Capítulo I

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Sete meses depois, Julho de 1892.

Hogwarts.

Último em ano em Hogwarts parecia algo absurdo demais para se processar. Último ano fazendo as refeições no Grande Salão, último vagueando pelo castelo procurando por seus segredos escondidos, último ano frequentando as aulas e observando os primeiro-anistas chegarem. Último ano acompanhando as partidas emocionadas de quadribol, vendo os grifinórios e os sonserinos brigarem entre si nos jogos, último ano de frequentar as festas das casas sempre dada às escondidas.

Hogwarts era sua casa, seu lar, onde ele teve espaço para descobrir quem realmente era, para fazer conexões reais, amigos verdadeiros. Pensar em despedir-se do castelo doía tanto que ele tentava não pensar nisso, mas, com metade do ano se passando, ele não conseguia mais evitar.

Ominis estava deitado sobre a grama, o sol acariciando seu rosto. Ele inspirou o ar limpo, e sentiu o pelo macio de Lila contra seu rosto. Ela sempre deitava no seu rosto. Aquela clareira continuava sendo refúgio, onde ele mais conseguia se sentir em paz...pelo menos sem a companhia de Liana. Com ela, Ominis sentia que provavelmente sentiria paz quase que em qualquer lugar. Ela era a paz dele. E ele sentia sua falta terrivelmente, ao ponto de passar mais e mais tempos com os gatos, que se alguma forma sempre ajudaram com sua solidão.

Ele temia o momento que se despediria de Hogwarts, mas uma parte dele agora ansiava por isso, para que ele pudesse ir ao seu novo lar, até ela. Ele já tinha seus planos em mente, mas era o silêncio de Gilbert que o assustava. Nada depois daquela visita, depois do seu surto, depois de libertar Lya contra sua vontade. O que era nada senão estranho, pois o Gilbert que ele conhecia teria se vingado. O que apenas o dizia que se ele estava fazendo planos, Gilbert também estava. Outra sinal de alarme era o fato dele ter recebido uma carta de Marvolo. Ele ainda se lembrava se segurar a carta nas mãos, contendo o impulso de queimá-la. Por sorte, ele tinha tido o cuidado de mandar a carta em braile.

Ominis no começo tinha muita dificuldade em ler com os olhos.

O mundo parecia outro desde que Lya viera até ele naquela noite. Desde que ele destruíra o medalhão e a maldição de sua mãe. Os primeiros dias foram insuportáveis. Ele não conseguia abrir os olhos por mais do que alguns segundos. A luz era...cegante. Era estranho e desconfortável. Gwen precisou ajudá-lo com o processo. Ele manteve m segredo por alguns dias, indo até a ala médica e tentando abrir os olhos com instrução e cuidado de Gwen para facilitar essa transição.

Mas ele foi flagrado. Nada escapava por muito tempo do olhar astuto de Anne, e ela o seguiu até a enfermaria no terceiro dia. Quando ele piscou, abrindo uma fresta dos olhos, treinando olhar para Gwen, ele ouviu o berro dela. Anne disparou na sua direção afoita, quase tropeçando nos próprios pés. Ela quase se jogou aos seus joelhos, a expressão congelada num choque descrente, os olhos de corça arregalados. Ele a viu. Pela primeira vez.

Mesmo pela fresta aberta, ele viu o rosto arredondado, o nariz delicado, os olhos tão afetuosos e brilhantes, castanhos como avelãs, o pequeno mar de sardas pelo rosto. Aquilo o emocionou, vê-la pela primeira vez, e ainda, pela milésima. Ele ficou surpreso como a reconheceu, como a energia continuava palpável. Ela olhou diretamente nos seus olhos e eles marejaram, Anne levou as mãos até a boca no espanto.

_Ominis!

_Anne... – ele levou a mão até ela e tocou sua bochecha.

Ela abriu um sorriso e pulou nele, um abraço tão quente e afetuoso, igual a todos os outros, a mesma energia reconfortante despejando para ele.

Depois disso virou uma onda. Ele não conseguiu esconder mais, e contou a verdade para todos. Que tinha descoberto que sua cegueira era resultado de uma maldição, uma que ele tinha quebrado. Todos pareceram confusos com tal explicação, e ele não os culpava. Ominis tinha omitido toda a história, e tinha seus motivos para isso. Ele já sentia a pena dos amigos quando era cego, e quando sabiam somente do seu passado sem levar em consideração sua mãe, ele não conseguia imaginar-se suportando os olhares de compaixão, de horror. Ele se sentiu no direito de manter a tragédia de sua mãe para ele mesmo.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora