Capítulo 14

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— A voz da tua pretendida, Elisa, é branda e com sotaque caipira. Uma sulista.

Meu espírito sobressaltou.

— Uma moça do campo?! Como pude ter me interessado por essa espécie de gente?! Sempre me pareceram tão toscos e sem a boa educação.

Não compreendia como um homem como eu pudesse olhar para alguém como ela. Era odioso encontrar-me naquela situação: a desejando violentamente, da mesma forma que a desprezava.

— Não me diga! Uma doce selvagem...

Disse-lhe eu, com as mãos cobrindo o meu rosto pela indignação.

— Não foi só isto que notei. Tua Elisa tem a alma recatada; os olhos estavam sempre no chão; parece ter cisma de gente, ou só de nos, os abonados.

— O que quer dizer?

Perguntei, ouvindo atento a tudo o que Sam estava me dizendo.

— Sempre acanhada, não sustentou o meu olhar em momento nenhum. Comentei com ela que achei sua voz diferente, foi quando ela me esclareceu que veio de Lester.

Holmes respondeu-me, sorrindo.

— De Lester?! No fim do mundo?! É pior do que pensei...

— Isso mesmo.

Prosseguiu ele, ficando mais caçoísta à medida que eu me exaltava.

— Veio do condado de Lester pela bolsa permanente de licenciatura, e, como já sabes, ela a garantiu.

— Professora...

Murmurei, não me permitindo surpreender com tão pouca ambição.

— Pois bem...

Continuou ele

— No dia seguinte, eu a vi conversando com uma garota; foi essa a qual lhe disse antes ser o contato. Fiquei um tempo no encalço dela e lhe abordei na primeira oportunidade. A garota me disse não ser muito próxima de Elisa, contudo, gananciosa e nada simpática, me garantiu que, por uma boa quantia de dinheiro, se fariam irmãs.

Sam riu

— Dá para acreditar nesse tipo de gente?!

Não me pareceu uma pergunta, e sim, uma constatação.

— Pagarei o que for preciso... até do ar que ela respira, quero saber.

Disse-lhe eu, de mau humor.

Nesse bocado de tempo, Sam guardava a discrição necessária e, quando se tornava sabedor de novidades, por Alícia, o seu contato, eu a pagava, por intermédio do amigo, uma boa quantia em espécie, pelo serviço me prestado.

Foi assim que, quase tudo, descobri sobre Elisa: que se hospedava em uma casa emprestada, em um bairro longe, pobre e torpe; que era natural do interior e filha única de comerciantes pouco prósperos, os quais nada tinham de valor.

Os dias correram e, assíduo, no lugar de sempre, na descida da escada, cauteloso, eu a espiava sem ser visto por ela; uma admiração ardente e imprudente, cuidadosamente velada. Havia em mim um anseio crescente de um dia poder chegar-lhe mais próximo... sem ser descoberto, é claro.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora