Elisa
A vida de acadêmica não era fácil quanto me parecia, pois, de longe, pintei um quadro colorido de um belo caminho tranquilo, não tortuoso e sem obstáculos; no entanto, de perto, o suor corria no meu rosto. E, do meu imaginário colorido, fui ao cinzento, preto e branco da realidade. Os estudos eram árduos e constantes, de livros que só tive acesso na biblioteca da Universidade.
Como esperado, eu não era bem vista; principalmente, pelas acadêmicas; com seus modos pedantes e suas roupas grã-finas. Por outro lado, pelos rapazes, talvez a minha beleza tenha me ajudado; eles não me insultavam, e alguns até me tratavam com certa simpatia.
Em meio aos perfumes caros dos estudantes, havia alguém como eu: chamava-se Alícia, e tinha o mérito do segundo gabarito das bolsas permanentes para licenciatura. Ela não era uma abastada como os demais alunos; todavia, era notório não ter o berço tão humilde quanto o meu. Contudo, Alícia abdicava veementemente o posto, mendigando a atenção de quem só a desprezava. Pobre criatura! Eu pensava... após vê-la mais de uma vez com o peso da humilhação. Comigo, ela pouco falava; no mais, quando precisava, me tratava com indiferença. Era uma metida.
Meu emprego chegou após dois meses em que eu estava estudando, como, também, morando na casinha em Berl. Não foi fácil consegui-lo, disso eu me lembro bem, pois não poderia ser em qualquer horário; tendo eu as manhãs dos meus dias preenchidas com os estudos. Por isso (pela demora em conseguir o emprego), o desespero foi achando meu coração aberto e, a cada dia que se passava, eu via o dinheirinho que papai me ofereceu, se esvaindo. Sempre me esforçava para ser econômica, mas a vida na capital era quase como uma esponja, sugando e devorando cada centavo que eu carregava.
A consolação veio atrasada, no entanto, veio: um dia, enquanto me achava desanimada, andando pelo campus, contando as moedas que havia me sobrado de troco da condução, meu ânimo achou conforto com o anúncio feito de caneta de tinta, colado na parede da lanchonete:
Precisa-se de balconista.
"Uma providência divina."
No balcão, uma mulher não muito jovem atendia os pedidos. Aguardei a minha vez. Com os poucos centavos que eu tinha, somente dava para comprar uma bala. A mulher me atendeu e aproveitei para lhe perguntar:
— Escute, tenho interesse na vaga de balconista! O que precisa ser feito para garanti-la?
A moça sorriu de maneira solicita, e eu retribui.
— Creio eu, que não de muito. Alguém de compromisso é o bastante. A gerente estará aqui amanhã pela tarde.
Ela me informou.
Foi assim que a D. Rose (a gerente), de boa vontade, me contratou. Para minha felicidade, o combinado, e precisado para o ofício, era de seis horas diárias. O expediente se iniciava no primeiro horário do turno da tarde, às treze horas em ponto. O salário não era muito, mas o suficiente para seu propósito: condução, alimentação e todas as custas que uma vida acadêmica me pedia. Posso reviver agora a alegria que senti.
Neste mesmo dia, pela noite, liguei para mamãe para lhe contar a novidade do bom emprego e lhe acalmar o coração, que já estava borbulhando em desassossego. Satisfeita, mamãe tomou-me o tempo de vinte minutos; um pouco mais... gostava que eu lhe contasse os detalhes da vida na capital, curiosidade habitual dos amáveis conterrâneos. Papai passava bem; sempre perguntava das notícias quando lhe telefonava, uma vez na semana, não mais do que isto, para não reduzir as minhas reservas já escassas.
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Impossível Para Mim
RomantikDominic Metherral sabe que seu único destino é assumir o império de sua família e está preparado para isso, só não contava que seu futuro perfeito seria ameaçado ao colocar seus olhos em Elisa Collier, uma bolsista da faculdade em que estuda, e é o...