Capítulo 59

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Dominic


Me surpreendi com o que eu vi: Elisa estava um pouco abatida, como se tivesse passado a noite toda chorando; no entanto, sua beleza continuava igual, era muito superior a qualquer outra, pois, mesmo em condições de indisposição, continuava linda.

— Oi! Bom dia.

Disse-lhe eu em um tom conciliatório, procurando ser gentil.

Ela não me disse nada e ficou na porta, imóvel, calada, fuzilando-me com os olhos. Hábil, dei um passo à frente, introduzindo-me ao interior da sala, enquanto Elisa, rapidamente, recuava de costas. No mesmo momento, o choro do meu filho ficou ao alcance dos meus ouvidos.

— Espere um instante.

Disse-me ela assim que o choro do bebê ficou mais alto; adentrou apressada no quarto e depois voltou com Benjamim nos braços. Os olhinhos cianos do meu filho observaram todo o cômodo até pararem em mim. Não evitei o sorriso.

— Permitas que eu o pegue?

— Não é preciso.

Disse ela, entre dentes, sufocada de tanta raiva.

— Eu insisto.

Não esperei a resposta e o peguei de seus braços. Elisa não teve outra alternativa senão me entregar o menino.

— Tome cuidado.

Observou, com sua evidente irritação.

Sem jeito, eu tentava acomodá-lo em meu colo, tendo a ajuda dela. A sensação de carregá-lo em meus braços deixou-me vibrante de felicidade.

Elisa ficou calada; movia tão somente os olhos que, muito bonitos, fitavam, ora no bebê, ora em mim.

— E agora, o que será?

Perguntou-me ela, no fim de um tempo de silêncio.

— Bem, já penso em irmos; temos um longo caminho pela frente.

— Saibas que, hoje, graças a ti, estou perdendo o meu horário de aula, e nem pensei ainda em como remediar esta falta. Como sabes, aqui é um lugar distante e sempre tenho que acordar bem cedo. Deixar Benjamin na creche do governo para, logo depois, ir à faculdade, custa muito do meu tempo...

Não escutei mais nada depois que Elisa mencionou a creche do governo; fiquei chocado, quase atordoado.

— O que disseste?! Podes repetir?

— Que há de ser?! Não prestaste atenção?! Pode te parecer coisa pouca, mas, para mim, é muita...

— Creche do governo?! Ora, não deverias tê-lo posto lá junto com aquela gente.

Demonstrei-lhe o meu desagrado.

— Aquela gente sou eu... e também ele.

Rebateu-me prontamente.

— Não o quero lá!

Dei a ordem.

Ela cerrou os olhos, fixando eles em mim.

— Bem, é preciso; já te disse o motivo; agora, se tiveres outra sugestão de como...

Não a deixei terminar a fala, fui astuto e, mesmo fervendo de raiva, vi nesse infortúnio uma oportunidade.

— És a mãe... ele ficará contigo. Pause a faculdade se for preciso.

— O quê?! Ah, não, isso não!

Disse-me ela ferozmente e com as narinas se dilatando. Depois, respirou fundo e abrandou a voz; deve ter compreendido que seria inútil se dispor contra mim.

— Dominic, tenha boa vontade... sou bolsista e sabes que não posso... perderei a bolsa permanente. Eu quero continuar a estudar e me formar.

Diante do meu silêncio, ela insistiu, tremendo nervosamente as mãos.

— Ouça, penso que não seja para tanto aborrecimento. Será melhor ires conhecer a creche; é de confiança; se quiseres...

— Basta!

A minha voz tornou-se um pouco alta pela irritação.

Elisa virou o rosto e se dirigiu a um canto da pequena sala. Sabia que ela havia recorrido às lágrimas e se escondia para que eu não pudesse ver.

— Peço desculpas.

Disse eu num tom de voz mais baixo, penalizado.

— Sinto muito ter elevado a voz. Apenas não permitirei meu filho em nada do governo; e penso que sua criação deva ter, unicamente, a influência do pai e da mãe. É o certo; e será assim.

Inventei um pretexto que se prestasse à minha vontade.

— Pois fique sabendo que isso é maldade da sua parte; sabes que, dessa forma, eu vou perder a bolsa permanente... vou perder a bolsa!

Continuou no canto escondendo o rosto, que sabia muito bem estar banhado em lágrimas.

— Deixe Benjamin crescer, pelo menos, um pouco mais, e, depois, eu pagarei os teus estudos. É uma promessa que eu te faço.

— Que escolha tenho eu?!

Apesar de eu não gostar, eu estava lhe induzindo medo, e ela acatou as minhas exigências; entretanto, não satisfeita pelas resoluções, virou-se com fúria para mim; seus olhos vermelhos e molhados cruzaram com os meus, e, com a língua ferina, ela me disse:

— Eu te odeio! Eu te odeio tanto...

Impossível Para MimOnde histórias criam vida. Descubra agora