Capítulo 37

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-Você pode esperar na sala principal? –Usei de gentileza.

-Sim. Só precisava saber como você estava.

-Obrigada, Natasha. –Falei o nome entre dentes. –Ela saiu e encostou a porta.

-Senhor? 

-Sim! –Respondi.

-Os procedimentos legais do enterro já estão sendo cumpridos. Preciso saber se o corpo de... –Ele pigarreou. –Da srt.Aliça ficará no jardim real com sua família.

-Minha família. –Arfei. –Família. -Repeti. –Aliça ficará junto com o resto de nós, e seus pais também, porém, escolha um outro local para o sr e sra.Hamkins.

-Está bem. –Ela consentiu e saiu de meu quarto.

O cortejo  ficou marcado para às 8h da próxima manhã. Natasha talvez tenha se magoado com  minha sinceridade, pois nem ela e nem seu pai fizeram questão de ficar no Palácio. Como eu poderia dormir?

Tirei a blusa branca e sentei em minha cama, novamente com o diário de minha irmã em mãos.

DOURADO

02/08/1960

Oi pai!

Não sou mais uma princesa, ao menos por um mês não, Arthur foi atrás de provas que o permitam casar com Aliça... Ops! Você não sabia de tudo isso certo? Não brigue, ele está assumindo tantas responsabilidades, e não vejo ninguém melhor que Aliça Hamkins para acompanhá-lo. Vou ficar sob os olhares da família Hamkins por um tempo, aqui sou tão feliz, na verdade como nunca fui, agora entendo o porquê que ser plebeu é tão mais fácil, porque a felicidade é instantânea. Preciso usar roupas simples e confortáveis, você adoraria me ver assim. Ganhei um balanço no jardim, foi o melhor presente depois da casa de boneca que ganhei de Arthur.

Sinto saudades!

Beijos de sua filha San.

"Família real"

Isso soa como frieza, mas cada palavra me reconfortava com uma intensidade que foi de zero ao cinco. O que não era muito, mas para mim, saber que San foi feliz, aliviava grande parte do vácuo.

Primeiro eu teria que passar por todas as formalidades de um enterro real, e depois trataria de descobrir quem são os culpados por tudo que deixará de existir em meu futuro. Deitei na cama fitando as pessoas la fora. Como elas podem abandonar suas famílias para acompanhar a vida de desconhecidos?

Eu sentia uma espécie de anestesia momentânea. Não sentia mais dor, não sentia raiva. Eu podia sentir o vazio dentro de mim, que era preenchido por nada mais que um vácuo. É difícil confiar nas pessoas. É difícil acreditar em um amor que abandona.

Agarrei o diário de San e fechei os olhos.

                                                   

                                                               ∞∞∞∞∞


-Senhor? -Mit chamou ao lado de minha cama. -Precisamos ir.

-Então não foi um sonho. -Sorri por ironia. Talvez seja melhor dormir, morrer, ao invés de viver a realidade. Ela nos fere e usa de verdades para nos prender aos piores sentimentos que existem.

Banhei sem pressa alguma. Vesti o terno e gravata, afinal, isso causaria menos dor? -Pensei.

Na porta, Mit entregou-me um óculos escuro. Mas a essa altura eu já esquecerá das lições reais.

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