Capítulo 34

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 Elisa


Quem olhasse para nós diria que éramos duas irmãs: Alícia mostrava-se tão amiga e tão gentil, ao ponto de oferecer-me ajuda a qual não tive em lugar algum; garantindo-me todos os cuidados médicos com a gestação, além de presentear-me, sucessivamente, com todo tipo de mimo para o meu bebê.

Admito que não foi de pronto que aceitei a benevolência, pois eu tinha o meu trabalho e o meu brio; entretanto, eu sacrificaria muito minhas poucas economias, fazendo o melhor que eu pudesse para não faltar nada ao meu filho.

Mas... ela era tão convincente... sempre me dizendo que os médicos que me atendiam o faziam por consideração, pois se tratavam de amigos de sua família (embora eu não visse essa intimidade dela para com eles). Apesar disso, eu não estava para questioná-la, ao contrário, a cada dia me sentia mais grata por sua amizade.

Em uma sexta-feira, de um feriado, Alicía veio me visitar em casa. Assim que chegou, pousou a mão em meu ventre e, muito sorridente, perguntou- me:

— Como está o meu bebê de ouro?

A barriga de quatro meses ainda não era das maiores, tinha uma protuberância que, para ser notada, se precisava firmar bem os olhos.

Eu lhe sorri de volta e disse que estava muito bem, agradecendo-lhe, mais uma vez, por sua bondade.

"Não quero confessar o meu estado de raiva quando relembro que o significado do afago possuía sentidos distintos: aos meus ouvidos, soava como um gesto de carinho; já, para ela, a expressão "bebê de ouro" significava vantagens financeiras."

Pedi que se sentasse, lhe mostrando o singelo sofá da sala. Ela correu os olhos ao redor do ambiente e o seu desagrado foi muito mal disfarçado por uma expressão de entusiasmo.

— Não é preciso.

Disse veemente, permanecendo de pé a poucos passos da porta de entrada.

— Minha querida amiga, vim em sua casa... sabes bem o quanto me custa... a lonjura... não aceito nenhuma resposta que não seja um "sim".

— Pois diga-me a que veio. Se estiver em meu alcance, peça-me tudo que quiser e eu farei.

— Quero que vá comigo a uma reunião; um encontro entre amigas do colegial, para falarmos e rirmos. Será na praia de Sean Marino.

Sean Marino é uma das belas praias de Redar.

Eu me lembrava do mar em uma memória vaga e cheia de vontade: estive, ainda pequena, de frente ao espelho do céu, mas nunca o senti em minha pele. A proposta apresentada não era de todo ruim, mas eu não era dada a falatórios com quem não conhecia. O que poderia ter eu a dizer às suas amigas? Além disso, ainda carregava o espírito triste com as feridas abertas pelos últimos acontecimentos.

— Não, não; eu não quero. Sabes bem que não estou com ânimo para tal coisa.

— Não lhe peço tanto, Elisa; não seja uma boba; fará bem para você e também para o bebê. Precisa se divertir.

Depois de toda sua insistência, salientando todos os benefícios que "novos ares" me trariam, retirei a recusa e aceitei o seu convite.

— Oh, será excelente! Espere aqui um momento, já volto.

Ela saiu pela porta digitando no telefone e voltou minutos depois com uma sacola em mãos.

— É para você. Acredito que ainda não tenha uma. Amanhã, no primeiro horário da tarde, passo aqui para buscá-la. Até logo!

— Espere! Tome um chá comigo...

Ela se foi fechando a porta. Eu permaneci em pé, pasma, com a sacolinha nas mãos, observando a rapidez com a qual ela se fora.

Dentro da sacola havia roupas de banho novíssimas. Percebi seu lado astuto, mas nem por isso me zanguei, e entendi que o convite era apenas uma boa ação de uma amiga que queria resgatar o ânimo da outra.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora