Capítulo 37

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Dominic


— É o que eu estou dizendo...

— Mas por que Alícia faria isso?

Perguntei, desacreditado pela audácia daquela garota.

— Ora, por dinheiro. Pelo que mais ela faria? Sabes bem que ela evoluiu... agora ela cria fatos e produz notícias.

Respondeu-me ele.

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Vou lhe dar um presente, mas és tu quem pagarás. Alícia mandou-me uma mensagem me avisando que, junto com a tua Elisa, estarão na praia amanhã à tarde, nas proximidades das pedras de Sean Marino. Veja você que foi com muito custo que ela convenceu a moça a ir. Sam

Foi após ler esta mensagem de Holmes que larguei tudo o que estava fazendo na empresa e segui impaciente para a sua casa, onde ele me disse estar.

Não pude ler a frio a mensagem, meu sangue fervia nas veias.

Sam morava com seus pais em um condomínio de luxo a poucos minutos da cobertura onde eu residia.

********

Dadas as explicações sobre a atitude de Alícia, o amigo descontraiu:

— Vamos, entre um pouco, não sabes o que perdes. Estás tão vermelho pela raiva que lhe cairia muito bem esta piscina.

Sentado sobre uma inflável poltrona flutuante, usando um calção de banho e óculos escuros, Sam vagava à deriva pelo tanque.

Vestido em um terno preto refinado, feito pelo melhor alfaiate, estava eu de pé na beira da piscina e com um ódio terrível. Estreitei os olhos para o amigo que se divertia com minha situação. Consultei o relógio em meu pulso que me mostrava ser quatro e vinte da tarde.

— E tu, o que fazes em casa a esta hora, em dia de semana? Pensei que fosses alguém importante e indispensável no jurídico dos Holmes.

— Com que cara ficarás quando eu lhe disser a grande novidade do dia: hoje é feriado.

— Que importa isto? Os negócios não podem parar por tolas datas como esta. É um desperdício.

— Céus! Dir-lhe-ei a verdade: suponho que tu e teu pai estão doidos ou perto disso, de tanto trabalho.

Sam me olhou sorridente, espiando em mim o efeito de suas palavras.

— Ora, é isto que meu cargo exige.

Expliquei o óbvio.

— Eu não me queixo, bem sabes como eu preciso do meu merecido descanso. É muito trabalhoso dar ordens.

Disse ele com aquela maneira direta e debochada que sempre usava para minar a minha paciência.

— Pateta!

Eu o elogiei.

A conversa parou ali. Dito isto, saí de lá mais furioso do que quando cheguei.

— Príncipe, não te esqueças do chá de camomila, vai lhe fazer bem.

Ainda ouvi de longe Sam troçar, aos risos, de mim.

A imagem da "moça do sul" nos arredores de uma praia, em uma festa, não me agradava. Durante a noite, a ideia me consumiu... a imaginação intensa fez todo o resto, sobressaltando-me a tal ponto que já não conseguia pregar o olho, com meu espírito em total desordem.

"Elisa não teria coragem de estar nos braços de outro. Ou teria?"

A verdade é que eu não a conhecia o suficiente para ter esta resposta.

No dia seguinte, fiquei tentado a ir ao endereço informado pelo amigo, da mesma forma que fiquei tentado a não ir. Lutava comigo mesmo: por um lado, aquela vontade de contemplar aquela bela mulher, viajando com meus olhos desejosos que sempre me agradeciam por isso; por outro, o mesmo impulso que me levava, me trazia de volta, afinal, eu não deveria estar atrás de Elisa, nem de qualquer outra... uma situação humilhante em que se achava um homem na minha posição.

"Que loucura era essa que me perseguia?! Eu não posso, não devo!"

Pensava, andando.

Bem, no fim das contas, cedi ao mau impulso e joguei a voz da razão ao vento. O ato foi de insensatez, confesso, mas, naquela altura, assumiria todos o riscos só para admirá-la e para certificar-me — é claro — de que tudo, dentro do possível, correria bem.

Não havia lugar para o ciúme, eu dizia... enquanto a mente e o coração me contrariavam. 

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora