Capítulo 30

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Dominic


Foi com a raiva que tomei conselho quando parei o carro em frente à casa a qual pensei que nunca mais voltaria. Estava incrédulo, nervoso, transtornado, com o coração pulsando forte, os punhos cerrados e as suspeitas florescendo.

Depressa andei até o casebre e bati fortemente na porta. Poucos instantes esperei para que as luzes se acendessem.

— Quem é?

Aquela voz que tanto me atormentava... e que eu parecia não saber viver sem. Bati novamente.

— Quem é?

Perguntou Elisa outra vez, enquanto permaneci calado. No fim, a curiosidade venceu o silêncio e uma brecha da porta foi aberta por ela. Aproveitando-me da oportunidade, pus o pé no vão, empurrando a porta para entrar.

Havia um assombro no seu rosto perfeito, quando me viu.

— Você?! O que faz aqui?

Por um minuto, não lembrei de dizer o que queria. Meus olhos percorreram o corpo que não estava tão coberto. Ela usava uma camisola de tecido puído que lhe ficou transparente. Elisa, ruborizada com meus olhos esparramados em seu torso, correu em busca de algo que lhe cobrisse melhor, adentrando em um cômodo anexo.

Pude examinar, às pressas, a sala em que eu me achava; e os olhos que só viram a abastança, instantaneamente, repugnaram a pobreza. Quando voltou, cruzou seus braços sobre o peito.

— O que fazes aqui?

Sua voz havia assumido um tom hostil.

— Realmente não sabes?

Aproximei-me, vendo seus ombros encolherem.

— Vou lhe esclarecer... soube hoje que esperas um filho meu. Vim saber se é verdade. Seria terrível se o fosse, não achas?

Elisa ficou lívida, e tinha nos olhos pavor. Nada me respondeu.

— Essa sua gente é sempre ardilosa. No que pensou?

— Não pensei em nada além de salvar meu pai.

Disse ela, enquanto eu sorria em total descrença.

— Achou mesmo que sua artimanha fisgaria um Metherral?

As feições apresentadas pareciam não compreender o que era dito.

— Ah, sim, dirás que não sabia de minha posição... bem, aqui estou eu, Dominic Metherral.

Tornei-me muito sério, sem qualquer paciência para o que eu pensava ser encenação. Seu rosto perdeu a cor e suas pernas bambearam. Isso nada quis me dizer; poderia estar à minha frente uma excelente trapaceira descoberta em seu ato.

— Estás grávida?

Ela assentiu com a cabeça. Minha esperança era que dissesse que não. Suspirei lentamente.

— É meu?

Voltou a concordar com a cabeça.

— Retire! Não deixe prosperar esta criança. Eu não a quero!

Elisa recuou um passo e, trêmula, pôs as mãos na boca.

— Você é um monstro, um perverso! Eu nunca tiraria o meu bebê!

— Conheço bem a sua gente, não precisa fingir... diga-me o que queres: Dinheiro?! Quanto?

Seus olhos faiscaram e as lágrimas se desprendiam deles.

— Você é cruel... vá embora e não torne a voltar aqui!

Pus as mãos nos bolsos da minha calça e me aproximei olhando fixamente para ela.

— Não gosto que me enganem. O que pensas?! Que cairei em projetos atrevidos de uma mulher?! Não será tu, uma balconista morta de fome, uma caipira maltrapilha que mal sabe se portar, que irás me enganar. Nunca terei um filho teu! Nunca! Ouviu bem?

O rosto levemente levantado estava banhado em lágrimas, e suas mãos chamaram minha atenção pelos tremores.

"Senti alguma coisa semelhante a um remorso."

— Você... você não o tem, nem nunca o terá. Ele é meu. Saia daqui! Saia!

Dirigi-me à porta, mas não saí antes de alertá-la em ameaças.

— Veja lá o que farás... não contes a ninguém; não me envolvas nisso.

Apontei-lhe o seu ventre, e saí.

No caminho de volta, enquanto dirigia meu carro, revirei esse assunto em minha cabeça e concluí ter negado avidamente a justiça nas minhas ações. Eu a tomei como uma farsante, enquanto, no íntimo, sabia que suas ações eram isentas desses cálculos. Mas, naquela altura, tudo o que verdadeiramente procurava fazer era machucar a causadora dos meus sentimentos inesperados.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora