Capítulo 24

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Dominic


Deliciosa, tudo nela uma delícia. Caminhava, na manhã seguinte, pelo pátio da faculdade e estava aborrecido comigo mesmo: pensava que uma noite com Elisa fosse o bastante para colocá-la no mar das esquecidas, mas não, eu ainda a desejava mais.

— Dominic, espere...

A voz de Sam me chamava enquanto eu ia na direção do prédio acadêmico. Diminuí o ritmo dos meus passos e esperei até que ele me alcançasse.

— Como vai príncipe, depois do banquete de ontem com a tua bonita?

Disse ele sorrindo, assim que seus pés emparelharam com os meus. "Tua bonita", repeti no pensamento as palavras de Sam. Não me agradava ouvi-lo chamar Elisa de bonita. Eu sei que parece uma loucura, mas este fato era um incômodo. Bem, o amigo tinha muito carisma e boa aparência: um rapaz de poucos centímetros mais baixo que eu, ruivo, de olhos verdes e um bom porte.

— Já lhe disse, pare de chamá-la de bonita!

— Vejo que a aventura de ontem não foi suficiente para lhe arrancar esta carranca. O que foi? Algum obstáculo?

Debochou.

— Nenhum. Tudo como esperado, ou melhor...

Olhei em volta para ter a certeza de que ninguém nos ouvia.

— Está bem. Tens razão, não foi suficiente.

Hesitei, e Holmes olhava-me esperando que eu terminasse o que dizia. Suspirei... era difícil explicar o que nem mesmo eu entendia.

— Bem, uma moça sem experiência com um homem... nunca sequer tinha sido beijada... queria ter ido mais longe, mas não foi possível.

— Não consumou o ato?

Lancei a ele um olhar agudo de reprovação pela ofensa atribuída.

— Claro que sim! Que pensas que sou?!

— Não compreendo então.

— Eu ainda a desejo intensamente... um violento desejo.

Sam fitou-me de forma muito estranha.

— Como teu amigo, devo lhe alertar: estás em um caminho perigoso. Se me permites que lhe dê um conselho: afasta teus olhos desta mulher.

— Exagero da sua parte.

— Não, não é! E sabes que estou certo.

Comigo, eu sabia muito bem que ele estava certo, mas, por ora, não queria admitir; ademais, a meu ver, o fato de não poder olhá-la era terrível e inconcebível; afinal, qual o mal que eu fazia em somente admirá-la?!

Sam parou os seus passos. Vi no seu rosto, sempre faceiro, uma seriedade.

— Dominic, escuta: se fores adiante com seja lá o que estás pretendendo, não conseguirás mais voltar. Entre tu e esta moça há um grande abismo. Eu achava que era um capricho da sua parte, mas vejo que não. Prova é que não se contentou em fazê-la tua... queres mais. Abre os olhos! Estás a um passo da sua ruína.

Minha surpresa foi grande pois o amigo trouxe à luz o que minha consciência ignorava. Não podendo ouvir mais verdades, cedi ao conselho de Holmes, não com facilidade, mas com imenso sacrifício, de forma que não a procurei mais, pedindo a ele, também, que cessasse com as informações do contato.

Sendo assim, evitei lembrar do seu olhar... ora submisso, ora atrevido (quando não lhe agradou o modo imodesto como lhe tratei); evitei lembrar do corpo mais formoso que meus olhos já contemplaram... e dos lábios mais macios em que eu já toquei... e do perfume de flores que exalava da sua pele; evitei evocar na mente a sua voz suave, com um sotaque que, na boca de outros, era estranho ao meu gosto, mas, na dela, era como a mais bela melodia; evitei memorar o belo sorriso que, por vezes, de longe, lhe via na face; evitei recordar do seu andar encantador; evitei, com todas as forças que encontrei em mim, pensar em Elisa...

Sentia-me como um louco, mesclando sensações de desejo, raiva e uma irritante impressão de estar preso a ela.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora