Capítulo 27

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No final das aulas ainda me conservava na sala, postergando, a todo custo, a minha saída. Sentia-me muito humilhada, pensando em como eu poderia olhar para quem me estendeu a mão, ofertando-me o meu emprego. Pois bem, enquanto respirava pausadamente, tentando me aquietar, percebi que todos os alunos já haviam ido...menos um.

— Como vai você?

Perguntou-me Alícia, que já não se demonstrava mais tão amiga quanto antes, mas, ainda assim, de vez em quando, exprimia a mim algum ato de amizade.

"Pois, só depois, entendi que as migalhas de atenção que me oferecia eram, na verdade, em benefício próprio."

Entretanto, infelizmente, a situação me fez confidenciar-lhe o meu fado. Como resposta à sua pergunta, o meu pranto veio, e veio com força... minhas pernas tremeram, e fui amparada pelos seus braços. Alguns minutos passaram e, quando fiquei mais calma, ela apontou para a cadeira mais próxima de onde estávamos.

— Sente-se aqui.

Fiz o que ela me pediu. Alícia abriu sua bolsa e tirou dali um pequeno lenço de papel.

— Aqui está.

Entregou-me o lenço com o qual enxuguei as lágrimas que escorreriam pela minha face.

— Choras pelo teu pai?

Perguntou.

Neguei, sem falar.

"Houve um pouco de estranheza da minha parte pois, mesmo ela sabendo da terrível e dolorosa situação de saúde em que papai havia estado, nunca se interessou em me perguntar sobre ele."

— O que é então?

Pus as mãos no ventre esperando que entendesse, em gestos, o que não pude lhe explicar em palavras. Suas mãos foram à sua boca e, quando abaixou, vi um lampejo de um sorriso, mas que rapidamente se apagou.

— Estás à espera de um filho?! É isto o que entendi?!

— Sim, estou... um pouco mais de seis semanas; o doutor me assegurou.

— Oh, eu não sabia que possuías um afeto!

O choro veio, novamente, pela sentença.

— Mas o que é isto, Elisa?! Ora, isso é coisa para lágrimas?!

Alícia, que estava sentada, levantou-se e veio ter comigo, segurando em minhas mãos.

— Não me esclareças, teu sofrimento diz tudo: não queres a criança.

Mirei-a com meus olhos cerrados e, já caladas as emoções, consegui lhe dizer:

— Eu a quero sim... ela é minha. Mas as circunstâncias não são favoráveis.

— E o pai, quem é? Eu o conheço? Certamente que não, se for daquele fim de...

Ela estancou o discurso, mostrando-me uma expressão de inquietação no rosto.

— Daquele lado de onde tu vieste? Qual é mesmo o nome?

— Lester.

— É de Lester? Ou é daqui da faculdade?

Não lhe respondi. O que pensaria de mim ela (e qualquer outro) se soubesse a verdade? Tornar-me-ia uma suspeita aos seus olhos; uma aventureira que se sujeitou a uma situação ultrajante... ainda que para conseguir um bem maior. Como poderia dizer-lhe que, do pai da criança, eu só sabia o nome? E que eu nem estava certa de ser verdadeiro? Saí de lá às pressas, escutando-a ainda a me chamar.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora