Capítulo 15

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Eu quero ir, mas não "o mesmo querer ir" que as meninas da minha idade iam querer. Saí do banheiro e deixei o cabelo secar naturalmente, tomei café e fiz um coque alto; só para tirar a agonia que cabelos no rosto me causam. Pretos vibrantes, e não por ironia meus olhos são do mesmo tom. Minha pele sempre foi branca, não amarela, é o tipo branco papel, o que me faz chamar mais atenção do que eu realmente deseje.

Quase todas as meninas aqui são loiras, o que podemos chamar de genética. Meus pais são loiros, o que me faz acreditar que a genética é uma metáfora, porque ela deve ter passado bem longe de mim, meus lábios geralmente são corados , sou grata por isso, me tira do preto e branco. Vesti as roupas que comprei no dia anterior e não peguei a bolsa, hoje não precisaria dela. O som da buzina me fez se apressar. Era sábado.

O primeiro rosto ao ver ao sair foi o de Sandy Scaëfer, que é ainda mais linda do que nas revistas. Quando cheguei perto do carro, ela pulou para fora, me saudou com um abraço e sentou no banco de trás. Seu cabelo que era longo e loiro, estava puxado para trás e preso à uma fita dourada.

-Não se preocupe Sandy, você pode ir na frente, se preferir. –Eu falei. Realmente não se importava.

Ela sorriu e depois olhou para o irmão.

-Arthur disse que bancos da frente são feitos para casais reais e não para uma princesa em sua pré-adolescência.

-Memória incrível. –Disse o príncipe sorrindo, corei, mas passou logo, em geral não sou tão inclinada para a vergonha.

-Queridos? –Minha mãe saiu de casa com meu violão.

Sobre os pais: se você não faz burradas... Eles as farão por você.

-Será genial de sua parte se tocar quando chegar lá, filha. –Sandy recebeu o violão na janela do banco de trás e começou a dedilhar o instrumento.

-Sempre achei lindo tocar e tudo, nunca tive a oportunidade de pegar em um desses aqui como agora, quem sabe você me ensine tocar, Aliça. O que você acha irmão?

-Se ela não cobrar tão caro. –Disse sorrindo e piscando para Sandy.

-Querido Arthur, só o dinheiro que tenho no cofre de meu quarto é o suficiente para comprar vocês dois e mais esse carro aqui... E quem sabe o bosque, então não se preocupe com o valor das aulas. –Ela disse com certo poder na voz e sorriu.

-Você é bem persuasiva para sua idade mocinha. –Ele disse fazendo uma cara feia para ela.

O resto da viagem foi bem divertida. Quando enfim chegamos, paramos em frente a um portão imenso onde dois guardas estavam na vigilância. Cada passo era um suspiro, eu tentava esconder a admiração, mas era tão evidente. Uma espécie de paraíso verde na terra.

-Gostou? –Falou o príncipe.

-Isso é... Estou sem palavras. FANTASTICO! Isso! Uma boa palavra.

-Venha! Temos até o pôr do sol para aproveitar.

Ele saiu me puxando com uma das mãos, tão rápido que me fez dar um pulinho. Sandy ia à nossa frente, arrastando uma cesta com algumas coisas, ao lado de um dos guardas que tentava ajudá-la, falhando, é claro.

Paramos em um lugar com vista para uma represa enorme, meu olhar se perdeu tentando encontrar o fim. Vi uma ponte estreita que se estendia até o meio do rio, terminando em um chalé aberto, onde havia um sofá que me pareceu confortável, uma mesinha e algumas almofadas jogadas. Ventava bastante.

-Por onde você andava, Aliça?

-Como assim? –Sorri.

-Foram dezessete anos na mesma província e não lembro de nem se quer uma vez ter a visto.

-Eu via você! Na verdade quase todos os dias. Televisão, jornal, revistas, fofocas. Quer a lista completa? Nunca me interessei, mas é quase impossível não ver o que nos rodeia.

-O seu celular. –Ele apontou para o meu aparelho que tocou no bolso. –Acho melhor olhar logo, o sinal não deve durar muito tempo... Não no seu celular. –Ele riu com a piada. Provavelmente o aparelho dele não ia ficar sem. Nunca vi outro celular móvel parecido.

-Oi Noah! –Falei quando vi o nome de contato.

-Você quer vir para minha casa em meia hora? Comprei outros filmes. –Ele convidou.

-Eu não acho que seja uma boa ideia, Noah. Desculpa.

-Onde você está? –Ele perguntou.

-Em algum lugar fora da cidade.

-Com quem?

-Não interessa, Noah! –Falei alto. Era descabido aquele interrogatório.

-Então tá. Até! –Ele disse. Eu apenas desliguei.

-Desculpe. – Arthur olhava a irmã ir pulando na pequena ponte de madeira até o chalé.

A tarde se resumiu em conversas alegres e risos, toquei e cantei, em alguns momentos Sandy tentava me acompanhar com a voz, até que ela dormiu encostada em minhas pernas.

-Você quer que eu a ponha no sofá?

-Não! Está ótimo assim, só me passe essa almofada ai. –Peguei a almofada e a coloquei em baixo da cabeça dela, o que a fez se aconchegar ainda mais, Arthur me contou sobre a morte do pai e como estava lidando com isso. Quando se demos conta, o sol estava se pondo.

-Isso é maravilhoso, Arthur! –Disse animada.

-Eu costumava vir aqui com meu pai, antes de...

-Arthur? –Chamei sua atenção.

-Diga!

-Você precisa ter seu pai como lembrança viva e não como um momento passado, você deve sentir gratidão pela existência dele na sua vida e parar de sentir tanta tristeza e culpa.

-Você tem razão! –Ele disse e deu um beijo na testa da irmã. Ela ainda estava sobre minhas pernas.

Arthur me ajudou a ficar de pé quando resolveu que devíamos ir, pegou Sandy com um braço e me puxou com o outro livre. Os guardas trouxeram tudo que tínhamos levado até o carro e bateram continência quando partimos. Uma hora e meia demoraria a viagem de volta, a princesa não acordou nem se quer uma vez. O clima de família pairava no interior do carro.

-Foi realmente muito bom estar com você, não precisei forçar nem um sorriso, você me roubou todos, e essa menina... –Disse ele tirando os fios de cabelo do rosto da irmã. – Provavelmente é sua nova fã.

-Eu que agradeço, Arthur, foi maravilhosos estar com amigos, nunca tive contato tão próximo com pessoas que não fossem meus pais, mas para começo vocês merecem elogios. –Ele abriu um sorriso que me pareceu o mais confortável até agora, realizado. O príncipe me deu um empurrãozinho no braço, o que fez o corpo de Sandy balançar.

–Você vai acordá-la. –Reclamei.

As luzes da cidade brilharam, diziam que estávamos em casa, desci e disse para ele deixar o violão com ela e agasalhei-a com meu casaco preto, ela parecia sonhar, Arthur jogou minhas chaves rindo. Sorri e entrei. O carro demorou uns quatro minutos depois até fazer o barulho de motor rugindo como pantera.

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