Capítulo 73

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— Dominic, querido, mandaste me chamar?

D. Charlote, com seu uniforme preto de gola branca, engomado e perfeitamente alinhado, estava parada no vão da porta.

— Sim, sente-se.

Fiz um gesto vago na direção do sofá de couro.

Ela entrou e fechou a porta.

— Estava muito apreensiva com a tua ausência. Não me avisaste que não voltarias para casa.

Um leve sorriso surgiu no meu rosto por sua exagerada preocupação.

— Precisamos conversar; és a única em quem posso confiar sem me comprometer.

Respirei fundo e contei-lhe sobre Elisa, porém, minimizando bastante os fatos.

Poucos minutos depois, D. Charlote estava com o olhar para baixo tentando absorver tudo o que eu tinha lhe dito.

— Então, a moça teve um bebê?

Perguntou-me.

— Sim.

— Tens certeza de que não se trata de uma aventureira? Com uma fortuna da magnitude da tua, e a aparência que tens...

Abruptamente, olhou-me como se tivesse acordado de repente.

— Oh! Um filho.

— Elisa é inocente, a culpa é toda minha... como te disse antes, ela não é bem nascida, sua posição social é muito inferior à minha. Eu, a rigor, deveria ter me afastado, mas não consegui; e, quando Elisa precisou salvar a vida de seu pai, vi nisto uma grande oportunidade e aproveitei-me do seu desespero.

Notando seu gesto de interrogação, senti a necessidade de colocar as coisas com maior clareza:

— Ofereci-lhe o meu dinheiro em troca de ir para cama comigo. A princípio, fiz isso motivado por um capricho, mas, depois... os céus me puniram e acabei me apaixonando por ela; uma paixão louca e violenta.

Pouco depois, acrescentei:

— Em um esforço desesperado, tentei livrar-me desse sentimento, mas, cada vez que eu a via, ficava mais apaixonado do que antes e, quando não a via, ela estava sempre em meu pensamento. Era uma batalha que eu nunca conseguiria vencer.

— Dominic, sei que não compete a mim dizer-te isto, mas os anos em que eu servi aos teus pais me concedem este direito. Que coisa horrível fizeste!

O tom de serena gravidade fez-me lembrar do tempo em que eu ainda era um garoto, e como ela me repreendia quando eu fazia algo de errado.

— E quanto ao bebê? Ele não é legitimo, Dominic; não é fruto da mulher escolhida para ti. Isto retirará o império das tuas mãos. O que me disseste vai contra todas as fiéis tradições dos Metherral. Se qualquer um deles descobrir...

— Serei deserdado. Eu sei muito bem.

D. Charlote olhava para mim, sabendo tão bem quanto eu o quanto eu estava encrencado.

— Por óbvio, não registrei o meu filho; a certidão que mostrei à Elisa não passa de obra minha e de Sam; uma burla com pouca formalidade, apenas para enganá-la. E, com esta mentira, ameacei-lhe para ficar comigo... não lhe deixei nenhuma escolha.

D. Charlote parecia horrorizada.

Levantei-me dando-lhe as costas, colocando-me diante da janela; mantinha as minhas mãos nos bolsos e, através dos vidros, observava o mar.

— Se Elisa souber a verdade, não pensará duas vezes e sumirá, levando o meu filho com ela.

"Vivia aterrorizado diante dessa idéia."

— Ela não desconfiou de nada?

— A senhora não calcula como é ingênua, ela acredita em tudo o que eu lhe digo. Parece que, da vida, não conhece quase nada; seria uma presa fácil no mundo, como também eu a fiz. E, antes eu do que o mundo.

Girando o meu corpo, voltei a encará-la.

— Não foi por mera casualidade que te contei tudo isto, mas por que preciso de tua ajuda.

Não seria uma tarefa fácil levar D. Charlote para casa de campo; a proeza não era pequena, e demoraria pelo menos algumas semanas para que isto acontecesse.

Disse-lhe também uma porção de coisas que ela quis saber sobre Elisa e o meu filho; e, depois de lhe por a par da situação da casa de campo, informando-lhe o que eu queria que fosse feito para esta brusca mudança, saí da cobertura.

Empenhado em conquistar Elisa, fui à Sond Street, onde as lojas eram mais sofisticadas e, consequentemente, melhores.

Entrei em uma joalheria e vi um fantástico colar de diamantes; não hesitei, comprei o colar. A vendedora da loja pareceu me reconhecer, mas não mostrou grande surpresa. Por ali devia passar muitos rostos conhecidos.

Feito isso, mais à frente, comprei-lhe um buquê de flores (era a primeira vez que eu comprava flores para uma mulher).

Chegando em Wistern, lembrei-me de que, da primeira vez que estive ali, quase não consegui achar a casa de campo, o GPS do carro funcionava de forma precária; fiquei paralisado atrás do volante e tive que pegar um mapa para encontrar a pequena entrada que ficava fora da estrada principal. Em todos os meus vinte e seis anos de vida, nunca havia estado em um lugar tão minúsculo.

Quando finalmente estacionei o carro, apressei-me em direção à porta principal. Já era um pouco tarde, mas a claridade do sol poente ainda brilhava no céu. Percorrendo rapidamente os meus olhos pela sala, não encontrei Elisa. Pus o estojo com a jóia sobre a mesa. Segurando o buquê em uma das mãos, comecei a procurar por ela. Procurei-a, então, por toda a casa, sem encontrá-la em lugar nenhum. Parei no meio da sala, já um pouco sobressaltado, imaginando o pior, começando a ficar realmente preocupado.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora