Elisa
Naquela tarde, enquanto eu folheava um dos livros que Dominic me trouxera (apesar de eu lhe dizer que não queria, comprou-me assim mesmo uma dúzia de livros), D. Rose me telefonou.
O telefonema não me causou nenhuma surpresa, pois a ruptura, como D. Rose mesmo dissera, não foi completa; vez ou outra eu lhe telefonava, e ela, por sua vez, também a mim.
A ligação, como de costume, apresentava ruídos, pois não havia em Wistern um bom sinal para os aparelhos modernos; todavia, compreendi perfeitamente quando D. Rose indagou-me se eu ainda estava à procura de um emprego, mencionando um posto de atendente em uma livraria próxima ao campus universitário.
"Estou disposta a aceitar", foi o que eu disse contentemente a ela, sentindo aliviar-me o coração de um peso enorme.
Mais tarde, na sala, cantarolando uma das minhas músicas preferidas e arrumando tudo o que já estava arrumado, percebi uns movimentos e, ao olhar para trás, vi que Dominic tinha acabado de chegar. Mal dei com os olhos nele e não pude me aguentar, contando-lhe tudo o que me sucedera.
Vi no rosto de Dominic uma brusca mudança de expressão; todo seu aspecto denunciava que a notícia não havia lhe agradado, o que, claro, deixou-me muito mais contente.
— O que há Dominic?! Não gostaste da boa notícia?!
— Isso não é uma boa notícia... como não vês? Quem ficará com Benjamim? Não há a mínima chance de que, neste novo emprego, a deixem ficar com ele.
— Pode ser, mas, neste caso, talvez D. Charlote possa me fazer este favor.
— D. Charlote não é nenhuma babá para tomar conta de um bebê o tempo todo .
— Contrate uma babá então, Dominic. Não és tu quem compras tudo?!
Neste momento Dominic mordeu o lábio e, de súbito, atravessou a sala com uma seriedade no olhar, parando diante de mim.
— Não, Elisa, eu não contratarei ninguém; tu és a mãe e ele ficará aos teus cuidados. Eu já havia te dito isto uma vez e estou te dizendo de novo.
— Estás sendo egoísta, Dominic!
Enfurecida virei-me de costas; eu não conseguia sequer olhar para ele.
— Está bem, Dominic... mas direi pessoalmente a D. Rose; não quero que pareça uma desfeita; justo a ela que só me faz o bem.
Dominic segurou-me por um braço e fez com que eu me virasse para ele.
— Por que terás que ir até lá, Elisa? Leva-se tanto tempo... podes muito bem lhe telefonar.
"Como se não tivesse eu todo o tempo do mundo."
Livrei-me de sua mão e, com uma entonação de reprovação, lhe disse:
— Não gosto que me digas o que devo fazer. Quero ir e vou!
— Muito bem... nesse caso, vou levá-la! Irei à empresa e te deixarei próximo ao campus.
— Irei sozinha!
— Não discutiremos isso, Elisa! Sairemos bem cedo amanhã.
"Era tempo perdido discutir com ele."
Durante o resto daquele dia eu não lhe disse mais nada, e nem ele a mim; no entanto, sentia que seu olhar estava sempre a me seguir.
Triste e amuada, eu não quis jantar, e, após ter dedicado a Benjamim todos os cuidados maternais, fui mais cedo para cama.
Na manhã seguinte, ao acordar, olhei ao meu redor e percebi que Dominic estava na sala de banho. Enquanto eu mirava o teto, recordei-me de toda sua imposição em querer resolver as coisas à sua maneira. De repente, pareceu-me uma idéia muitíssimo melhor ir para a capital imediatamente e sozinha.
Fui em frente com este plano; em um salto levantei-me da cama e, andando nas pontas dos pés, vesti-me rapidamente; e, ainda agindo com uma grande velocidade, servi-me de um dos banheiros da casa para os meus cuidados matinais.
Um pouquinho ofegante, eu atravessava a casa à procura de D. Charlote quando, repentinamente, meus olhos, com admiração, pousaram sobre a mesa posta para o desjejum; era sempre impressionante toda aquela arrumação. D. Charlote, assim que me viu, veio na minha direção.
— Bom dia, Elisa! Já estou trazendo o chá.
— Bom dia, D. Charlote! Fico muito agradecida, mas tenho de me apressar... terei de ir resolver uns assuntos na capital. Será uma viagem longa e, bem... se não for um incômodo...
— Elisa, o que posso fazer para ajudar-te?
Perguntou-me com extrema doçura e polidez.
— O bebê...
— Terei um imenso prazer em ficar com ele.
Compreendendo-me sem que eu lhe desse mais explicações, lhe agradeci e, em poucos minutos, os meus pés alcançaram a rua.
Já se fazia uns dez minutos que eu andava apressadamente pela calçada quando o silêncio encantador de Wistern foi interrompido pelo ruído do motor de um automóvel vindo.
O carro emparelhou bruscamente e Dominic desceu. Parei de andar e olhei para ele.
— O que pensas estar fazendo, Elisa?
— Não sei do que estás falando.
— Quando fui te procurar, D. Charlote disse-me que já havias saído.
A sua aparente serenidade era desmentida pela raiva na sua voz.
— E o que tem isso?!
— Eu não te disse que eu te levaria?
— Sim, disse. E daí?
Dizendo isso, comecei tranquilamente a caminhar de novo.
Sem que eu o percebesse, Dominic veio em meu encalce por detrás e, com um único movimento, levantou-me em seus braços, pegando-me no colo.
— Mas o que é isto?! Ponha-me no chão agora, Dominic!
Sentindo o meu coração na boca, esperneei, tentando, inutilmente, soltar-me dele.
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Impossível Para Mim
RomanceDominic Metherral sabe que seu único destino é assumir o império de sua família e está preparado para isso, só não contava que seu futuro perfeito seria ameaçado ao colocar seus olhos em Elisa Collier, uma bolsista da faculdade em que estuda, e é o...