Capítulo 67

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Elisa, percebendo minha intenção, se afastou. Suspirei pesadamente fechando os meus olhos.

"Era sempre doloroso quando ela me rejeitava."

Após eu passar mais tempo do que desejava para entender como aquilo funcionava, o fogão estava aceso e funcionando.

— Demoraste... não tens o costume?

— Não, eu não tenho o costume de entrar em uma cozinha.

— Ora, e como fazes? Não vejo ninguém aqui que possa fazer isso por ti.

— Mas há. Está de férias, mas logo retornará.

Disse-lhe eu sem poder, no momento, inventar coisa melhor.

Entretanto, de fato, havia alguns projetos em minha mente, e trazer D. Charlote para casa de campo era um deles.

Fiquei apoiado no batente da porta enquanto Elisa preparava o seu chá, seguindo com meu olhar todos os seus movimentos.

Era tão delicada, tão feminina, que me fascinava.

Quando a chaleira apitou, Elisa circulou seus olhos pelo ambiente; em seguida, abriu, com certa dificuldade, o armário do alto, procurando alguma coisa; e ,depois de achar o que queria, pôs-se na ponta dos pés tentando, em vão, alcançar.

Vendo o que ela desejava, eu o fiz, pegando um jogo de chá e lhe entregando.

— Tu não tomarás o teu?

Virou-se para mim, fazendo esta pergunta.

— Não.

— Por que não?

— Como eu te disse, não sou eu quem o faz.

— Bem, tem um pouco ainda aqui.

Apontou com os olhos para o bule que estava sobre a bancada de mármore polido.

— Não sei se gostas deste. Qual costuma tomar?

— Chá preto com leite.

— Gosto deste... Hortelã.

Elisa perguntou-me se eu queria; embora não fosse o sabor que mais me agradava, mesmo assim, eu aceitei.

— Aqui está.

Disse-me, entregando-me a xícara ainda quente.

— Não é um dos meus preferidos, mas bebo; faço por ti, por ter sido feito por tuas mãos.

Elisa enrubesceu, e nos encaramos por um longo instante.

Não sei se era realmente agradável (ou se foi só por saber que foi feito por ela), mas me pareceu a melhor bebida do mundo.

Por algum motivo que eu não sei dizer o porquê, estávamos de pé, e não sentados à mesa como se deve ser.

Enquanto ela bebia devagar o seu chá, eu a observava.

— Por que me olhas tanto?

Perguntou-me de repente.

— Não consigo evitar.

Era-me, na verdade, impossível não olhá-la o tempo todo.

Sua testa franziu, e ela manteve o rosto voltado para o lado.

— Já é tarde, temos que ir.

Disse-lhe eu, passando os olhos rapidamente pelo relógio.

— Pois, não compreendo. Para onde eu devo ir?

Disse-me, olhando-me de novo.

— Não sei o que não compreendes, já conversamos sobre isto... eu tenho de ir a uma reunião na empresa, agora pela manhã; e tu terás de pausar seu estudo na universidade.

Seus olhos marejaram imediatamente; ela não pôde reter algumas lágrimas.

— Dominic, eu não quero ter de parar os meus estudos!

— Pensei ter sido claro...

Revoltando-se contra o que eu lhe disse, Elisa atirou-se para mim e, depois de arrancar com certa violência a xícara de minha mão, virou-se de costas e despejou todo o líquido na pia. Em seguida, aproximou-se do carrinho de bebê, pegando Benjamim no colo, e foi-se para o interior da casa com ele.

Quando voltou, tinha mudado sua roupa e trazia consigo a bolsa de Benjamim.

Passou por mim depressa (que lhe esperava no jardim da frente da casa), disparando em direção ao carro.

Durante todo trajeto, pelo retrovisor do carro, os meus olhos buscavam pelos de Elisa, que fugiam sempre.

Ela não me falou, nem me olhou, uma única vez.

— Vou deixar-te próximo ao campus.

Neste momento, Elisa fitou-me pelo retrovisor, mas nada disse.

Julgando pouco prudente deixá-la à vista de todos, pensei muito bem no que eu deveria fazer quando parei a caminhonete a duas quadras longe do campus da universidade, em uma rua de muito pouco movimento, o suficiente para não me preocupar.

— Aqui está a tua chave e o endereço da casa.

Ela pegou com pouca vontade, jogando tudo em sua bolsa.

Alcancei a minha carteira, retirando dali um bom valor.

— Aqui está... é para quando voltares. Tome um táxi.

Ela sacudiu a cabeça, negando.

— Elisa, eu não te quero por aí andando em um ônibus com meu filho; além do que, nem és capaz de acertar o lugar por ti mesma. Diga o endereço ao condutor, que o táxi deixar-te-á lá.

— Guarde isto contigo, eu não preciso do teu dinheiro.

— Não teimes comigo, o valor até lá não é baixo; tu, provavelmente, não o tens. Pegue um táxi.

Recusando o dinheiro que eu lhe ofereci, Elisa buscou o bebê da cadeirinha e o aninhou junto de si.

— Elisa!

Não obedeceu aos meus apelos e saiu batendo a porta sem poder eu ir atrás dela; quase morri de raiva.

Antes da empresa, e da cafeteria muito luxuosa a qual eu costumava frequentar, segui para minha cobertura, para trocar os carros.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora