Capítulo 7

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Por fim, os olhos de papai pousaram sobre os meus e, com um suspiro profundo, sabedor da perda da batalha, viu-se forçado a concordar.

— É isto o que quer, minha querida?

Foi sua pergunta.

— De todo o coração, meu pai.

Respondi.

Suspirou ele, novamente, fechando os olhos em seguida.

— Sinto dizer que, caso permitisse... veja, os lucros do armazém são módicos... não temos o dinheiro suficiente para o seu sustento em um lugar que requer ser próspero; de certo, a colocaria à mercê de sua própria sorte.

Ponderou ele.

— Não é minha intenção afirmar que seu receios não são válidos, meu amigo. E admiro o quanto é cauteloso; entretanto, Elisa é tão extraordinária que tenho a certeza de que ela conseguirá um bom emprego. Quanto a onde ficar... não se preocupe, minha irmã vive de renda, e tem ela, na capital, muitas casinhas de aluguel; ela tem um bom coração; sei que, por um pedido meu, permitirá que Elisa, por tão pouco tempo, faça de lar qualquer uma dessas pequenas casas.

Disse a senhora, com seu sorriso sendo o meu.

— Está bem. Seja como for, primeiro, passe na prova. Neste assunto, meu argumento é inútil.

Enunciou meu pai que, para minha própria surpresa, permitiu. Ainda não sei dizer por quanto tempo eu lhe agradeci; compreendia não ser esta uma decisão fácil, e isso tornava-me mais grata.

Decorreram seis semanas desde a permissão de papai e, céus, eu não imaginava o vasto oceano de pessoas que se tinha lá fora; o que quero dizer, além das fronteiras de Lester.

Lembro-me bem de como fiquei maravilhada e amedrontada quando me deparei com tudo que meus olhos viram — até então, apenas pelo visor de uma televisão —, pois não era nada miúdo, como as polegadas que se apresentavam na TV, e, sim, um mundo grande demais para alguém tão pequena como eu.

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Meus passos seguiam lado a lado com os da senhora Harriete enquanto atravessávamos a alameda cimentada, de prédios vistosos e imponentes. Papai tinha razão, a vida social na capital é intensa.

— Não se preocupe, minha querida, você se sairá bem.

Ela confortou-me, com o rosto brevemente voltado na minha direção.

— Espero que sim.

Eu lhe respondi com o sorriso fraco, não tão certa de sua gentil afirmação. Era a terceira vez que os meus pés passavam por aquele chão, e o nervosismo era tão patente quanto das outras vezes.

— Bem, aqui estamos.

A professora sorriu novamente, segurando minha mão. Ficamos ali, Inertes, diante do grande portão de ferro fundido, observando a extravagância e a magnificência que a Metherral University possuía.

Eu tremia enquanto procurava, desesperadamente, espantar aquelas lembranças terríveis. Os olhos tortos que se posicionavam em minha direção e os burburinhos infelizes que meus pobres ouvidos escutavam, quando ali estive das outras vezes.

Eles, os acadêmicos, com toda sua crueldade, zombaram de minhas vestes modestas do campo, tanto quanto o jeito matuto do meu andar; desdenharam dos meus longos cabelos, sem um corte moderno; nem sequer preocuparam-se de que suas afrontas esnobes e pretensiosas não fossem ouvidas.

" Ora, o que fazem os Metherral ao deixarem qualquer um entrar?!"

" Uma selvagem!"

" Ela não tem nem um pouco de classe!"

" Matem-me, se me virem a conversar com qualquer um destes bolsistas!"

Suas risadinhas debochadas apagaram o encanto que eu criei, por longos dias, dessa gente. Tratavam-nos muito mal, e procurei disfarçar o quanto isto me entristeceu.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora