Capítulo 85

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Enquanto eu ainda lutava com energia para me libertar dele, Dominic curvou-se para abrir a porta do carro, empurrando-a com o pé; em seguida, pôs-me cuidadosamente no banco da frente e, sem me olhar e nem dizer nada, afivelou em mim o cinto de segurança e fechou a porta. Apreensiva, acompanhei-o dar a volta e embarcar no carro.

Por toda a estrada Dominic dirigia calado, imerso em seus pensamentos, quando, de súbito, ele pegou uma saída da estrada e parou o carro logo atrás de um bosque. Era um local fortemente arborizado, com árvores que formavam uma linha densa, e não havia nenhum movimento à vista.

— Quero conversar contigo.

Disse-me ele; e notei, de relance, que Dominic abaixou o seu olhar para o meu rosto.

— Estamos sempre discutindo, Elisa, e te asseguro que detesto fazê-lo. Desejo que as coisas fiquem bem entre nós. Se tens contra mim alguma queixa...

Abruptamente virei-me para ele.

— Se tenho eu alguma queixa?! Estás brincando?! Esqueces da nossa absurda situação?! E de tudo o que me fizeste, recorda-te? Num desrespeito sem nome, insultou-me de todas as maneiras possíveis e...

— Tudo o que dizes é verdade, e tens os teus motivos para me odiar. Sei que errei contigo e com Benjamim, mas estou tentando consertar as coisas.

Tinha um vislumbre de culpa nos seus olhos.

— Tens uma maneira muito esquisita para consertar as coisas.

Ele suspirou e fechou os olhos por alguns instantes, e, depois, olhou para mim como se quisesse dizer-me alguma coisa, mas não sabia como.

— Podemos tentar um meio-termo? Sermos, ao menos, amigos?

Não senti nada além de um choque e, atônita, olhei para ele procurando no seu semblante um sinal de alguma intenção escondida, mas Dominic estava com o perfil tão calmo que eu não pude deduzir nada.

— Amigos?

— Sim. Eu pensei que, com a convivência, poderias ter outras impressões sobre mim; mas estiveste sempre me evitando e me ignorando; dessa forma, eu não tenho a menor chance.

Escutava tudo aquilo muito surpreendida e já me preparava para negar sua proposta, quando tive uma idéia.

— Estou de acordo.

— Estás?!

A perturbação era clara no seu rosto.

— Sim, mas há certas condições.

Expliquei-lhe as minhas condições: que ele não ficasse sempre prejudicando os meus planos e que eu tivesse o meu próprio quarto.

— Se estás te referindo ao emprego, sei que fazes os teus planos para não depender de mim, mas quero que saibas que tudo o que tenho é teu. No entanto, se isto não te bastar, eu não me oponho se conseguires um trabalho perto de casa, em uma das cidades adjacentes a Wistern. Ajustar-me-ei às circunstâncias e veremos como melhor cuidar de Benjamim.

— Começarei a procurá-lo amanhã mesmo.

Disse-lhe eu.

"Nada de extraordinário, mas me pareceu uma vitória tremenda."

— Quanto à outra condição, exiges-me uma coisa impossível; nunca poderei aceitar; não suporto ser mantido longe de ti, Elisa, nem mesmo por um dia.

Senti-me muito vermelha. Esperei alguns minutos e afirmei-lhe que concordava, e que, de minha parte, estava tudo certo com o nosso acordo.

" Eu devia ter imaginado que isso não daria muito certo."

Enquanto eu falava, Dominic observava-me com os olhos vidrados nos movimentos dos meus lábios e, então, inclinou-se, encostando-se bem a mim. Senti o pulsar do meu coração e a respiração me faltando; um tropel de pensamentos desgovernados agitou-me e começou a me confundir.

Antes que eu pudesse escapar, seus olhos desviaram-se para os meus e prenderam-me aonde eu estava. Ágil e com um gesto bem estudado, pôs a mão por trás do meu pescoço, atraindo-me para perto dele e, com uma veemência arrebatadora, seus lábios úmidos esmagaram os meus, devorando a minha boca em um beijo quase brutal.

Rapidamente, os tremores súbitos deste contato se estenderam, arrepiando todo o meu corpo. O beijo de fogo trocado pelas nossas bocas queimava-me a pele, causando uma violenta tempestade dentro de mim.

Fora de si e com movimentos cada vez mais atrevidos, ele desceu os lábios pela minha garganta, chegando no princípio dos meus seios.

— Deixe-me... deixe-me, Dominic. Pare com isso.

Disse-lhe eu com a voz abafada e ofegante.

— Não, Elisa... ainda não... por favor!

Ele voltou a colar os seus lábios nos meus.

— Deixe-me, deixe-me!

Implorei, afastando-o com as palmas de minhas mãos, em um esforço enorme para arrancar-me do desejo desesperado e delirante de continuar beijando-lhe a boca.

Sem fôlego ele me soltou e se afastou de mim.

Permanecemos nos fitando e, depois de um longo silêncio, ele me perguntou com uma ponta de malícia nos olhos:

— Então... amigos?

— Quero deixar-te bem claro, Dominic, que não será este gênero de amizade que teremos.

Ele sorriu e disse:

— Não, claro que não.

Se recompondo, Dominic deu a partida no carro, voltando para a estrada principal.

— Bem, agora que somos amigos, fale-me de ti: tens alguma namorada?

Perguntei-lhe eu, arrumando os meus cabelos.

Dominic enrugou a testa e retrucou:

— Dúvidas do meu amor?

— Não, mas pode ser que também ames a outras mulheres. Parece que te apaixonas com muita facilidade...

Ele riu.

— És a primeira mulher que me fez sentir o meu coração bater de um modo diferente. Eu a amo perdidamente; e a ninguém mais pertenço senão a você.

"Apertei os meus olhos com toda a força negando o que eu começava a sentir por ele."

Uma hora mais tarde, quando, nostalgicamente, eu atravessava o pátio da universidade seguindo para a lanchonete, me deparei com Alícia vindo na direção oposta à minha; ela estava aos risos com um rapaz. Tive uma certa dificuldade para reconhecê-la pois seu cabelo estava um pouco diferente, opaco, e não era o corte da última tendência, como era o seu costume ter. Conforme a distância diminuía, tive a certeza de que não se enganaram os meus olhos, era ela mesma.

Fingiu não me ver e já iria passar direto sem nada me dizer, quando algo a fez voltar: foram as minhas mãos.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora