Capítulo 9

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  Dominic


Já faziam dois meses que eu estava acometido de uma loucura; não havia outro nome senão este, que decifrava os meus sentimentos. O rosto da desconhecida não me largava; e meus olhos, insistentes e desejosos, sempre vasculhavam minuciosamente o campus acadêmico, em cada oportunidade, procurando, sem encontrar, a moça dos traços bonitos, da qual a beleza me dominou.

Naquela tarde, os meus pés impacientes batiam rápido no assoalho do corredor. O elevador estava preso há um bom tempo no quinto andar; demorando e, com isto, me preocupando. O ponteiro do relógio no meu pulso corria depressa; eu estava atrasado para uma reunião importantíssima na empresa. E ali estava eu, no modelo de escritório prático o qual, nas tardes de terças e quintas-feiras, requeriam minha presença e também dos demais alunos do penúltimo ano do bacharelado em ciências jurídicas. Uma chateação.

A escada pareceu-me convidativa; e não pensei em nada quando desci com total pressa e urgência o seus degraus.

No fim da escada, no primeiro patamar, estremeci inteiramente pasmado quando minha visão achou o que outrora sempre procurava. Meus pés, antes apressados, subitamente estancaram.

Lá estava ela... a dona dos meus pensamentos, tão bela quanto me lembrava. Estava vestida com o uniforme da lanchonete do campus, mas este não lhe roubava nenhum encanto. Observei e a contemplei, examinando a perfeição de suas feições... seus gestos delicados e graciosos, enquanto entregava os pedidos; o sorriso em seus lábios rubros que fez meu coração agitar. Todo o conjunto me impressionava e me atraia.

— Que bonita! Muito bonita!

Voltei a mim quando uma voz ao meu lado assombrou-me tanto, ao ponto de deixar os papéis que eu carregava em mãos caírem no chão.

— Não disse que ficaria até mais tarde na prática, Sam Holmes?

Disse lhe eu, enquanto apanhava os papeis do chão. Sentia-me nervoso, descoberto. Os olhos de Holmes iam de mim para a moça bonita, e da moça bonita para mim.

— Não disse que estava atrasado, Dominic Metherral?

Usou o mesmo tom sério que o meu; com a diferença de que ele troçava de mim.

— Então, é ela?

Concordei, sem nada falar.

— Talvez não seja uma estudante, uma bolsista, como presumiu.

— Ela estava com pastas em mãos quando a vi pela primeira vez. O emprego pode ter vindo depois.

— Ah...sim, pode ser. Nunca a vi ali. Tem alguma idéia do curso que ela escolheu?

Perguntou-me ele, com uma curiosidade da qual não gostei.

— Por que quer saber?

Sam sorriu.

— Não precisa se enciumar! Apesar de linda, não faz o meu tipo.

— Não estou com ciúmes!

— Como não?! Seus pulsos estão fechados e seus olhos mudaram a cor, estão mais escuros do que a noite.

O amigo estava com a razão: seu súbito interesse pela desconhecida deixou-me aborrecido; e, ainda mais, pelo fato dele a ter chamado de bonita.

— Ora, Dominic, bolsista e balconista?! Achas que tem alguma chance disto dar certo?! Sou teu amigo, devo lhe alertar.

— Pensas que não sei?!

Retruquei.

A olhei por uma última vez e, ainda relutante, me afastei rapidamente, com a mesma pressa que eu estava antes, indo na direção do estacionamento.

Sam, ao meu lado, questionava-me a todo tempo. Na opinião dele, um caso a ser esquecido; de impossível relação. "Nossas gentes não se misturavam", dizia com franqueza, enquanto eu estava envolvido em um esplêndido silêncio.

— Vamos ao clube no próximo sábado? Uma mulher por outra é o que tu estás precisando.

O amigo lançou-me um olhar interrogativo; e logo pensei como não ser isso do que eu carecia — distrair a cabeça.

— Muito boa a tua idéia.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora