O melhor é não ligar a tv! –Minha mãe sugeria. Eu já havia banhado para ir à universidade e ela estava sentada à mesa.
-Eu não ia.
-Está tudo bem com você?
-Mas é claro! –Sorri. Botei um pouco de café na xícara e levei à boca.
-Seu pai saiu cedo.
-O carro está aqui?
-Ele levou. Você pode pedir uma carona para um de seus colegas de turma.
-Não precisa, mãe!
-Aliça? –Ela chamou quando eu já havia levantado da mesa.
-Um!
-Você vai a pés?
-Sim! Caminhar sempre faz bem! E além do mais tenho tempo de sobra. –Falei enquanto olhava a hora no relógio de parede. Ela me olhava sem expressão alguma. Como sempre fazia. Minha mãe não é de deixar transparecer nada, eu sei que ela pensa. Mas nunca sei o que é.
Caminhei por algum tempo. As ruas dentro da província eram cheias, o movimento clássico do horário de pico. Pessoas uniformizadas e algumas crianças indo para escola. Ninguém entre dezessete e vinte anos passou por mim. Talvez seja porque com a grana que os universitários possuem, no mínimo andam em um carro do valor de minha casa, comigo e meus pais dentro, é claro.
A Universidade não fica no centro da província. Digamos que seja no meio do nada de uma principal que leva para fora do país. Não tinha medo de andar a pés quando o movimento de pessoas acabava. Na verdade eu até preferia.
Estava com a bolsa de couro, o caderno eletrônico estava dentro. Não posso nem imaginar como seria se eu tivesse que fazer essa mesma trajetória com uns dezesseis livros em mãos
O clima ainda estava agradável, o que não duraria por muito tempo. Em alguns dias o inverno chegaria, e então eu seria obrigada a usar todo o peso de bota e roupas de frio. Tinha esquecido de por o fone de ouvido. Quando me dei conta que de ambos os lados da pista só havia arvores e mata.
Lembrei de algumas vezes que passei por ali com Arthur. O que será que ele estava fazendo nesse momento? Olhei para estrada tentando esquecer os pensamentos. A última coisa que queria era sofrer e remoer algo que já havia acabado. De tanto acreditar que eu não devesse sofrer... Eu não estava. Só o que sentia: um vazio. Um vazio que eu iria preencher de alguma maneira. Me sentia tão pequena em relação a tudo. Eu estava bem em relação a Arthur. Mas em relação a toda minha vida, eu não estava bem.
Andei por mais vinte minutos até poder ver algum movimento da UW. Meus pés estavam exaustos.
Você veio a pés? -Ellen perguntou. Ela me observara desde longe, totalmente incrédula.
-Meu pai precisou de nosso carro, não tive muitas opções.
-Porque não me ligou? Eu buscaria você.
-Claro que eu não pediria isso. -Falei sem graça. -Foi até bom. Já estava sedentária. -Sorri.
-Vamos?
-Aham! -Concordei.
Andamos do jardim onde ela estava até as escadas do portão principal. Muitos jovens entravam e passavam por nós. Eu desviava de todos, já Carter parecia gostar de tocar nos meninos.
-Como está você e o Scaëfer? Digo... O príncipe.
-Não estamos.
-Pare de tentar esconder. -Ela sorriu. -Eu mal posso acreditar que você, minha amiga de classe, seja namorada do futuro rei de nosso continente.
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Império
RandomPara provar que sua classe social não conta o que o futuro lhe reserva. Em um século XX onde o mundo é dividido em quatro. O livro começa com a morte do rei, deixando o país e todo povo em estado de choque, mas nada comparado com o estado de Arthur...