Capítulo 23

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A figura intimidava: um homem de cerca de vinte e cinco anos, alto (com mais de um metro e noventa de altura), com belos traços aristocráticos e constituição corpulenta. Muito bonito... cabelo liso e louro, olhos entre o azul e o verde.

A cabeça inclinava-se para trás e seus olhos dirigiam-se para baixo, como se o objeto de seu olhar não valesse muito esforço.

— Desça.

Disse ele, com frieza, a fatal palavra. Eu acatei a exigência, não por querer, mas por precisar; e assim fomos, um ao lado do outro, em direção à casa campestre, sem dizer uma palavra.

O lugar era vistoso e, se não fossem as circunstâncias, eu guardaria na memória a sua beleza com felicidade. Dentro da casa, ele me olhava de maneira estranha. Havia, certamente, ódio e fascínio em seu olhar.

"O que me deixou ainda mais nervosa."

Depois que acendeu a lareira, aproximou-se de mim lentamente, olhando-me outra vez intensamente.

— Já foi beijada? Já esteve com algum homem?

Perguntou-me.

Eu neguei com a cabeça e vislumbrei em seu olhar um tipo de satisfação. Suas mãos tocaram meu rosto, fazendo-me repeli-lo intuitivamente.

— Arisca...

Disse ele, sorrindo fracamente. Eu o mirei com muita irritação, mas engoli as palavras que não puderam ser ditas.

Ele voltou seu corpo novamente para perto de mim, cercando-me e observando-me, silencioso. Eu estava aturdida, esperando o pior. Tentei portar-me com mais naturalidade, mas aquilo tudo era muito difícil para mim. De repente, ele me puxou mais para junto de si e me beijou. Seu beijo não era calmo, tinha notas de desespero. Em seguida, afastou ligeiramente o seu corpo do meu.

A maneira indecente com que me olhava trouxe rubor ao meu rosto. Desviei o olhar, e as lágrimas caíram quando as alças do meu vestido foram abaixadas por ele. Não só meu corpo foi exposto, mas toda minha vergonha.

O grau de inocência que eu possuía não era tanto que não me deixasse saber o que estava prestes a acontecer.

" Era errado de tantas maneiras..."

Assustada, foi como me senti quando suas mãos quentes iam assim correndo em carícias por todas as partes do meu corpo. Ele me ergueu nos seus braços para deitar-me na cama com ele. Adiante, cobriu com beijos castos a minha pele enquanto se fazia dono de mim.

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Sua mão estava estendida na minha direção, e esta segurava um envelope.

— Aqui está seu pagamento. Foi divertido...

Disse ele, depois do ato da minha desonra. Minhas mãos trêmulas apanharam o fruto da minha humilhação.

— Espero que não alimentes esperanças ilusórias; fiz contigo o que faço com qualquer meretriz.

Suas palavras e os seus frios olhos cianos buscavam, com certa força, ferir-me a alma. O modo grosseiro como me tratou deixou-me sem a menor das dúvidas de que fui um objeto.

Voltei-lhe as costas... não lhe dei o gosto de ver as lágrimas que me lavavam o rosto.

— Seu nome?

Perguntei. Eu precisava saber, ao menos, o nome de quem tirou de mim a virtude.

— Dominic.

Esta foi a última palavra que ele me dirigiu, permanecendo altivo e calado durante todo o regresso do trajeto.

Em casa, não pude dormir: uma onda de cólera, terror e vergonha me dominou. Chorei muito naquela noite... eu sabia que o que fiz era mau, mas o bem maior de tudo isso era dar a chance de viver que papai merecia.

Pela manhã, no primeiro horário do banco, o valor já estava depositado na conta dos meus pais.

Tão pior foi a mentira que contei... nunca havia feito nada parecido. Disse à mamãe que o dinheiro que consegui havia sido um favor de uma amiga da faculdade, alguém de extrema bondade para quem o montante não passava de alguns trocados. Minha mãe não suspeitou, ela tinha confiança em mim... e garantiu que pagaria cada centavo à nobre alma que nos fez o favor, nem que, para isso, trabalhasse por toda a vida. Sua resposta não me surpreendeu, sendo meus pais pessoas que não gostavam de dever a ninguém. Essa dor de enganá-los era mais um peso que eu estava a suportar.

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora