Capítulo 56

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À noite, quando cheguei na casa de Elisa, tudo ocorreu como esperado — até a parte em que ela tentou em vão impedir a minha entrada —, e logo a vi com os olhos arregalados, com uma expressão desacreditada; por certo, tinha consigo a minha desistência, pois não havia lhe procurado nos últimos dias.

Não demorou muito para que ela recuasse até onde pôde para se afastar de mim.

Aproximando-me devagar, comecei a executar o plano, estendendo a mão e entregando-lhe o documento falso.

— Aí está a certidão de Benjamim. Vim tratar disso.

Elisa pegou nela com receio e nada dissera. Forçando as vistas, examinava o papel.

Eu estava nervoso, confesso, desejando que ela não desconfiasse de nada.

— Não entendo, já fiz o registro do seu nascimento; o tenho guardado.

— Sim, o tens, mas não está correto como deve ser.

A situação era difícil e eu tive que fazer um grande esforço para ela não perceber que eu estava mentindo.

— Que quer isto dizer?

Perguntou-me com os olhos carregados de cólera.

— Quer dizer exatamente o que está escrito: tenho direitos sobre o menino.

— O que tu desejas então?

Balbuciou em pânico.

Esta pergunta acalmou-me o espírito; era a prova de que ela havia acreditado em tudo. Enrolei lentamente as mangas de minha camisa até o cotovelo e, em seguida, cruzei os meus braços.

— Vou te dizer o que quero: em primeiro lugar, o menino sob o meu teto.

Sua testa enrugou e um terror lhe passou nos olhos; depois, atirou, com certa arrogância, o papel na minha direção e, seu eu não tivesse sido rápido, ele teria caído no chão.

— Basta! Tu nunca o quiseste. Eu poderia citar...

O choro do meu filho interrompeu o seu discurso; o choro que, naturalmente, aconteceria, dado as circunstâncias em que estávamos, com o tom de voz cada vez mais elevado, muito mais por parte de Elisa.

Ela correu para o cômodo em que ele se encontrava e acendeu a luz assim que entrou. Eu a segui e, desta vez, pude observar melhor o quarto (se assim se pode chamar).

Era bem pequeno e muito limpo. A tinta da parede que um dia fora amarelo, agora, desgastada pelo tempo, estava quase branca. O assoalho oferecia a mesma aparência, e, apesar de encerado, já lhe faltava o verniz. Mal pude suportar aquilo.

As poucas peças do mobiliário consistiam em uma poltrona coberta pobremente por um pano azul cheio de remendos, um berço e, no canto, perto da janela, uma cômoda, cuja superfície lhe servia de prateleira, suportando alguns livros coloridos (acredito que infantis) e alguns brinquedos. Esses móveis não eram "grande coisa", feitos de madeira barata.

Contrastando com essa pobreza, ao lado do berço estava um cesto para bebês, com acabamento superior, que, provavelmente, fora a única coisa de preço que Alícia lhe dera.

Mordi meu lábio inferior para ocultar a raiva, e perguntava-me a todo momento onde foi parar o meu dinheiro.

Elisa tomou ao colo aquele pedacinho de gente, o aninhando mais junto de si. Esqueci-me na mesma hora do julgamento que eu fazia, concentrando-me neles.

— Meu filhinho, a mamãe está aqui.

Eu olhava deslumbrado a ternura com a qual a mãe cuidava do bebê.

Benjamim se acalmou e, após tê-lo deixado outra vez no berço, Elisa moveu-se para a minúscula sala onde antes estávamos. Eu a segui involuntariamente e, retornando ao assunto inacabado, disse-lhe eu:

— Estou ciente das tuas razões, mas isso não muda o fato de eu o querer sobre a minha proteção. Vou ao tribunal se preciso for, embora eu ache que não seja para tanto.

Ela não olhou se quer para mim, e arrisco dizer que estava em choque.

Continuei:

— Sabes muito bem quem sou e o poder que tenho; não dificultes as coisas.

Neste ponto, ela se virou rápido, encarando-me fixamente.

— Já te previno que se tentares fugir com Benjamim, eu te acho, e será pior...

Acrescentei, lançando-lhe com o olhar uma espécie de ameaça.

"O que é tão terrível de dizer agora, pareceu-me muito natural naquele momento."


Elisa levou as mãos aos olhos, de onde, imediatamente, lhe saltaram as lágrimas.

"Sentia-me sempre muito incomodado quando a via chorar."

Com assombro e desespero ela proferiu essas palavras:

— Eu não vou te entregar meu filho.

— Não quero somente ele, quero a ti também.

— A mim?! Depois de tudo?!

Elisa parecia um tanto perplexa e, enxugando os olhos com as mãos, fez um gesto de interrogação.

— Sim, morarás comigo e com o bebê.

— Eu não quero viver com você.

Sua fala era cheia de desdém; eu já calculava sua resistência, embora, ouvi-la me rejeitar doeu-me bastante.

— Se assim o é, vamos ao tribunal então.

Disse-lhe eu, fingindo uma máxima indiferença.

— Não podes me ameaçar desta maneira, sabes que não tenho chance alguma contra ti em um tribunal.

— Tens uma escolha.

Para confirmar o disfarce, voltei as costas para ela, alcançando a maçaneta da porta, com o intuito de ir embora.

— Dominic, espera... está bem... como quiseres.

Concordou, sem esconder a lamúria na voz. Então, se aproximou, tocando no meu braço.

— Não nos faças mal, é só o que te peço.

Virei-me para ela e, de repente, quase sem pensar, disse-lhe:

— Eu a amo. É impossível para mim te fazer mal.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora