Capítulo 63

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-Nem sei o motivo de ter chamado você aqui. Apenas sinto muito, por tudo que passou.

-Eu entendo. -Sorriu fitando o chão.

-Nunca sabemos o que a vida quer proporcionar, se existe Deus, também seremos incapazes de entendê-lo.

-Concordo. Penso da mesma maneira.

-Não sabemos o porque de você ter sobrevivido, mas agora você está aqui. -Olhei. -Quer falar algo? Não sou a pessoa mais sensível da casa, mas... -Dei de ombros.

-Não tinha muito o que se fazer, nem eu mesmo pensei que sairia vivo, foram segundos antes de todos estarem em uma poça enorme de sangue. Eu não pude fazer nada, e não entendo nada no momento, só sinto que nada é real, que não aconteceu.

-Tudo bem! Tudo ficará bem. -Toquei em seu ombro. -Quer um abraço? -Ele suspirou e olhou para o céu. -Mas não sou boa nisso. -Forcei um sorriso. Ele abraçou-me gentilmente. Fiquei um tanto tensa e dura, mas era o melhor que podia fazer, não gosto de transparecer emoções. -Tudo ficará bem, Fred! -Falei com sua cabeça em meu ombro.

Era uma droga está abraçada com alguém, e ainda mais um total estranho, mas eu realmente sentia vontade de ajudar. Não sabia se era hora de soltar ele, nem se ele estava esperando eu parar de abraçar.

-Quer parar? -Perguntei.

-Que tipo de pessoa pergunta para poder cortar um abraço? -Sorriu.

-Não gosto disso, me sinto invadida.

-Estranho. Mas, tudo bem.

-Você ficará aqui? Não acha que pode ser perigoso?

-Confio em Arthur, somos uma família. Nada há de me acontecer.

-Você sabe que agora, com a morte de pessoas importantes, nada será como antes. Não é?

-Percebi isso mais cedo. -Rebati, seus olhos eram bonitos, não por cor, mas havia algo de novo, como se, não tem lógica.

-Quem é você?

-Sou Nicole Harris.

-E o que há por trás disso?

-Alguém sem sentimentos, ou ao menos que não gosta de tê-los, então creio que podemos voltar para o palácio.

-Você cheira há medo. -Concluiu. -Parece que se tranca de algo.

-Não gosto que me avaliem.

-Não estou!

-Que bom! -Olhamos para o céu, só a lua enfeitava, não havia uma estrela se quer.

-É lindo poder olhar o céu, e não sentir nada. -Ele entregou.

-Como nada? -Questionei.

-Nada de dor, nada de problemas. Quando você olha para o céu, parece que não existe nada abaixo dele.

-Eu acredito nisso. -Não o olhei.

-Onde está seu pai? -Fred perguntou. Não reconheci a raíz da pergunta.

-Onde está o seu? -Defendi.

-Bem... O meu está ocupado, ele é bastante atarefado, e carrega nas costas, grandes responsabilidades.

-Por isso você está aqui. -Concluí. Levantei do banco, comecei chutar algumas folhas no chão, e andar por todo o caminho à frente. Ele seguiu.

-Você gosta desse lugar?

-Sim. Me lembra infância, família, mas...

-Mas?

-Mas também me lembra todas as mortes, minha tia Beatrice, meu tio, o choro de Sandy, a morte... São coisas ruins.

-Quer um abraço? -Ele me surpreendeu.

-Por que eu iria precisar de um?

-Todos precisamos. Nenhum ser é auto suficiente.

-Um. -Dei de ombros e continuei caminhando.

-O que é isso? -Adams olhou para o pequeno papel em minha mão esquerda.

-Achei no jardin, mais cedo.

-Por que ainda está com ele?

-Um... Porque gostei da frase.

-Mostre!

-Uma história sempre pode ser mudada. -Tirei os olhos das palavras e o olhei. Ele parecia pensativo.

-Intrigante. Quem será que fez isso?

-Não sei. Mas gosto da frase. -Bocejei.

-Você parece cansada. Agora concordo em voltar. -Sugeriu.

Andamos em silêncio, fizemos todo o caminho de volta, dei mais alguns bocejos, eu estava exausta. -Opa! -Tropecei, Fred segurou meu braço, impedindo-me de comer grama.

-Efeitos do sono. -Disse.

-Venha! -Chamei. Passamos para os olhares das pessoas lá fora, a essa altura, todos deviam estar especulando quem seria Fred, e o porque de estar aqui.

Entramos na sala, ao mesmo tempo que o nome de Fred Adams foi chamado no gabinete.

-Acho que será ideal dormir um pouco, moça. -Indicou.

-Sim. Estou de todas as formas cansada.

-Até mais. -Fez gesto com a cabeça.

-Até mais! -Saí, deixando ele a abrir a porta de onde Arthur estava.

Entrei no quarto e fechei a porta. Me encostei nela. Fechei os olhos. Que cansaço!
O que seria de toda essa confusão agora? As coisas cada dia que passava, ficavam piores, Arthur só se enrolava, tudo estava desmoronando, e é difícil pensar que tudo dará certo.


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