Capítulo 76

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Com uma implacável obstinação em meu propósito de conquistá-la, tornei-me mais gentil com ela do que jamais fora com qualquer outra pessoa, entretanto, toda a atenção que eu lhe dedicava me era retribuída na frieza de seus modos: Elisa mal me falava e mal me olhava.

Dirigi-lhe, por vezes, algumas palavras, sem obter melhor resposta do que um maneio de cabeça indicando um sim ou um não; noutras, deixava-me falar às paredes e não se distraía da ocupação que estava fazendo.

"Sua única arma contra mim era o seu desprezo, que ela utilizava com toda maestria."

Pensei que aquilo passaria rápido, mas os dias tornaram-se semanas, e todas as minhas tentativas de aproximação não avançaram um passo.

Fiquei com o humor pior do que nunca diante de toda aquela situação, e sofria mais com seu silêncio do que se ela me agredisse com gestos ou me insultasse com palavras, pois qualquer reação era melhor do que nenhuma.

Levava-lhe flores todos os dias pois era a única coisa que ela não recusava. Tudo ia muito mal e sentia-me imensamente perturbado sem saber o que mais eu poderia fazer.

Todavia, em uma certa noite, logo assim que cheguei, houve uma pequena mudança: eu estava parado na porta da cozinha com o meu olhar imóvel sobre ela; Elisa, naquele momento, encontrava-se junto da bancada e de costas para mim, ignorando-me.

Ainda com as costas voltadas para mim, de repente, perguntou-me:

— Fiz o jantar; se quiseres, podes te servir dele; não tem muita pompa, mas...

— Eu aceito.

Respondi surpreso, contudo, feliz por ouvir outra vez a voz que disparava o meu coração.

Eu já havia realizado minha refeição noturna, como sempre fazia antes de retornar para a casa de campo, mas eu aceitaria jantar novamente mil vezes, desde que fosse feito por ela.

Elisa sugeriu que sentássemos na mesa da cozinha, e, mesmo eu não gostando nem um pouco, concordei. Sentamos nas extremidades da mesa, com todo o jantar entre nós dois.

— Está muito bom.

Disse-lhe eu.

Embora eu estivesse habituado a jantares bem diferentes, achei tudo formidável.

— Obrigada.

— Onde está Benjamim?

Perguntei, ainda receoso se iria obter alguma resposta.

— No berço, dormindo.

— Ah... como foi o teu dia, Elisa?

— Bom.

— Desejas alguma coisa?

— Não.

— Podes me pedir o que quiseres, Elisa.

— Estou bem. Fale-me de sua família, Dominic; nunca me falaste nada sobre ela. Eles sabem sobre Benjamim?

A conversa deslizou, não sei como, para a minha vida.

— É como te disse, não somos próximos.

— Não respondeste à minha pergunta. Sabem sobre Benjamim?

— Sim.

Menti.

"O que, aliás, me era fácil."

— Teus pais não se interessaram em conhecer o neto?

— Os teus conhecem?

Perguntei, mesmo sabendo a resposta, pois queria mudar o rumo da conversa, da minha vida para a dela.

— Não.

Respondeu-me ela tristemente, mas sem deixar de atirar sobre mim o seu olhar acusador.

Elisa, de repente, ficou silenciosa.

— Como era viver em Lester?

Perguntei, para ter algo a dizer.

— Adorável... nasci e cresci em Lester, mas quando meus pais descobriram que eu estava grávida, bem... não pude pôr os pés lá desde então.

Vendo-me arquear as sobrancelhas, ela continuou:

— Para os costumes do condado, tornei-me uma qualquer.

"Que costumes ultrapassados", pensava eu; e logo me lembrei de que os Metherral também tinham suas ridículas tradições que vinham direto do século passado.

— Papai, em um primeiro momento, não fazia gosto de que eu fosse para capital; sempre dizia que ela era dominada por todos os tipos de homens inescrupulosos e aproveitadores, e, também, de pessoas que não sabem valorizar os bons costumes.

Fitou-me longamente bem neste momento.

Fiquei contente por ela falar-me, embora sentisse que Elisa, ao se referir a homens aproveitadores e inescrupulosos, incluía também a mim.

— Diga-me o que costumavas fazer em Lester?

Fiquei interessado em sua vida em Lester; na realidade, tudo que vinha de Elisa muito me interessava.

— Ajudava, com mamãe e papai, no armazém; era o que nos sustentava. Tínhamos pouco, é verdade, mas, com este pouco, vivíamos bem.

Ouvia tudo sem tirar os olhos dela.

A conversa encerrou-se abruptamente assim como havia começado.

Terminado o jantar, Elisa se levantou e começou a limpar a louça. Tentei ajudá-la, claro, muito empenhado em ficar o máximo de tempo perto dela.

Um tempo depois, Elisa entrou no corredor e ia andando na direção do quarto de Benjamim, para buscá-lo. Fui atrás dela e peguei-a pela mão, fazendo-a virar para mim.

— Elisa, deixe Benjamim no berço.

Ela me olhou com ar de reprovação e, em um movimento rápido, retirou a sua mão da minha.

Respirei fundo e pus as mãos no meu quadril, procurando manter-me firme, e prossegui:

— Este é o lugar mais adequado para um bebê estar, não entre nós, na cama. Não vês que ele já cresce?! Ele precisa do seu espaço... não se aquieta durante a noite e fica a passear por toda a cama. Fico sempre preocupado de que ele caia enquanto dormimos.

— Achas que ele poderá cair?

Perguntou-me pausadamente e com uma expressão muito assustada.

— Sim.

Elisa desviou os seus olhos dos meus e mirou distraidamente para um ponto à sua frente.

— Talvez tu estejas certo.

Foi com surpresa que vi Elisa dando-me razão; não que aquilo que eu tinha lhe dito não fosse verdade; naturalmente, eu me preocupava, mas Elisa não percebeu, em sua ingenuidade, as minhas verdadeiras intenções.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora