Capítulo II

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Para o maldito inferno com Marvolo e todos eles.

"Sua vida agora", ela pensou com raiva, ela não tinha intenção nenhuma de deixar sua vida se transformar nisso, em ser reduzida a uma boneca de porcelana que ora penteavam ora pisavam. Liana ficou tão nervosa que passou quase a madrugada toda caminhando de um lado para o outro naquele quarto. Gilbert finalmente tinha dado as cartas, mas ela não sabia que jogo ele estava jogando. Por algum motivo ele encarregou Marvolo da missão, de conseguir o que ele queria, mas era estranho, algo a dizia que isso não estava nos planos do atual patriarca, que ele estava igualmente sujeito ao filho de alguma forma.

O fato de Marvolo ter ganhado alguma vantagem e estar por perto dela a deixava mais ansiosa do que quando era só Gilbert e Laurel. Como se não fosse suficiente, tinha mais um para lidar, e a volatilidade dele a preocupava. Depois de gastar os tapetes de tanto andar ela finalmente se sentou, e deixou-se afundar na cama. Ela dormiu rapidamente entre os lençóis limpos e aconchegantes.

Ela dormiu profundamente, em seus sonhos, ela viu Hogwarts, o castelo imenso, as torres, as luzes. Ela sentia falta de lá, do único lugar que já se parecera com casa. Mas, em algum momento, ela sentiu como se estivesse sendo sugada para dentro de algo, e a linda paisagem foi substituída por uma sala elegante. Estranhamente, ela sentiu que reconhecia o lugar, embora parecesse tão diferente. As coisas estavam grandes ou era ela quem estava muito pequena? 

Ela sentiu alguém segurar sua mão, e quando olhou para o lado, se deparou com um menininho de cabelo loiro claro, olhos cinzentos...quase prateados...o coração dela parou quando ela viu a semelhança ali, o fantasma dos olhos de David. Mas embora a cor fosse parecida, eram olhos diferentes, frios. O menino mostrou um sorriso predatório, animado, e, como se em resposta, a porta se abriu, revelando dois capangas que arrastavam duas pessoas com eles. As pessoas estavam com os pulsos amarrados, e gritavam. O menininho sorriu em satisfação. Ela assistiu quando o menino tirou a varinha e começou a torturá-los, como parecia absorver a dor deles como uma esponja. Mas o mais assustador foi quando ela viu sua própria mão se levantando, uma mão pequena, de uma criança tão pequena quanto o menino do lado, e ela também começou a torturar as pessoas. Ela sentiu o prazer dentro de si, o prazer de estar acima, de ter poder, de saber que o mundo era seu para fazer o que quisesse.

Liana acordou já de manhã, suando e tremendo. Os gritos ainda ecoavam nos seus ouvidos, mas era a sensação que a apavorou, a prazer quente e predatório de torturar, como se fossem os sentimentos dela.

"Quem eram essas pessoas?", ela se indagou. Algo a dizia que não era um sonho normal.

Liana jogou o corpo debaixo da água quente logo que acordou, apenas para tirar aquela sensação do seu corpo. Não muito depois de sair do banho e se secar ela ouviu um barulho na porta, que se abriu revelando uma empregada com uma bandeja cheia de comida. Ela entrou, colocou a bandeja em cima da mesa, e partiu sem dizer nada, sem nem mesmo olhar na sua direção. Liana olhou para a comida colorida e brilhante, e correu para a mesa. Ela comeu tudo que trouxeram, pães, queijos, bolos, frutas. Assim que ela mastigou o ultimo pedaço de comida a bandeja desapareceu num piscar.

Liana não teve muito o que fazer além de ficar sozinha com seus próprios pensamentos. Ela ficava voltando para o sonho, parecera tão vívido, tão real... quem eram as crianças no sonho...quem era...quem era ela, no sonho? Antes que pudesse chegar a qualquer conclusão tangível ela ouviu uma batida na porta, e seu instinto a disse que era Laurel antes mesmo dele aparecer.

Ela se levantou, ficando numa posição defensiva. Ele entrou no quarto devagar, com Teseu a poucos passos atrás, analisando o quarto.

_Ora – ele exalou – Você deve estar feliz.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora