Capítulos 7

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-Cale a boca! Você não pode escolher um momento certo! -Ouvi os gritos baixos de minha mãe, mesmo com a voz alterada.

-E você? Pensa que podemos adiar? E até quando? Você realmente acredita que eles esperariam mais para ter o que é deles por direito? -Meu pai respondeu parecendo perder a paciência.
Eu não entendi, era sete da manhã de sábado, meus pais nunca brigavam, até hoje não, eu me perdi ali. Se existe algo que os tire do sério é o fato de alguém ouvir conversas atrás de portas ou de onde quer que seja. Não tive escolha, não podia perguntar. Voltei para o quarto e peguei a bolsa de couro na escrivaninha, tudo que iria precisar durante o dia.

Sábado é o melhor dia da semana, um dia onde posso ser "EU", onde sou feliz. Meus pais sabem o que faço aos fins das semanas. Papai não se importa, já minha mãe, não gosta nem um pouco. Esse é meu único segredo.

-Mãe? Pai? Estou saindo! -Tenho uma meia certeza que eles ouviram. Peguei a chave da lata e sai. Botei o fone de ouvido no volume máximo e pisei no acelerador. Música Red.

Fiquei desde 8h da manhã às 19h25 da noite no segredo, voltei molhada e suja, um pouco cansada, porém feliz.

Depois de ter banhado joguei-me na cama. E como era bom estar deitada ali. Meu quarto sempre foi meu refúgio, um mundo à parte, é típico... Típico de uma garota de gosto bipolar. Paredes rústicas; o que dar um ar de brutalidade, o piano ao canto e livros que se dividem em duas pilhas.

Sempre economizei nos sapatos e em outros luxos para gastar em livros. Tenho apenas dois pares de sapatos, mas uma mente que precisa ser alimentada.

Duas camas no quarto, embora nunca tenha levado amigo algum para dormir aqui e a tv que é tão fina que quase não daria para notar se não fosse grande. Não uso muito.

Não sou metida, o que não me agrada é a curtição, faminha e como as demais jovens da província são feitas disso. Tenho mais um instrumento; um violão! Ganhei de presente dos meus pais, mesmo sendo assim, o piano é meu preferido, também ganhei de presente, encontrei em uma caixa na porta de minha casa com meu nome e um símbolo que desconheço.

Dormi sem jantar, acordei no horário habitual do meio de semana.

Minha vida é comum e gradativa, não tenho com quem conversar horas, antes ia com mais frequência até o Gramal, era como conversar com meus pensamentos. Será se com a morte do pai, Arthur ia até lá com a mesma intenção que eu?

Apesar de ter sido educado, o príncipe me passou alguma tristeza, não tinha como esconder, novamente lembrei-me da frase... E se ele não estava bem, fingiu bastante. Cortei a enxurrada de pensamentos, levantei da cama, vesti um vestidinho e fui até a cozinha jantar. Meus pais estavam mais calados que o normal.

-Como foi a tarde?

-Muito boa! -Sorri para meu pai e botei uma garfada de comida na boca.

-Não deram falta de você? Foram semanas sem ir até lá.

-Não! Não precisaram de mim.

-Você precisa ser mais discreta. Se algo der errada e você for acusada de apoiar e esconder algo aqui dentro do continente, eu nem sei o que farão com você.

-Pena de morte não é o meio mais usado aqui. -Dei de ombros e sorri. Eu não ligava nem um pouco para riscos. Se algo der errado algum dia... Deu.

-Não brinque, Aliça! -Minha mãe reclamou.

-Mãe? Não brincar com o que? Que se ferrem os protocolos e essa regra de corte horrível. Eles não estão nem ai para vidas individuais! Alguém aqui tem que fazer o trabalho sujo. -A encarei. Ela comia sem me olhar. Era apalpável o medo de minha mãe.

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