Capítulo V

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Liana esperou dias. Dias passando pelos testes e tortura de Laurel, pelos jantares ridículos com Marvolo, pelos sonhos que se tornavam cada vez mais caóticos. Ultimamente ele vinha vendo menos memórias e mais lapsos, flashes. Mas ela experenciava toda a raiva, todo desespero, toda frustração. Não bastava que ela mesma já estivesse passando por essa miríade de sentimentos como prisioneira, agora tinha que lidar com os de outra pessoa? Ela ia perder a cabeça naquele ritmo, perdida entre o passado e o presente, entre memória e realidade. Os pensamentos de Leya a invadiam com mais frequência, confundindo sua mente.

Marvolo impressionantemente tinha se desculpado, disse que os chamados "amigos" não voltariam a pisar na mansão. Mas ele não a enganava, ela só não sabia o que exatamente ele queria dela para vir agindo desse jeito. Ela se perguntou se aguentaria mais um mês de jantares sofríveis. Ela estava distraída folheando um livro quando passos soaram e a maçaneta se mexeu.

"Laurel"

Ela começou a colocar o livro de lado quando, para sua surpresa, Teseu apareceu na porta. Ela congelou no lugar, esperando por um sinal de Laurel, mas nada. Apenas Teseu entrou pela porta, carregado dos mesmos materiais que Laurel sempre usava. Ele nem sequer olhou na direção dela conforme se caminhava pelo quarto. Liana o observou preparar as coisas, a cadeira, as ampolas, as seringas, os cabos de choque. Quando terminou ele simplesmente parou a alguns passos da cadeira e olhou dela para Liana e vice-versa.

_O cão veio sem o mestre hoje?

Nada. Teseu nem mesmo piscou.

Ela imaginou quão longe ele iria para cumprir suas ordens. Ela o encarou.

_Não.

Teseu mexeu na cadeira de leve com pé, provavelmente seu jeito de insistir. Ela voltou a menear a cabeça negativamente.

Por um momento, ela pensou que ele simplesmente desistiria. Mas quando ficou claro que ela não iria por vontade própria ele veio até ela. Liana desceu da cama, preparada para se defender, mas quando chegou o momento de reagir, ela simplesmente piscou e no outro instante tinha sido jogada na cama como um pedaço de papel.

Ela nem sequer o viu se mexer direito. Aproveitando da sua confusão, ele fechou as mãos no seu calcanhar e puxou numa só investida. Liana soltou um grito quando seu corpo atravessou toda a extensão da cama e foi jogado como um saco de batata sobre o ombro dele.

Ele a colocou na cadeira e amarrou seus pulsos nos braços. Liana o encarou entre os cabelos jogados sobre seu rosto. Teseu não disse nada e simplesmente começou o processo. Por mais que estivesse com raiva, ela estaria mentindo se dissesse que ele foi tão ruim quanto o irmão. Teseu parecia que tinha muito mais habilidade para mexer com uma seringa do que Laurel. Ele a perfurou com tanta leveza que ela mal sentiu a picada. Ela o observou em silencio.

_Porque o obedece tão cegamente?

Ele a ignorou, como sempre fazia. Liana soltou um suspiro.

_Ele tirou sua vontade de lutar, isso eu entendo – ela admitiu, pensando em como ela mesmo estava cansada – Mas também tirou sua vontade de viver?

Ele reagiu, finalmente. Teseu retirou a seringa com cuidado e pressionou um algodão ali. Ainda agachado, ele suavemente puxou as mangas na camisa. Liana prendeu a respiração quando viu as cicatrizes horrendas, como se suas veias tivessem sido dilaceradas. Com o coração na boca ela o encarou, e o olhar de Teseu a disse que não tinha sido Laurel quem tinha feito isso. Que ele tinha chegado aquele ponto para tentar se libertar. O castigo de Teseu era viver.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora