Capítulo 36

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Quando cheguei à praia e meus pés alcançaram a maciez daquela areia, respirei profundamente o cheiro de liberdade que a brisa marítima me proporcionava; cheguei mesmo a fechar os olhos, sentindo o gosto de sal que a aragem sudoeste trazia consigo, esquecendo-me, por um breve instante, da amofinação que estava em meu espírito.

— Olha, Elisa, aquelas são as pedras de Sean Marino! Do outro lado fica a parte mais rasa; é um pouco deserta; não é muito atrativa pela distância, porém, é igualmente bonita como a deste lado.

Abri os olhos, prestando atenção na parte que me interessou: deserta...

— Gostou do presente?

De súbito, ela me perguntou.

— Sim, bonito, obrigada.

Limitei as palavras pois estava muito aborrecida com seu comportamento.

Dentro da festa fui apresentada a alguns de seus amigos. No entanto, a cada pronúncia que eu fazia, eu era prontamente ignorada; um comportamento muito desdenhoso por parte deles. É claro que, rapidamente, aquela situação me abateu.

E foi assim que, sentada na areia da praia, fiquei completamente deslocada, observando os outros dançarem e beberem. Desgostosa, também vi Alícia agarrada àquele mesmo rapaz, a uma certa distância, à minha frente. Em sua mão, um copo cheio de vinho e, no ritmo daquela estranha música, eles dançavam rindo.

Aquele cheiro forte de bebida alcoólica enjoava-me. O som era alto demais e fazia uma zoeira em meus ouvidos.

Lá ficou Alícia um bom tempo. Depois, virou seu rosto na minha direção, deitou sobre mim um olhar repreensivo e se aproximou querendo saber que razão tinha eu para estar assim tão séria.

— Aqui não lhe faltará diversão. Se esforce um pouco, Elisa!

Do que ela estava falando?! Aquilo tudo constrangia-me tanto... e, para mim, ali não havia divertimento algum.

Meus olhos estavam em brasa; mesmo assim, nada lhe falei.

Em seguida, foi para longe com o rapaz, andando conforme o êxtase da bebida e da melodia lhes conduziam.

Tendo sido deixada sozinha em meio a toda aquela perturbação, meu coração deu um aperto imposto por essa desastrosa situação.

Embaraçada, e, como último e único recurso, meus pés fugiram para um lugar mais afastado, onde meus pobres ouvidos não pudessem escutar todo aquele barulho.

Procurei por um bom lugar e não precisei olhar muito longe para avistar, plantada naquela areia branquíssima, uma vistosa casuarina. Sentei-me à sua sombra. A luz do sol, que se escondia entre as nuvens, deixava o dia muito mais agradável. Puxei um livro da pequena bolsa que eu carregava e não tardei a folheá-lo.

Poucas páginas lidas e meus olhos foram atraídos para o mar, que se perdia naquele horizonte. Não era justo comigo mesma ter de vir tão próximo a ele e não senti-lo em minha pele. Guardando o livro, levantei-me, e, antes de ir, voltei brevemente meu rosto para o lado, espiando a "festinha". Era tudo excessivamente impróprio: eles dançavam colados e embriagados; incluindo Alícia, que de mim já havia se esquecido.

Caminhando mansinho, fui em direção às pedras de Sean Marino sem achar tão distante como ela tinha me dito. Escalei, atenciosamente, a elevação das pedras, não vendo absurdamente difícil tal tarefa. Entretanto, eu estava gestante e todo cuidado ainda assim seria pouco.

Do outro lado não havia ninguém e a paisagem era de uma beleza estonteante. As águas, um pouco mais brandas devido ao quebra-mar, pareciam me convidar a conhecê-las. Ansiosa, tirei minhas roupas de pano gasto, dando lugar aos novos trajes de banho que eu usava por baixo.

Pois bem, coloquei os pés adiante para encontrar-me com o mar que me chamava. Estava radiante, em expectativa pelos poucos passos que me separavam daquele oceano quando, inesperadamente, fui puxada em um aperto forte para trás.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora