregava-me o meu pedido.

Pois bem, com meu autocontrole desmoronando completamente, saí de lá depressa, tomando o caminho do estacionamento do campus; e, somente quando lá cheguei é que as batidas descompassadas do meu coração se normalizaram e pude respirar melhor. Entrei no meu carro e, sentado defronte ao volante do veículo, em um ato de desespero, escondi o meu rosto em minhas mãos.

"Eu já não aguentava mais, e lutei o quanto pude."

Às nove horas da noite daquele mesmo dia, a minha caminhonete era estacionada na rua onde morava Elisa. Desci do carro e, com os passos rápidos e decididos, me dirigi até a sua casa; em seguida, bati com insistência na porta.

— Quem é?

Perguntou ela.

Não respondi.

Conforme os minutos passaram, e sem escutar mais nenhum ruído, Elisa, muito devagar, abriu a porta, e, então, deparou-se comigo.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora