Capítulo 60

482 74 37
                                    



O seu olhar de raiva não me afetou em nada; no entanto, a sua última fala não só me afetou, como me gelou o sangue, e um nó doloroso se formou em minha garganta.

Contudo, eu precisei ser forte para o meu propósito.

Minha resposta foi me aproximar e dar-lhe um beijo rápido em seus lábios, que logo depois foi limpo por ela.

Benjamim acomodou-se um pouco em meus braços, tendo toda a minha atenção — que estava em Elisa — voltando-se para ele. Eu o escutei ressonar tranquilamente, com os seus pequenos olhos fechados.

— Não fique zangada, é o melhor para ambos.

Tentei amenizar, voltando o meu rosto para o olhar odioso dela, que me observava sem nada dizer.

— No momento, bem sei que não tens bom juízo quanto a mim, Elisa, mas, se me deres uma oportunidade de conhecer-me, não permitirei que te decepciones. É a segunda promessa que eu te faço.

— Você, Dominic, é detestável!

Pareceu ignorar o que eu disse por último. Então, secou os olhos úmidos de lágrimas com as mãos e olhou para o alto, dando um profundo suspiro; depois, perguntou-me em um tom duro e desagradável:

— Para aonde iremos?

Limitou-se na pergunta; embora eu tenha percebido que pensou em algo a mais.

— Bem, como já havia te dito antes, morareis comigo; portanto, nós iremos para minha casa; é um pouco distante.

Elisa franziu a testa, olhando-me desconfiada.

— Para sua casa?!

Indagou.

Sacudi a cabeça afirmativamente.

— Penso eu não ser digna de pôr os pés em sua casa, visto ser eu uma caipira maltrapilha; além disso, talvez eu não saiba me portar diante da sua família...

Não escondeu a forma irônica e desdenhosa com a qual me falava, usando, novamente, contra mim, as palavras que eu havia lhe dito antes.

Eu não a desmenti pois era isso mesmo o que eu pensava dela.

— Não será preciso te preocupares com isso; moro sozinho.

Elisa, interrompida por mim, comprimiu os lábios, olhando para um ponto fixo na parede e, por sua expressão, estava me insultando em pensamento. Depois, voltou o olhar na minha direção e perguntou-me:

— E a sua família?

Eu não contava que ela perguntaria, naquele momento, sobre a minha família; eu não havia meditado sobre essa "particularidade" do plano.

— Não somos próximos.

Respondi.

O que não era uma mentira total, visto que a minha relação com os Metherral estava mais perto dos deveres do que do afeto.

Elisa estava tão irritada que foi obrigada a fechar os olhos. Depois, os abriu abruptamente, como se tivesse sido tomada por uma lembrança repentina, observou em volta e, em seguida, mirou-me nos olhos.

— Esta casa onde eu vivo... me foi oferecida... ela é emprestada...

— Não te preocupes com isso.

Disse-lhe eu, pensando em Sam, que resolveria este pormenor, devolvendo as chaves da casa velha para a sua dona.

— Temos um belo garoto.

Mudei o assunto, admirando meu filho em meus braços, tentando diminuir a tensão.

— Deixe-o comigo. A minha mala e a de Benjamim estão no seu lado direito.

Disse ela, de repente, aproximando-se e esticando os braços na minha direção, não me dando ouvidos.

Entreguei o menino para sua mãe, vendo ele aninhar-se, desta vez, em seu colo; e, sem perder tempo, abaixei, pegando as malas do chão.

— Bem, tem a mobília do quarto do bebê. Levarás hoje?

Perguntou-me.

— Não é preciso, tenho tudo preparado em minha casa.

Respondi.

— Gosto dos móveis que comprei para ele.

Retrucou.

— Espero que goste, também, do quarto que preparei.

Emendei.

Ela contraiu as sobrancelhas, cheia de raiva, e, pondo os olhos no chão, concordou com a cabeça.

Encaminhei-me em direção à porta, abrindo-a com bastante cautela e disfarçadamente, para me certificar de que não havia ninguém nas proximidades. Corria tudo bem; a rua estava deserta.

Vinte minutos depois, eu virava o carro para autoestrada, deixando para trás aquele lugar para o qual eu nunca mais voltaria.

"O meu plano estava feito."

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora