Capítulo 8

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Começava a sentir o perigo que uma moça como eu aturaria em um lugar como aquele. Não que eu os temesse, mas não poderia negar a dificuldade que se estampava pela minha frente.

Suspirei, enquanto, meus olhos, de longe, continuavam a observar a pomposa Metherral University; ela fazia jus ao que era dito dela. O prédio medieval, de paredes externas feitas de pedra local, com seus altíssimos andares, revelavam o poder de gerações. O prédio era sitiado por um vasto campus verde, com espaçadas árvores frondosas; uma beleza exuberante, quase hipnotizante.

— Elisa Collier! Olhe para mim!

Pediu a senhora Mariley, um pouco mais séria do que costumava ser.

— Você vai passar por este portão com a cabeça erguida. É uma menina de ouro, muito bonita, talentosa e excepcionalmente inteligente. Nada do que escutou neste campus faz juízo de ti. Agora, vamos! A lista com o resultado já deve ter saído.

Ela envolveu-me com seus braços e trouxe o reconforto familiar do qual eu precisava.

— Sim! Vamos!

Disse-lhe eu, antes de ser puxada abruptamente pela senhora Harriete. Nós passamos pelo portão que se abria, para, logo em seguida, a professora abordar o porteiro.

— Bom dia! Vim em busca do resultado da bolsa permanente, já deves saber.

O senhor, uniformizado impecavelmente, como um daqueles mordomos de um rico palácio, a encarou com indiferença.

— Bom dia! É por aqui.

Ele apontou para direção indicada e continuou a falar.

— Há uma lista colada na parede, com os nomes e os gabaritos. Caso tenha sido aprovada, leve a documentação necessária para o segundo andar, na recepção.

O homem tinha boas maneiras, entretanto, nos informava de forma mecânica, incapaz de mostrar um sorriso.

— Muito obrigada!

Agradeceu a senhora Harriete, enquanto o porteiro limitou-se com um mísero aceno de cabeça.

E assim, conforme o caminho se encurtava, olhares soberbos e palavras ácidas continuavam ecoando ao nosso redor; um mundo de gente que, deveras fosse numeroso, não preenchia a imensidão do campus universitário.

Meu coração acelerou muito quando os meus olhos, no alto, vislumbraram o nome na pequena lista colada na parede; um nome que, confesso, duvidei que estaria ali.

— Parabéns! Você conseguiu minha menina! Em primeiro lugar! Em primeiro lugar! Como estou contente! Como estou contente!

Ela repetia eufórica e copiosamente, transbordando de felicidade. Minhas mãos suavam e tremiam enquanto eu cobria, incrédula, a boca.

Chorei... e as palavras não chegaram para explicar tudo o que eu sentia. E só o que consegui foi lhe abraçar.

Neste mesmo dia, fomos a Berl, o bairro simples onde se encontrava uma das casinhas da qual a irmã da senhora Harriete gentilmente me emprestou.

— Ficaremos por aqui esta noite e, pela manhã, bem cedinho, voltaremos a Lester no primeiro ônibus.

Dizia a senhora Mariley, enquanto retirava os panos de cor branca que cobriam os móveis do pequeno e aconchegante imóvel.

E foi desse jeito que aconteceu. Antes mesmo da alvorada chegar, já estávamos a caminho de casa. Era uma viagem longa, de quase meio dia.

Para minha surpresa, o condado inteiro me recepcionou; e as congratulações começaram assim que os meus pés pisaram sobre o solo arenoso de Lester. Mamãe não segurou a língua quando lhe contei, por telefone, a boa notícia.

Papai me felicitou, embora a preocupação firmava claramente o seu rosto. Mais tarde, ele me entregou o pouco que tinha — as economias de uma vida inteira; o necessário para o início de uma jornada. Aceitei com a intenção de lhe retribuir cem vezes mais.

Não poderia dar outro nome a este dia, a não ser, felicidade.

"Como poderia eu imaginar o que estava por vir?!"   

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora