Capítulo 44

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Minutos depois, D. Rose retornava com um embrulho em suas mãos.

— Elisa, este uniforme já não lhe serve para o uso; vista este aqui. Creio que esta medida lhe sirva; não será por muito tempo, só até Ava chegar.

Eu me levantei, recebendo de suas mãos aquele pacotinho, examinando-o enquanto o abria.

— Se Carolina Metherral, a reitora desta universidade, lhe vê assim...

D. Rose torceu o nariz e, em seguida, continuou no que dizia:

— Ela é meticulosa e não suporta nada em desalinho; fará cara feia e, se for só isto, ainda estará bem...

D. Rose não explicou o "ainda estará bem", e só mais tarde entendi perfeitamente o que ela quis dizer.

— Já vejo que não gostas muito dela.

— Há quem goste de semelhante criatura?

Dizendo isto, D. Rose sacudiu a cabeça, passou por mim e sumiu pelo interior da lanchonete.

Dois dias depois dessa conversa, a sobrinha da minha patroa chegou para me substituir. Ava era uma mulher espontânea e muito amigável, tão gentil quanto sua tia; e não era só na personalidade que se pareciam, mas na aparência também: prova disso era o tom igual de castanho que seus cabelos possuíam, sendo ambas altas e com o corpo esguio.

Ela levava com divertimento as críticas e repreensões que os presunçosos acadêmicos frequentemente lhe faziam.

"Eu já estava muito acostumada com todo aquele pedantismo deles, afinal, atendê-los era o meu dever."

********

Já eram quase seis horas da tarde, eu estava sentada à mesa, na salinha da administração, em meio ao trabalho que havia sido a mim designado como nova função, quando ouvi baterem à porta e pedi para que entrasse.

— Meu anjo, você não vai?

Perguntou-me Ava, logo que entrou.

— Achas que devo? Me serviria realmente para alguma coisa?

— Nem perguntes! Está claro que sim. Uma palestra sobre finanças é de serventia para qualquer pessoa, Lisa. Imagine quanta sorte isto estar disponível para todos os acadêmicos... poderia ser só para os alunos de alguns cursos, mas, felizmente, é para todos.

Tive de concordar com ela.

— Eu não duvido disso, Ava, no entanto, ainda estou no meu expediente e não...

— Tu me cansas, Lisa! Deixa disso, falta uma hora para teu expediente acabar. Que catástrofe pode acontecer quando tu estiveres fora daqui neste tempo? Vá logo e me diz depois o que aprendeste; sou tão atrapalhada nesse assunto... é certo de que hei de precisar.

Piscou para mim e saiu aos risos.

Eu ainda estava espantada por ela falar daquele jeito comigo, entretanto, segui o seu conselho me levantando, pegando a minha pequena bolsa e tomando o caminho da saída; mas, antes disto, eu a avistei de pé, debruçada no vazio balcão da lanchonete; o serviço achava-se monótono e essa ausência de alunos era resultado do evento que aconteceria naquele dia.

— Estava resolvida a não ir, mas tu convenceste-me do contrário.

Disse-lhe eu, me aproximando.

— Sua sortuda! Veja você que deve ser algum figurão, pois a cada metro tem um enorme lembrete fincado nas paredes desse ilustre palestrante.

— Deve ser... faça-me um favor, Ava: se a sua tia chegar, diga que termino tudo amanhã e, também, se preciso for, ficarei até depois do expediente.

— Pois sim, podes ter certeza que titia lhe pedirá isso, Lisa, que fiques após o expediente... você não a conhece?!

Bufou, desacreditada do que eu lhe falava. Depois, mirou o dedo para o relógio da parede e, em seguida, me enxotou com as mãos.

— Vá logo, está atrasada!

— Já entendi! Estou indo.

Saí de lá às pressas porque a palestra já estava para começar, e seria no último andar do prédio acadêmico. Eu caminhava com os olhos no chão observando e achando graça do deslizar dos meus pés; e o que me parece mais acertado de dizer é que o meu andar estava parecendo com o de uma pata.

O saguão dos elevadores já se aproximava e, erguendo brevemente o rosto, vi a porta de um dos elevadores se fechando.

— Oh, espere, por favor, não deixe que a porta se feche!

Pedi, na esperança de que, se alguém estivesse ali dentro, a fizesse parar. Foi com um enorme alívio que vi o movimento de uma grande mão impedir que a porta se fechasse.

Apressei o passo, desviando de novo os meus olhos para o chão, sem prestar atenção a coisa alguma à minha volta. Entrando no elevador, o meu alívio desapareceu e os meus olhos se encheram de terror assim que levantei o rosto para agradecer a gentileza.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora