Capítulo 21

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Na segunda-feira antes de ir para a UW, escutei minha mãe falando baixo com meu pai, não o bastante para me impedir de ouvir, eles não me viram, o que me levou a continuar lá.

-Você teve bastante tempo para resolver isso com ele, querido. –Minha mãe dizia a meu pai.

-Mas não para convencê-lo a nos conceder mais tempo. Papai respondeu a ela e logo depois mamãe virou e me viu.

-Bom dia!

-Bom dia, meu amor. Disse meu pai em tom suave.

Depois de tomar café fui para faculdade, as aulas foram normais, fiz alguns testes no laboratório, mas só. Voltei às 13h e sentei no sofá junto a meu pai.

-Preciso ir à fazenda no sábado, você pode avisar o caseiro?

-Sim querida. Você irá só?

-Arthur e Sandy. Estaremos de volta ás 18h do mesmo dia.

-Certo. Não se preocupe com a hora, quero que você se divirta! –Ele disse dando uma piscada.

  Estudei durante toda a tarde e virei a noite, tinha seminário sobre material genético. Só percebi que não havia dormido, quando me assustei debruçada sobre os livros, meio descabelada e com uma dor de morte nas costas, mesmo assim me arrumei para ir à Universidade, não podia dar-me ao luxo de perder notas. Se arrumar para Aliça é nada mais que banhar e vestir qualquer coisa que seja de tecido ou jeans. Sorri.

  Na Universidade estava tudo meio tumultuado, as avaliações iriam ser duras e as notas em questão seriam altas de mais para perder, meu grupo foi o último.

-As sequências de bases nitrogenadas do DNA formam uma sequência de bases de RNAm... –Explicava Parker olhando para a nossa projeção em  3D à frente da lousa. Todos explicaram bem, e acabei tirando a maior nota individual, não posso reclamar da sorte. –Eu ri sozinha. Enfim iria ter o resto da semana livre.

  Antes de voltar para minha casa, passei pelo Gramal. Alien estava lá, lindo e esbanjando liberdade, conversei por cinco minutos com ele, falei sobre Arthur e de como ele tinha sorte de ter ganhado liberdade, o cavalo apenas me olhava, no fundo eu sabia que ele entendia, passei a mão na crina dele e despedi-me, ele iria ficar bem.

Na sexta-feira fui até o segredo. Fazia duas semanas que não ia até lá, saí ás 10h da manhã, almocei lá e me diverti bastante, nenhum lugar me fazia tão bem como aquele, voltei ás 18h como de costume.

Andei analisando as duas últimas conversas que ouvira entre meus pais, ou ao menos pedaços de uma, eu os conheço bem, convivo todos os dias durante dezessete anos, e afirmo: há algo errado, melhor dizendo; algo muito errado.


∞∞∞∞∞

Sábado 07h35min

-pegou tudo, filha?

-Sim! E afinal será apenas uma tarde, não vamos morrer, mas está tudo aqui. –Gesticulei para bolsa.

-Cuide de tudo lá, meu amor! Confio em você!

Ele deu um tipo de cumprimento de amigos, um soquinho na mão. Pequei minha bolsa de costas e saí. Arthur e San já esperavam do lado de fora, ela desceu e veio-me dar um abraço, abri a porta de um dos bancos traseiros e ela entrou, Arthur sorriu e partimos.

  Guiei-o por todo o caminho, mesmo conhecendo a região ele parecia gostar de me ver explicar algumas coisas.

San não parava de falar, quando enfim chegamos, o velho caseiro nos esperava com um sorriso fraternal, abraçou San e pegou na mão de Arthur em cumprimento.

Deixamos tudo que tínhamos levado no casarão, não era luxuoso, mas era espaçoso, tinha uma área que dava a volta na casa, algumas redes  e a janela do quarto principal tinha vista para uma das cachoeiras.

-Isso tudo aqui é tão...

-Tão o que, Sandy? –perguntou Arthur para a menina.

-Acolhedor, familiar, eu gosto disso. –Ele me olhou sorrindo.

Fiz um lanchinho na cozinha e depois os acompanhei até o estábulo, pedi para San pegar a bolsa com algumas coisas, caso precisássemos, cada um em um cavalo se despedimos de John, ele nos deu algumas instruções e pediu cuidado, disse que se o tempo fechasse deveríamos voltar no mesmo instante.

-Cuide dessas mulheres, realeza. –Disse John para Arthur

-Como não cuidar velho John, não se preocupe, não tardaremos. -E assim os cavalos começaram a marchar.

Sandy foi no meio, como tinha apenas  nove anos, sua altura não atrapalhava o dialogo entre nós.

-Há quanto tempo sua família tem essas terras, Aliça?

-Muito antes de eu nascer, nunca perguntei isso a eles.

-Antes de o nosso reino tomar essas terras, elas pertenciam ao Império.

-Serio, Arthur?

-Sim! Mas provavelmente seus pais a compraram de outra família. –Ele deu de ombros.

-Talvez.

-Arthur? Vamos por ali? –Sandy gritou e Arthur consentiu, ela  parou o cavalo e desceu, fomos em seguida, deixando os cavalos parados lado a lado.

Era uma espécie de lagoa, cercada por areia  fina e pedrinhas, era nítido o fundo, algas, peixes de espécies e tamanhos diferentes e pedras, peguei algumas e ensinei San a jogar sobre a água, ela continuou fazendo isso por uma hora de tempo, até ficar tão boa quanto eu.

  Sentei ao lado de Arthur, que antes parecia estar em um tipo de transe, olhando em nossa direção, ele disse que chegou a pensar nunca mais ver um sorriso verdadeiro da irmã, ela era apegada com o pai, ele sempre encaixava ela na agenda ocupada que tinha.

-Obrigado, Aliça! Obrigado por ela... Por mim também. -Eu sorri e apertei suas mãos.

-É isso que fazem os amigos. –Sorri sem abrir a boca, aquele sorriso forçado em um momento de vergonha.

Conversamos sobre o que ele tinha em mente agora que ocuparia o trono depois de seis meses.

-Terei que casar dentro desse prazo, ou pelo contrario... O irmão de meu pai assumirá. –estremeci em pensar que Arthur iria casar-se com outra pessoa. Que talvez ele nem gostasse afinal.

O vento trouxe nuvens carregadas e uma tempestade começou a se formar.

-Precisamos ir, San! –Arthur gritou ficando de pé e me estendendo a mão.

   A escuridão tomou conta da floresta antes que o último de nós montasse.

-San não saia de perto! –Ele gritou. - Aliça? Preciso que você vá à frente.

-Está bem! –Passei à frente tocando na perna de San.  - Vamos chegar logo! –Ela sorriu e consentiu em sinal de confiança.

Andamos por mais meia hora até perceber que já havíamos passado por um mesmo lugar varias vezes.

–San? passe a bolsa, trouxe uma bússola, essa região sempre tem surpresas. –Desci do animal para procurar o objeto na bolsa, senti algo que fez meu corpo estremecer.

-Céus! –meu corpo não suportou e cai sentada perto deles.

-Aliça? O que houve? Aliça?

-Desça e pegue a lanterna na bolsa, Sandy! Rápido!

-Arthur? Ela vai morrer?

-Vai ficar tudo bem, meu amor, pare de chorar. – A última coisa que vi foi San limpando as lágrimas nos olhos.

                           ∞∞∞∞∞∞

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