Capítulo XIII

53 4 0
                                    


Teseu riu quando ela o contou.

Aquilo não tinha ocorrido como ela esperava. Após ter afirmado alto e claro suas intenções, Liana foi rechaçada por Margerie, que a chamou de louca no que pareceu três línguas diferentes e a ameaçou, se Liana tentasse as envolver no seu plano suicida ela seria a primeira a contar sobre os planos dela para os guardas.

Ela o chutou, mas ele continuou rindo. Talvez ela tivesse se empolgado mais do que deveria. Mas ela ficou dividida entre o choque em ver uma risada no rosto daquele menino e a vergonha por ter lidado mal com a situação. Principalmente porque Teseu tinha feito a sua parte brilhantemente. Mas Teseu jogou a cabeça para trás e emitiu uma gargalhada que praticamente parou todos ao redor. Ela também ficou surpresa, era a primeira vez que ouvia um sinal da sua voz. Eles tinham combinado de ganhar a confiança de seus grupos, e enquanto Teseu tinha cumprido sua parte, Liana...Bem, ela deu um tiro no pé. Ela subestimou quão forte já era a influência de Margerie, e a determinação dela em servir.

_Tá bom, bonito – ela reclamou, o rosto esquentando – Como você fez, então?

Teseu parou um pouco de rir e apontou na direção de um homem passando. Eles estavam no que era o horário de almoço, uma hora de relativa paz já que eles podiam se mover a vontade pelo salão. Liana observou um homem não muito mais velho do que eles, ele deveria estar na casa dos vinte, um homem forte e encorpado, andando cabisbaixo para tentar esconder o enorme hematoma no seu rosto. Liana o encarou descrente.

_É isso? Você derrota o mais forte e agora é o líder? – Teseu assentiu – Sério? Qual a diferença entre vocês e um bando de gorilas?

Teseu levou o dedo até o chão imundo suficiente para que pudesse traçar palavras nele, e escreveu "Gorilas são mais inteligentes".

Agora ela riu um pouco.

_Que droga, não é justo.

Teseu passou a mão pelo chão arenoso, apagando as letras, e voltou a escrever com o dedo.

"Elas ainda estão olhando. Porque não conta histórias de Hogwarts?".

Liana não precisava olhar para saber, ela podia sentir os olhares concentrados. Ela pensou por um instante, ele estava certo, ela tinha mais chances de ganhar a confiança delas lhes contando sobre o mundo que não conheciam, que foi roubado delas, do que tentando pressionar uma revolução na vida delas. Mas havia outra coisa que ela podia explorar ao seu favor...

Liana já tinha passado muito tempo com Sebastian Sallow para saber o que era andar do lado de um galã. Ela tinha percebido os longos olhares, os suspiros. Nem mesmo Margerie parecia imune. Diferente de Sebastian, que era charmoso e paquerador, Teseu era uma espécie de estátua grega, extremamente definida, estoica e distante. Impressionante como certas coisas não mudavam numa escola ou numa prisão, um garoto bonito como Teseu podia mudar a dinâmica de qualquer ambiente que entrasse.

Mas ela decidiu apostar nas histórias.

Ela manteve os olhos bem abertos pelo primeiro dia. Eles a desertaram com o nascer do sol, e receberam porções de comida no quarto. Um pão e uma maçã. Elas tinham por volta de dez minutos para comer e estarem prontas e enfileiradas. Depois disso, foram encaminhadas pelos corredores fantasmagóricos do castelo um pouco em ruínas. Eles as levaram até uma sala relativamente pequena, e Liana observou que haviam erguido uma tenda ali. Ela compreendeu rapidamente, um feitiço de expansão. Aquilo ia assustar as recém-chegadas, mas Margerie as acompanhou por todo o processo. Quando passaram pela tenda e se depararam com algo que só podia ser descrito como uma fábrica gigantesca, Leila gritou com o susto. Lá embaixo, em uma seção separada por enormes fendas, os homens já trabalhavam. Uma fábrica movida à magia. As meninas mais velhas desceram para seus postos, enquanto as mais novas foram levadas a outra sala. Eles as sentaram em cadeiras bem distantes, e Carl, o comandante do castelo, já as esperava. Foi ali que passaram duas horas sendo instruídas sobre o funcionamento da fabrica e os feitiços mais básicos. Liana percebeu que eles os mantinham bem separados, nenhum grupo tinha mais de cinco pessoas, isso, pois eles lhes davam varinhas para confecção dos materiais. Enquanto sobre o trabalho, eram vigiadas por cerca de sete ou oito bruxos, uma forma de mantê-los contidos caso algum deles decidisse usar a varinha contra um dos bruxos.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora