Capítulo 89

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— E então, Dominic?

Virei-me para olhá-la e responder a sua pergunta. Entretanto, vendo-a ali à minha frente, eu sabia cada vez mais que precisava dela, de ficar com ela.

" O amor que ardia em meu peito tinha a esperança de que seria aceito e correspondido."

Pensando no que eu faria, conclui imediatamente que um único dia não seria o suficiente.

— Não te direi, é uma surpresa. Sei que te dei a entender que era só por hoje, mas, na verdade, voltaremos só amanhã.

— Amanhã?!

— Sim.

Elisa falou-me, com uma autoridade caprichosa, que não poderia; que estaria muito ocupada no dia seguinte; e terminou dizendo:

— Bem, se fosse só pelo dia hoje... lamento.

— Poderias dizer-me, ao menos, que tanta ocupação terás amanhã?

— Eu te disse que seria hoje que eu tentaria arrumar um novo emprego. Eu já estaria abrindo uma enorme exceção indo neste passeio contigo, porque te dei a minha palavra; agora, exige-me muito com dois dias.

" Nem de longe eu lembrava-me mais disso."

— É impossível que estejas falando sério.

Retruquei.

Elisa embrulhou-se no lençol, virando para o lado, mostrando que não queria mais falar.

— Está bem. O que se pode fazer não é mesmo?! É uma pena... pensei como seria bom... é um lugar bonito... D. Charlote e o bebê adorariam, com certeza. Bem, é isto... fica tranquila que não vou mais te incomodar; e aproveito para avisar-te de que tenho negócios a resolver e terei de me ausentar por alguns dias; e, diante desta tua resolução, partirei hoje à noite então.

Acertei em dizer-lhe isso, pois Elisa ergueu-se na mesma hora, sentando-se na beira da cama com uma sombra de angústia no rosto.

— Partir?! Não me disseste nada disso. Para aonde vais? Quando voltarás?

Dirigi a ela um demorado olhar cheio de tristeza.

— Só soube ontem de manhã: vou para Londres; de Londres, para Zurique; de Zurique, para Nova York; de Nova York, para Miami. Sabe-se lá quanto tempo pode demorar... talvez um mês... dois... ou, quem sabe, três.

Disse-lhe eu, exagerando um pouco nos dias e na atuação, sabendo bem que esta viagem não passaria de um mês e meio.

— Três meses?!

Elisa mal conseguia disfarçar a sua contrariedade.

— Não é coisa definitiva, mas há esta possibilidade; entretanto, me coloco de prontidão e, caso precises, basta um telefonema e estarei aqui.

Elisa ficou me olhando por um pouco mais de tempo do que o que lhe era o habitual. Depois, abaixou muito devagar o olhar.

— Por agora, vou me exercitar. Não levará mais do que meia hora. Pensa um pouco, talvez mudes de idéia, Elisa.

Fui arrumar-me, e Elisa entrou no closet assim que eu saí, mas não fechou a porta.

Embora eu normalmente não fizesse isso, ao invés de sair, eu fiquei algum tempo ali, com um vivo interesse de ver o que ela estava fazendo.

Fiquei quieto e recuei um pouco para que não me visse, e, pela porta entreaberta, avistei Elisa olhando para os seus pertences no armário. Com um movimento delicado, ela pôs as mãos nos cabelos e desfez a trança; em seguida, desabotoou a camisola e a deixou cair no chão, o que colocou-me logo agitado, com o início da sua nudez.

Com meu desejo por ela a cada dia tornando-se maior, contínuo e quase incontrolável, tive dificuldade para me aquietar, e, assim, Elisa percebeu o meu ofegar violento. Ela deu um pequeno grito e, fazendo-se muito vermelha, cobriu rapidamente com os braços nus os seus seios descobertos.

— Que é isto?! Estavas me olhando, Dominic?!

Perguntou-me assombrada.

— Sim, claro que estava.

— Ora, és um desavergonhado... só um desavergonhado agiria assim. Não sei por que me surpreendo; eu devia ter esperado isso... devia esperar qualquer coisa vindo de ti.

Ela dizia isso com os olhos flamejando de raiva, puxando a camisola do chão e a estendendo à sua frente, para esconder seu corpo, enquanto dava alguns passos para trás.

Com os braços cruzados, encostei-me no umbral da porta, e ia forjando rapidamente uma boa desculpa para a minha presença ali.

— Não te zangues, só voltei porque esqueci do meu relógio.

Apontei para cima da prateleira, aonde estava o relógio do qual eu não precisava.

— Sai daqui, Dominic!

— Não te embaraces tanto, Elisa, já estou acostumado com a tua nudez.

Ela corou ainda mais com esta última observação.

— Atrevido! Sai já daqui, Dominic!

Suspirei.

— Eu saio se prometeres ir comigo. Não há mal nenhum nisto, Elisa, eu só quero estar contigo.

Ela me olhou concentrada e teve uma hesitação antes da resposta:

— Está bem, prometo ir. Agora, sai!

— Certo, sairemos dentro de duas horas. Esteja pronta.

— Se fores usar este tom mandão, posso muito bem mudar de idéia.

Eu não disse nada, mas sorri para ela.

Acabava de atravessar a porta quando veio do quarto do bebê o choro de uma criança que acordara revoltada. Fui até lá para ver Benjamim que, segurando na grade do berço, balançava-se sobre a ponta dos pés como se tivesse sido abandonado.

Aproximei-me, e suas pequenas mãos me seguraram reclamando a minha atenção. Prontamente levantei-o nos braços, vendo o seu choro cessar imediatamente.

— Tudo bem, garotão, vamos arranjar uma solução para toda essa indignação.

Quando cheguei na cozinha, D. Charlote colocava um tabuleiro no forno; deu uma pausa no que estava fazendo para admirar o bebê e disse:

— Parece que este anjinho acordou muito cedo.

— Acho que ele esta com fome.

— Vou cuidar dele.

D. Charlote veio até mim, pegando-o do meu colo para o seu.

— E a ti, Dominic, comes alguma coisa?

— Só um suco está bom. Preciso que faças as malas e que orientes Elisa no que levar; nós vamos para a Casa da Ilha e retornaremos amanhã.

D. Charlote teve todas as reações de quem estava tendo um choque inesperado.

— Oh!

Ela pôs a mão livre sobre o peito e, então, completou com uma voz apavorada:

— É um lugar muito romântico, mas...

Ela abaixou o tom de voz, olhando para a porta; embora fosse difícil que Elisa, do quarto, pudesse escutá-la.

— O que te aconteceste, Dominic, para obscurecer-te tanto o juízo?

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora