Capítulo 46

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Não preciso dizer que este golpe foi suficiente para despertar todo o meu interesse; como se eu tivesse sofrido uma espécie de ação hipnotizante; não me lembrei mais de quem eu era, nem onde eu estava; e, alheio a todo resto, eu me esqueci nela.

Elisa tinha a atenção presa no auditório; olhava ao redor, parecia procurar um lugar onde pudesse sentar-se; e foi durante esse momento que, muito me surpreendendo, nossos olhos se encontraram.

Ela ficou imóvel e a fisionomia de pavor voltou-lhe ao rosto.

Girou o corpo para o lado de fora e demorou-se uns instantes sem se mover; parecia indecisa se deveria entrar ou não. Depois, elevou o rosto e voltou-se, dirigindo-me um segundo olhar, mas, dessa vez, a demonstração que me lançava era de ressentimento e de imenso desprezo.

Senti um calafrio percorrer todo o meu corpo.

Pouco durou a sua imobilidade e, entrando lentamente no auditório, mas sem deixar seus olhos se voltarem para mim, acomodou-se em uma cadeira oblíqua, quatro fileiras à minha frente.

A voz do palestrante interagia com seus ouvintes; isso incluía Elisa, que parecia atentar-se a tudo que era dito por ele; ela o ouvia com a maior presteza e anotava quase tudo em um pequeno caderno que tinha em suas mãos.

Cuidadosamente, eu fitava a lateral de seu rosto e, por muitas vezes, quando ela o inclinava um pouco mais para o lado, eu conseguia enxergar muito bem toda sua face; a mulher mais bela que os meus olhos já viram.

Já deveria eu saber que, enquanto eu a devorava com os olhos, as lembranças dos nossos corpos entrelaçados iriam acordar em mim e invadir, de forma indomável, a minha mente. Meus lábios ainda sentiam o sabor picante da sua pele e de suas deliciosas formas. Meu corpo ardeu de desejo e sucedeu o que era natural, comecei a ficar agitado.

Diante disso, quase tive de sair naquele mesmo instante; e me foi preciso um esforço supremo para conseguir dominar-me.

Como se não bastasse, tive eu, mais tarde, outro tipo de inquietude (e por que não dizer, raiva), quando não era só a minha atenção que ela atraía, mas, vez ou outra, eu pegava outros pares de olhos masculinos a observando.

Recordo quão complicada minha situação ficou quando um rapaz bem-apessoado se aproximou de Elisa, sentou-se ao seu lado e lhe falou qualquer coisa (que eu não pude escutar), e obteve dela um sorriso como resposta; um sorriso muito bonito para ser desperdiçado com outro; um sorriso que eu queria que fosse meu.

"Nunca, contudo, imaginei estar vivendo algo semelhante, mas, ali estava eu, na crítica situação de um homem que não sabia o que fazer."

Quis levantar-me imediatamente e agarrá-lo pela gola da camisa para arrancá-lo de perto dela. Tive que morder meu lábio inferior ou teria perdido a cabeça.

Elisa, felizmente, não se atentava às investidas do rapaz. Soltei um suspiro de alívio quando ele se foi.

— Com licença! Posso me sentar aqui?

A voz referia-se à cadeira desocupada ao meu lado. Com má vontade relancei rapidamente meus olhos em quem fez a pergunta; uma mulher alta, com os cabelos loiros e bem vestida, foi só o que consegui ver antes de me levantar e sair o mais rápido que pude. Eu estava atormentado, Elisa tirava o meu sossego; e, ademais, esses estúpidos acadêmicos se achavam no direito de falar comigo.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora