Capítulo XVI

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Quando a pequena elfa os encontrou, o pior já tinha passado. Teseu estaria mentindo se dissesse que não ficou chocado quando a viu. Ela surgiu como outra pessoa, vestida num robe arroxeado de tecido luxuoso e com brincos, argolas prateadas pendendo das orelhas enormes. Todos sabiam o que aquela visão significava. Ela estava livre.

Mas não houve momento decente para comemoração.

Ela mesma perdeu o brilho e o sorriso quando Teseu a mostrou a realidade da situação, quando ele a levou até a cama onde ela permanecia.

Ainda mais uma vez, Liana Dixon lutava contra a morte.

Silver...não. Aquele nome era passado. Lya, esse era seu verdadeiro nome. Ela se aproximou devagar da cama, a pequena mão ao rosto de Liana.

_O que aconteceu? – ela indagou.

Teseu esforçou-se para não perder a compostura, mas sentia o suor se acumulando na palma das mãos.

_É uma longa história... – a resposta veio de outra pessoa. Teseu não conseguiria falar nem se quisesse.

Lya a observou com curiosidade nos olhos azuis. A moça que permanecia sentada ao lado de Liana, o cabelo castanho preso em uma trança curta, olhos de mel e feição madura. Margerie permanecia junto com Teseu na observação.

Tinha começado com uma morte.

James.

Depois disso, o que se seguiu foi caos. Liana falhou em organizar e liderar uma fuga e uma rebelião. O que aconteceu foi simplesmente um surto de violência. Mas, depois que Margerie derrubou o comandante, os demais prisioneiros também deixaram que a sede de sangue os consumisse.

Liana entre eles. Algo aconteceu naquele castelo. Uma nuvem sombria sobre os prisioneiros, sobre aqueles que tinham suportado muito mais do que deveriam, toda perseguição, humilhação e desespero romperam como uma represa. Ela, principalmente, que já não estava num estado mental saudável, quando viu o corpo de James caído, sua mente começou a traí-la. Ela estava sobre os escombros da escola, e David caído ao sopé da árvore, a flecha atravessada pelo seu coração, e o arco nas suas mãos. Ela saiu num frenesi, entre o mar de prisioneiros enlouquecidos, eles se moveram como um tsunami que não podia mais ser contido. Armados de nada além de cacos de vidros e pedaços de pau, eles romperam. Liana quebrou, torceu e rasgou tudo que se pôs no seu caminho. Os rostos eram sempre do seu pai e de Laurel.

Os bruxos tentaram conter, mas mesmo com a magia ao seu lado não foi o suficiente, eles estavam em número menor, e os prisioneiros avançavam sem parar.

Nesse avanço cego e violento, muitas vidas foram perdidas. Mas mesmo quando um deles era atingido pela maldição da morte, nada mais serviu para os aterrorizar, cada um caído apenas inflamava mais o ódio já condensado, e eles avançavam ainda mais violentamente. Mesmo que um bruxo derrubasse três antes de chegar até ele, uma hora não conseguia mais acertar todos ao mesmo tempo, e acabava com um furo na barriga ou uma garganta rasgada. Os bruxos não duraram muito, não em frente aquela torrente imparável, mas mesmo poucos, eles levaram muitos consigo.

Dezoito almas foram perdidas naquele caos.

Dezoito pessoas, dezoito bruxos que não viveriam para descobrir o que era o mundo mágico, ou sequer o mundo, fora daquelas muralhas. Das cinquenta e sete pessoas presas ali, apenas trinta e nove saíram com vida.

Quando eles já estavam sobre o portão, que Liana derrubou a força, munida de uma varinha que tinha pego no caminho. Ela tentou instrui-los a fazer o mesmo, a repetir os mesmos encantamentos que ela, mas poucos estavam prestando atenção e menos ainda se sentiram dispostos a pegar numa varinha. Liana explodiu o maldito portão, e urrou para que eles corressem. E eles foram, saíram desesperados, quase se atropelando. Foi quando ela ouviu um grasnado. Ela se virou pálida na direção da coruja. O rapaz que tinha sido enviado pelo comandante. Se aquela carta chegasse a Gilbert ela estaria morta, ela e todos eles. Sua fuga teria sido para nada, eles seriam imediatamente caçados.

Lealdade & Ambição - Legados de Sangue / Ominis GauntOnde histórias criam vida. Descubra agora