Capítulo 41

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  Elisa


Minhas forças me abandonaram quando desabei no chão, logo após fechar a porta da minha casa. Disparei em pranto.

Mal pude acreditar no que ele tinha me dito.

— Que maldade comigo... um homem sem coração.

Eu achava-me, é claro, decepcionada comigo mesma; uma amarga decepção.

Foi um erro: eu não deveria ter deixado que ele me tocasse; e, lançando a culpa sobre mim, eu não conseguia compreender o motivo pelo qual permiti que ele fosse tão longe. Talvez, deixei-me levar pelas suas palavras quando disse me querer; eu andava tão desprovida de afeição que me tapeei com a idéia de que houvesse sinceridade com ele; mas, depois de tudo, eu sabia que ele só me via como uma aventura, um passatempo. Dominic zombava de mim.

"Sentindo os dardos da humilhação que ele me atirava, o meu coração ingênuo convenceu-se depressa de que se iludiu."

Desconsolada no meu próprio mundo, as horas corriam sem que eu percebesse. Algo me incomodava: como Dominic soube onde eu estava? Quem lhe contou?

Eu pensava e criava uma idéia fixa na minha mente: falar com Alícia e esclarecer esta dúvida que me consumia, pois, aquela ida dele à praia não me parecia ser inusitada, tendo eu a impressão de que isto poderia ser de caso pensado.

Todavia, a nuvem da desconfiança só pareceu se afastar quando, na segunda-feira, estive com ela. Entrei na sala de aula encontrando-a, como de costume, sentada na cadeira que ficava pelo meio da fileira do canto direito da sala.

Faltavam ainda alguns minutinhos antes do primeiro tempo e tinha pouca gente na classe. Quando Alícia me viu, sorriu, mas eu não lhe retribuí, pois meu espírito não estava alegre e não me permitiu. Aproximei-me dela com pressa e com uma enorme vontade de lhe falar; no entanto, antes mesmo que as palavras passassem pelos meus lábios, perguntou-me ela:

— Onde esteve Elisa? Por que sumiu? Lhe procurei tanto na praia, e não a encontrei em lugar nenhum.

"Se ela tivesse me procurado um pouco mais..."

Abaixei minha cabeça com tristeza, pela vergonha; e devo ter ficado tão vermelha ao me recordar do meu infortúnio do outro lado das pedras, que recuei imediatamente nas minhas conjecturas.

— Eu não me senti muito bem e resolvi voltar para casa.

Não foi exatamente uma mentira, mas faltaram muitas verdades entre o início e o fim da minha resposta.

— Pois fizestes muito mal em não ter me avisado. Fiquei tão preocupada contigo e te liguei tantas vezes... não faças mais isto.

Levantou-se e me abraçou, olhando-me como se estivesse ficado realmente bastante preocupada. Lembro-me de ter me sentido culpada por ter lhe causado tamanha aflição.

— Desculpe, não tive a intenção de lhe angustiar; mas, convenhamos, Alícia, não era uma simples reunião com suas amigas... sei que tiveste boa vontade, mas já devias saber que eu não ficaria confortável em um ambiente como aquele.

"Eu acreditava verdadeiramente em sua boa vontade."

— Bobeira da sua parte.

Disse ela, sem dar grande importância ao que eu havia lhe dito.

— Por que não atendeu os meus telefonemas, Elisa? Pensei que fôssemos amigas, mas vejo que não. Se quer confias em mim; nunca me disseste quem é o pai do seu bebê. Gosto tanto de você...

Foi uma mudança inesperada: eu, que ia em busca de respostas, fiquei sem elas e ainda tendo que dar explicações. Me desculpei com Alícia mais uma vez, dizendo-lhe que a tinha em grande estima; em seguida, lhe esclareci que não ligava o telefone com tanta frequência, e que, naquela altura, era um objeto esquecido por mim, dado que o seu principal objetivo era manter-me em contato com os meus pais.

Por um momento, movida pela emoção e pela vontade de desabafar, quase lhe segredei o nome do pai do meu bebê; porém, as ameaças de Dominic me lembraram a tempo de não o fazer.

Depois, o tempo seguiu seu curso: o professor ensinava e os alunos aprendiam ou fingiam se interessar, como no meu caso, que viajava em pensamentos por um rumo bem diferente, pois, minha percepção de Dominic parecer saber onde eu estava naquele dia, continuava a me perseguir.

Mais tarde, quando eu e Alícia caminhávamos por um dos corredores do prédio acadêmico, tive eu uma súbita coragem e, com uma estudada lentidão, perguntei-lhe:

— Alícia, conheces Dominic Metherral?

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora