Capítulo 33

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Dominic


Sempre vangloriava-me de ter um autocontrole, mas, ali estava eu, com ela no meu pensamento... que não me deixava nem mesmo dormir. Minhas noites eram sempre agitadas e amargas, refletindo-se nos meus dias. Era evidente, eu já não era o mesmo, ao ponto de achar-me displicente nos estudos, no trabalho... tudo ia mal, e minha única competência tornou-se viver pensando em Elisa. Talvez um castigo, uma penitência, ou seja lá o que isso fosse.

Devo dizer que a primeira idéia dita por Sam, de não vê-la nunca mais, se perdeu; durou sim, e a muito custo, mas só até o dia daquela notícia... "aquela notícia" que me deixou em um pânico total. Eu não estava certo do que fazer e, naquele momento, o nada pareceu-me o melhor.

Costumava olhá-la quase todos os dias; frequentemente arrumava desculpas para isto: o elevador, por exemplo, que nunca chegava em hora correta, empurrando, assim, meus pés escada abaixo até o primeiro patamar; tudo isso só para dar com meus olhos nela, que, mesmo de longe, apreciavam Elisa trabalhando na lanchonete. Noutra ocasião, cancelei um compromisso importante só para expiá-la.

A bem da verdade é que eu não conseguia me conter; uma necessidade humana justificava esse ato de querer vê-la a todo momento: uma admiração, um desejo de olhá-la, contemplá-la, e um êxtase involuntário em saber que parte de mim habitava nela.

"Ainda que eu não admitisse naquela época."

À noite, já em casa, tive vontade de uma distração, o que me levou a um entretenimento noturno. Não fui só, Holmes estava comigo.

— Sei que não podes e nem queres assumir o filho, mas se lhe virares as costas, colocarás Elisa à mercê da própria sorte.

Disse ele, de repente.

Sam encontrava-se de pé com o cotovelo na borda marmorizada do balcão do bar. Eu me achava ao seu lado observando a movimentação do espaçoso ambiente refinado. Isto se deu logo depois que já havia sido servido os nossos drinques. Estávamos a uma distância segura de outras pessoas e esse fato me tranquilizou.

Olhei para Holmes, inquisidoramente, procurando uma explicação para o que ele me dizia.

— O que queres dizer?

Disse-lhe eu.

— Os pais dela não a quiseram.

— Ora, e por que não haveriam de querer?

— Pelo que me disse a informante...

O amigo fez uma careta (como sempre fazia quando falava de Alícia) e continuou:

— São pessoas de severos costumes, e uma gravidez sem um marido é um grave erro.

— Ah! Claro...

Levei meu copo à boca enquanto Holmes dizia-me essas palavras rindo:

— Vamos lá, Dominic, a moça não sabia quem tu eras. Ela está mais para uma boba do que para uma trapaceira, como tu supuseste.

— O que pensas que devo fazer então?

— Cuide deles sem ser visto, discretamente; ponha as coisas em bom caminho. Encarregue Alícia — aquela cobrinha — dessa tarefa, pois ela é uma dissimulada e saberá ludibriar Elisa.

Fiz o que ele me sugeriu: cuidei de aumentar os recursos financeiros dados, via Holmes, a Alícia, para que parte (uma boa quantia) fosse destinado a Elisa, e, assim, nada lhe faltasse.

"Acredito eu que foi nessa altura que tudo começou..."

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora